sábado, 29 de junho de 2013

Sobre a loucura do mundo

O eu do homem moderno adquiriu sua forma no impasse dialético da bela alma que não reconhece a própria razão de seu ser na desordem que ela denuncia ao mundo.

- LACAN, J. In Escritos, 1998, p. 283.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Fim dos tempos

No princípio eram só as mentiras. Depois elas começaram a ser descobertas. E logo, logo, todos já sabiam de tudo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Dilemas morais

O pior é a hesitação.
Você ali, de pé. Indo e voltando. Querendo e hesitando e querendo de novo. Dois, três, cinco, dez minutos. E você lá encarando como se fosse a sua consciência. Um dilema moral. Até que você ajoelha. E agora é um outro dilema. Mãos na nuca, cabelos presos. Hesitação. Mão na boca, trêmula, incerta. Olhos ao fundo, sem motivação. Até que se decide.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pequenas liturgias

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

 - Caio Fernando Abreu, in Pequenas Epifanias.

sábado, 22 de junho de 2013

Sobre a esperança



"O medo do fracasso atormenta muitas pessoas, e não apenas aqueles que têm problemas com drogas, álcool, e transtornos alimentares. Interromper nossos vícios ou comportamentos, não resolve todos os nossos problemas, mas nos permitem ter uma imagem realista de nossas qualidades. Conhecer nossas qualidades e aceitá-las nos proporciona a confiança que precisamos para encararmos um projeto, para lutarmos por um objetivo. Outra vantagem da recuperação é a ajuda disponível dos nossos grupos de apoio e nosso Poder Superior. Todas as coisas se tornam possíveis quando entendemos que não estamos sozinhos. Vendo outras pessoas se esforçando e conseguindo ou lutando, falhando, se esforçando mais uma vez, sem se dar por vencidas, cria um fluxo de energia que pode estimular-nos, se nós assim escolhemos. Sentir-se bem com as realizações dos outros pode motivar a cada um de nós."
- Fran Haag.

domingo, 16 de junho de 2013

Viajante


Lá fora eu alço voo livre e aqui dentro eu perco o sol...
- Si{mon}ami.

domingo, 9 de junho de 2013

Leite azedo


Pra ver se aqui dentro eu desapareço...

 - Si{mon}ami, in Leite azedo.

Para além do espelho

Hoje, mais uma vez eu acordei querendo ser outra coisa, para além daquilo que consigo ver no espelho. Mais uma vez eu não consegui me amar do jeito que via, mas ao menos fui capaz de aceitar que esta é a única forma que posso ser neste momento - e que é preciso encarar de frente, sabendo que não é tão mal assim.
Mais um dia passando e eu pensando no quanto isso tudo que tem aqui dentro de mim me machuca, faz mal,  satura e ao mesmo tempo não é suficiente. Mais uma vez a impressão que eu tenho é de que algo ali dentro, apesar de todas as negligências e exigências, ainda quer chamar atenção, quer dizer "ei, olha que coisa linda há aqui dentro, só para você". Mas eu não consigo ver. Porque me olho e sei que não posso confiar no que vejo, pois é falso, não sou eu. É outro. É um desejo - é além do que eu posso conseguir ser.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Por você

Ela era uma menina com seus sonhos. Experiências fechadas em uma embrulho de papel colorido e fita crepe. Tantas e tantas vezes permitiu que falassem por si, tantas e tantas vezes deixou que calassem sua boca como se fecha o zíper de uma bolsa, o botão de uma rosa - forçada, pressionada. Mas não minta agora, ah, agora não, por favor, princesa. Nós sabemos que os tempos estão difíceis para você, todos nós sabemos. Sabemos também que quando as coisas apertam tanto que parece que você vai estourar e desmontar você coloca um par de tênis e tenta fugir do mundo, você pega a bicicleta e se torna uma garota com seus tênis ou com sua bicicleta. Mas não minta que correu demais, não negue que correu velozmente, até as lágrimas embaçarem as lentes de contato, não vá fingir que não percebeu as gotas que voavam, pequenas gotículas de gelo, de seus olhos para trás, se partindo no asfalto. Não, por favor, meu bem, não negue mais que toda essa preocupação com o peso, contas infinitas de calorias e mais calorias, não é uma tentativa desesperada de emagrecer até diminuir, diminuir, até sumir. Também, não tente dizer que todas as tuas palavras não foram delicadamente cuidadas, que não houveram longas horas de soluços, e que mesmo quando você liga só para dizer que os ama não quer dizer também que precisa que se importem mais e mais... Um pouquinho mais. Que você precisa disto agora, que você não pode mais continuar com teus segredos, com tuas mentiras, com teus disfarces de garota feliz. Somente desta vez, apenas agora, princesa, se recuse a usar a máscara sorridente, recuse-se a erguer a cabeça e mostrar para o mundo que não importa o que aconteça você continuará sempre forte, em pé. Deixe-se abater, por favor, por você. Deixe-se derrubar, contarem ao menos uma vez com tua imprevisibilidade. Mostre-lhes algo que eles não sabem. Mas não desista. De forma alguma estou te pedindo para desistir. Não, nunca. Eu sei que o barco está furado e sei que você também sabe, mas continue remando. Porque te ver remando os incentiva a remarem também. Mas reme diferente. Entregue as pontas para construir um novo começo. Entregue as cartas do jogo antes de perder todas para o destino. Amarre-se com paixão àquele pedacinho de felicidade que ainda consegues ver no brilho dos olhos dos velhinhos, na covinha do cantinho do sorriso do teu irmão. Queira ser você, mostrar você, amar você. Não, não desista. Persista - por você.

