terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Pontinhos de luz na tempestade

Ontem fui à nutricionista novamente, morrendo de vergonha da catástrofe que foi minha semana, dos excessos, das faltas, dos vômitos forçados, dos chocolates descontados. E claro que uma das primeiras foi a maldita pergunta, que na verdade é uma informação "vamos pesar?!" e a resposta, ok, mas eu não quero saber. No entanto, ela disse que meu resultado tinha sido excelente (menos 2 kg). Aí eu quis saber, porque precisava de alguma notícia boa em meio a um dia ruim de uma semana péssima. Até chorar eu chorei, contanto da fatalidade do final de semana, dizendo que estava me sentindo arrasada, que não estava bem mesmo. Mas ela foi uma querida, acolheu e trocou de assunto, talvez por não querer mexer onde não daria conta, o que foi muito sensato de sua parte, e ainda assim sem perder a sensibilidade ou me deixar sem retorno. Foi ela quem perguntou se eu havia vomitado em meio a isso tudo e eu não disse que não, jurei para mim mesma que seria honesta, e ela sorriu e disse "ok, mas você sabe que isto te faz mal, não sabe? E não deixe de me dizer se acontecer, tudo bem?". Sim, eu prometi e jurei que tentaria e que já estava tentando. Vai ficar tudo bem!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Para dizer adeus

Me peguei dizendo que a vida é muito injusta. E disse isto porque você se foi. Na tarde de hoje, nosso Giuliano se foi, e digo “nosso”, porque você era de todo mundo, querido por todo mundo. Você que tinha esse jeitinho deliciado todo seu de dizer “querida, tira esse vestido e taca fogo, por favor!”, ou seu riso engraçado de no alto do seu 1m90 dizer que está tão gordo que está saindo sangue do nariz de tão apertada que está a sua calça jeans, você que tinha um jeitinho irônico e nada leviano de brincar com as “sacanagens” que dizia ter feito com seus alunos. Mas talvez meu caro, e só talvez, a vida não tenha sido injusta contigo, embora tenha sido curta, e só tu saibas a dimensão disto. Eu sei que digo isso agora porque estou zangada e queria que você estivesse conosco para terminar os artigos do projeto no ano que vem, porque queria ter toda essa sua simpatia bailando pelo salão de meu baile de formatura, porque queria mais uma vez ser convidada a fazer fragmentos célebres de dramaturgos em suas aulas, porque queria que você terminasse a brilhante tese do doutorado. Porque eu queria poder te contar que fui aprovada no mestrado, dizer isso para você que torcia por mim! Eu sei que nunca mais conseguirei ler Zizek da mesma forma depois deste dia e é incrível que no mesmo momento em que recebi a notícia da sua morte estivesse com “Como ler Lacan” aberto na tela do meu computador, lembrando daquela aula fantástica na disciplina de Lacan neste ano. Por que não poderemos trocar figurinhas sobre materialismo dialético enquanto estiver escrevendo minha dissertação? O que eu faço com teu nome na lista de convidados do meu baile de formatura?
Ou talvez essas lágrimas sejam porque eu me dei conta só agora, e me pergunto como seria se fosse comigo, de que a vida é frágil. De que nosso corpo é uma taça de vidro fino, é um nada frágil, fraco, quebrável. E que a gente sequer pode escolher ficar mais um pouco. Lembro que quando vi a notícia de duas meninas que morreram no dia seguinte à apresentação do TCC, aguardando ansiosas pela formatura, assim como eu, eu brinquei com as pessoas dizendo que se eu morresse eu ia chegar para São Pedro e dizer “ah, não, São Pedro, o senhor faça o favor de me deixar voltar até a minha formatura”! Mas eu sei que não poderia escolher, que não estaria em minhas mãos e que, portanto, eu também não poderia dizer adeus.
É profe, acho que você deixou marcas por aqui que não poderão ser apagadas. E eu espero mesmo, do fundo do meu coração, que você também acredite que a vida foi justa o suficiente contigo, mesmo tendo sido curta. Ou melhor, que ela só tenha sido curta para nós, meu caro. Somente para nós.

domingo, 29 de dezembro de 2013

O inferno são os outros - e nosso céu também

O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.

 - Marco Polo, in PELBART, Cidade, lugar do possível.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Como chuva, que corre



Depois de uma sequência de dias catastróficos, hoje eu consegui comer direito, sem excessos nem vômitos. E como chego à noite me sentindo bem! Me pesei hoje, na farmácia... Eu sei que não deveria fazer isto, mas fiz e sei que os resultados só não foram piores porque eu vomitei três, quatro vezes ao dia. Mas não quero mais isto! Sei que não quero continuar nesses ciclos intermináveis de comer-vomitar e no dia seguinte sentir enjoo, cansaço, dores abdominais. Não quero e não quero! Como é ruim saber que eu amo correr, ver pular na minha cabeça que quero correr uma hora e vinte minutos, para compensar as extravagâncias, e quase morrer com 40 minutos. Já hoje, eu caminhei um monte, fiz zilhões de coisas, mas podia correr até o fim do mundo! É isso que eu quero, é em prol disto que estou lutando, é isto que eu quero ser. É isto que VOU SER, que sou.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Novos ventos

