quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Who are you?!

And who do you think you are? Running around leaving scars, collecting a jar of hearts?!
- Christina Perri, in Jar of hearts

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sobre o luto

"Não me digam que isso passa,
não me digam que a vida continua,
que o tempo ajuda,
que afinal tenho filhos e amigos
e um trabalho a fazer. [...]
Não me consolem:
da minha dor, sei eu".

- Lya Luft, in O lado fatal. 3a ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. 97p.

domingo, 18 de novembro de 2012

Velhice: um caleidoscópio flutuante à beira do abismo

"Assim, se a velhice é apresentada por muitos estudos como um fenômeno passível de ser estudado e compreendido de formas distintas, pode ser metaforizada como um caleidoscópio, aparelho óptico construído a partir de fragmentos de vidros que tomam formas distintas conforme o movimento a que é submetido. A própria velhice representa essa fragilidade da composição do caleidoscópio, composto por fragmentos de vidro, sendo ela um fenômeno ao qual poucos admitem chegar. A pesquisa de Torres (2010) representa isto de forma consistente: para seus entrevistados idosos, a velhice está pelo menos há dez anos do sujeito que fala sobre ela. “As pessoas não querem envelhecer, nem querem ser idosas, por isso não se reconhecem como membros deste grupo” (TORRES, 2010, p. 216). E se a vida fosse um grande mar a que cada sujeito se lança, num constante processo de envelheSER, estar em uma instituição pode ser comparado a flutuar sobre o caleidoscópio da velhice muito próximo a um abismo, a própria morte iminente ao cotidiano institucional".

- In BALDIN & MAGNABOSCO-MARTINS, 2012, p. 30.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Indecisão

Como o termo já diz... Cisão. Decidir é uma cisão. É colocar as situações conforme duas partes e precisar optar por uma delas. Isto causa a indeCISÃO. Mas já decidi. E então CHEGA de ameaças. É permitido chorar, ficar triste, se zangar. Mas foi você quem escolheu ficar. Assuma os compromissos que escolheu. Pare de reclamar. Resolva as coisas de forma adulta. Chega de mentiras para si, chega de justificativas. Tudo já está ruim o suficiente. Não piore. E não diga que quanto mais avança, mais o navio afunda. É você quem carrega diariamente as novas pedras.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um pouco como tu...

Nessa altura sou como tu. Debaixo da terra. Olhos seixos que não vêem nada. Não vêem nada.

domingo, 11 de novembro de 2012

Proje(ta)ção

Se você quer conhecer o deus de um povo, olhe para seu demônio (Gregory Motton).

Fale, doutor.

Eu também perdi a minha. Há muito tempo. É por isso que estou aqui. Desisti de tudo para estar onde você me vê agora. À medida em que envelhecemos tornamos impossível para nós mesmos ver ou ouvir qualquer coisa nova. Todos os dias são arquivados como coisas familiares pra você. Você sente, você sabe, você conhece seu caminho na vida, até o ponto em que finalmente percebe que está há muito tempo entregue à decadência, trabalhou arduamente, ajustou a si mesmo para se convencer de seu próprio jogo. Desesperadamente se convenceu a manter o navio no rumo, este rumo atravessa a vida sem tocá-la e a vida a ela mesma. Você a deixou para trás espalhada pela paisagem do seu passado não vivido e quanto mais você avança mais o seu navio afunda. Feche os seus olhos, fique numa perna só. Sólido como uma rocha.
 
- Gregory Motton, in A terrível voz de Satã.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Partículas do Grande Sertão

Coração de gente — o escuro, escuros.
Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.
No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço! 
Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de
estar próximo.
Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.
O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.
Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.
(...)
Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.
O que lembro, tenho. 
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.  
Quem mói no asp'ro não fantaseia. 
Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o
sentir da gente. 
Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.
Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?
Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores.
Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.
Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.
Toda saudade é uma espécie de velhice.
Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.
Tudo é e não é.
Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.
Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias.
O sertão é do tamanho do mundo.
Sertão é dentro da gente.
O sertão é sem lugar. 
O sertão é uma espera enorme.
Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.
A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.
A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver.
Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso.
Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.
Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
Feito flecha, feito fogo, feito faca.
Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.
Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília. // Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor.

- Guimarães Rosa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Gritos em silêncio

A ambivalência de uma tentativa de suicídio só pode ser vista pelo grito de socorro que sucede (e certamente antecede) o ato. Vozes roucas que não se calaram e que, portanto, podem se fazer ouvir, porque "viver é muito perigoso; e não é não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir é o do sentente e o outro é o do sentidor" (Rosa, 1994, p. 439).