Sobre amores que consomem

Nina não sabia até então como uma palavra como "orgulho" poderia mexer com alguém, mas foi o que aconteceu com ela, e compreendeu o amor de uma forma que não entendia antes, na forma do amor que tudo consome.
Ela sabia que isso mudaria sua vida, essa compreensão do amor; ela não podia imaginar viver sem isso - sem elas - novamente. E ela sabia, também, que havia mais amor lá fora, esperando por ela.

- Kristin Hannah, in Jardim de Inverno, p. 397.

Sobre viver cada momento

Mamãe sorriu e, se havia uma sombra de tristeza em seus olhos, uma lembrança das palavras "eu vou encontrar você lá", era algo de se esperar, e isso foi suavizado pela alegria na voz dela. E talvez assim as coisas devessem ser, a forma como a vida se desdobra quando você a viveu o suficiente. Alegria e tristeza eram parte do pacote; o truque, talvez, fosse permitir-se sentir tudo, mas agarrar-se à alegria um pouquinho mais, porque nunca se sabe quando um coração forte pode desistir.

- Kristin Hannah, in Jardim de Inverno, p. 408.

Sobre o adeus

 - Eu amo você, Mama - eu digo. Não são o bastante, essas três palavras que subitamente significam adeus, e não estou pronta para o adeus. Então, continuo falando. Eu a mantenho por perto e digo:  - Lembra quando você me ensinou a fazer borscht, Mama? E nós discutimos de que tamanho era preciso cortar as cebolas e por que deviam ser cozidas antes? Você fez uma panela e colocou os legumes crus para eu perceber a diferença? E você então sorriu para mim, tocou meu rosto e disse: "Não esqueça o quanto eu sei, Verushka". Eu ainda não terminei de aprender com você...

- Kristin Hannah, in Jardim de Inverno, p. 342.

domingo, 2 de junho de 2013

Sobre coisas importantes

Depois disso a família de Vera mudou. Ninguém mais sorri, ninguém mais ri. Ela e a mãe e a irmã tentam fingir que tudo vai melhorar, mas ninguém acredita nisso.
O reino continua lindo, ainda é uma cidade branca, murada e cheia de pontes e torres e rios mágicos, mas Vera a vê agora de forma diferente. Ela vê sombras onde antes havia luz, medo onde antes havia amor. Antes, o som de estudantes rindo em uma morna noite branca podia fazer com que chorasse com anseios. Agora, ela sabe pelo que vale a pena chorar.

 - Kristin Hannah, in Jardim de Inverno, p. 186.

sábado, 1 de junho de 2013

Sobre a morte e a sobrevivência

 - ... ela lamenta a perda do pai, que foi aprisionado na torre vermelha pelo Cavaleiro Negro, mas a vida continua. Essa é uma lição terrível, terrível, que toda garota deve aprender. Os cisnes nas lagoas do jardim do castelo ainda precisam ser alimentados, e continua havendo noites brancas de verão, quando as damas e cavalheiros se encontram de manhã para caminhar pelas margens dos rios. Ela não sabe como um inverno pode ser duro, como as rosas podem congelar em um instante e cair no chão, como as meninas podem aprender a segurar o fogo em suas pálidas mãos brancas...

- Kristen Hannah, In Jardim de Inverno, p. 143.

Sobre mentiras piedosas

 - Você está bem?
Ela quis dizer que não, quis gritar isso, talvez até começar a chorar, mas de que adiantaria? A parte pior de tudo era que Jeff sabia; ele estava com aquele olhar triste outra vez, o olhar de estou-esperando-que-você-precise-de-mim. Se dissesse a verdade, ele seguraria sua mão e a beijaria e diria que estava fazendo a coisa certa. E aí ela realmente desabaria.
 - Estou bem.

- Kristen Hannah, in Jardim de Inverno, p. 128.

Sobre amores desiguais

 - Eu amo você assim - ele disse suavemente.
Nina queria que isso a fizesse se sentir melhor, mas não fez. Sabia sobre o amor desigual, como era possível ser esmagada por dentro se uma pessoa amava mais do que a outra. Já não tinha visto esse tipo de devastação nos olhos do pai quando olhava para a mãe? Estava certa de que sim. E, uma vez que se via esse tipo de dor, não se esquecia mais. Se Danny a olhasse assim algum dia, isso partiria seu coração. E ele faria isso. Cedo ou tarde, ele perceberia que ela podia ter amado o pai, mas era mais parecida com a mãe.

 - Kristin Hannah, in Jardim de Inverno, p. 107.

Carinho de mãe

E a gente só percebe o quanto tem a família mais linda do mundo, embora todos os problemas e complicações, quando sua mãe diz coisas assim...

"Estou muito feliz em te ver assim vivendo a vida intensamente. Muito me orgulha! E chegada a hora, do fundo do meu coração te desejo sucesso e muitas felicidades neste e em muitos outros que fizer".

Amo demais, todos vocês! *--*
São minha mais preciosa inspiração!