Dei uma sumida!
Pois bem... A faculdade acabou, mudei de cidade e voltei a morar na cidade e na casa dos meus pais, precisei amontoar as poucas roupas que sobraram em uma cômoda minúscula, junto com as fotografias dos colegas da graduação, ganhei um peixe e arrumei um emprego. Ah, e sim! Fui à nutricionista!
A primeira impressão foi confusa... Eu havia vomitado nas duas noites anteriores à ida à consulta e realmente havia exagerado no jantar. Comi bolinhos fritos em ambos os dias. Não deu outra! Pesei 64,1 Kg na balança dela (com roupa, a tarde) e fiquei decepcionadíssima! Eu engordei! Claro que isto abriria mil e uma maluquices na minha cabeça... Minha mãe forçando a barra de um lado e a nutricionista do outro dizendo que eu estou quatro quilos acima do meu peso ideal?! Foi motivo suficiente para eu fechar a boca e não comer por três dias seguidos. Mas usei do bom senso. Peguei a folha impressa com minha prescrição e disse a mim mesma, "ok! Eu posso fazer isto!". E foi o que fiz. Mesmo achando ela maluca por querer emagrecer 4 quilos e precisar comer muito mais do que eu estava acostumada a comer. Mas fui ao mercado e comprei todas aquelas prescrições: castanha do pará, gengibre, trigo em grão, grão de bico, azeite de oliva, proteína de soja, frutas, legumes. Não mudou muito o conteúdo, mas a forma de comer sim! São umas sete refeições ao dia e estou conseguindo fazer pelo menos umas cinco, já que o trabalho dificulta um pouco minha disponibilidade de tempo, mas estou encarando... Essas balanças de farmácia não são muito confiáveis, mas hoje pela manhã pesei 60,1 Kg, ou seja, 4 quilos a menos que três dias atrás. Porém hoje tive muita vontade de doce e comi duas colheradas de leite condensado do chocolate do meu irmão. Cuspi a terceira antes de engolir. Ontem também fiz isso com o risoto da minha mãe. Minha meta para os próximos 10 dias, já que a próxima consulta é dia 30, é de comer conforme a listinha, mesmo tendo o Natal aí no meio, e não vomitar nenhuma vez. Bora tentar?!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Sobre os segredos da vida

- (...) Não tem nada de nada aqui.Marina me deu uma olhada que não consegui decifrar. - Está enganado. Aqui estão as lembranças de centenas de pessoas, suas vidas, seus sentimentos, suas ilusões, sua ausência, os sonhos que nunca conseguiram realizar, as decepções, os enganos e os amores não correspondidos que envenenaram suas vidas... Tudo isto está aqui, preso para sempre.Olhei para ela intrigado e um tanto intimidado, embora não soubesse exatamente o que estava falando. Fosse como fosse, era importante para ela. - Ninguém entende nada da vida enquanto não entender a morte - acrescentou Marina.

- Carlos Ruiz Zafón, in Marina.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre os mistérios da alma

Marina me disse que a gente só se lembra do que nunca aconteceu. Ainda ia se passar uma eternidade antes que eu pudesse compreender essas palavras. (...) Na época não sabia que, cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele. (...) Todos temos um segredo trancado a sete chaves no sótão da alma.

- Carlos Ruiz Zafón, in Marina, p. 7-8.

Primeiro ano sem você

Um ano sem você. E parece que foi ontem. Primeiro ano sem teu cheiro no ar a todas as minhas idas para casa. Primeiro ano sem doces de presente na Páscoa e em meu aniversário. Sem você me perguntar porque emagreci tanto, sem perguntar se estou doente, se preciso de algo, quando a faculdade vai acabar. Pois é, minha querida, acabou. Acabou a faculdade e não vais festejar comigo, não vais me acompanhar no baile de formatura, se orgulhar de tua única neta se formar. Não vais poder me chamar de "doutora" nem perguntar o que mesmo uma psicóloga faz. Foi-se este primeiro ano sem uma ligação no meu aniversário, sem uma xícara bonita de presente, sem dinheiro extra surgindo na minha poupança. Um ano sem você. Sem um nós, sem um a gente, um ano com um integrante a menos na família. Sem teus cabelos incrivelmente brancos, teus olhos verde-água iguais aos meus, teus sorrisos coloridos. Um ano que se vai - sem você. E de tudo que se vai, desta coleção imensa de perdas, fica a certeza de que onde quer que estejas, estás presente. No céu brilha a tua estrela. Hoje, eu tenho certeza. Continuo amando-a incomensuravelmente!

Crime e castigo

No dia em que completei 16 anos, descobri que tinha ódio de mim mesma e mal conseguia suportar minha imagem no espelho. Parei de comer. Meu corpo me causava nojo e tentava ocultá-lo sob roupas sujas e esfarrapadas. Um dia, encontrei uma velha lama de barbear no lixo e adquiri o hábito de me cortar nas mãos e nos braços. Para me castigar. Tatiana curava as feridas em silêncio, todas as noites.

- Carlos Ruiz Zafón, in Marina, p. 143.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Marés

Olha, eu desintegrei a Terra. Não, não chamei por ninguém enquanto trazia pedras novas. Também não dissera que faria sozinha. Ah, não. Não vieram. Ninguém. Era eu e o tempo, era eu e a velha vida, era eu e. Olha, não olha. Ouve. Sei de tudo o que sei que não sei. Somos tudo o que não pensamos. Somos as sombras, os galhos, os troncos inteiros. Desintegrei a Terra, mas esqueci de desgalhar as árvores. As raízes ficaram. Trarás gotas de água, terás orvalho na primavera, neve no inverno? Serás aquilo que nasceu para ser, fazer, crescer? Não, não sei a quem olhas. Mas não segues-me no vento - ele falha; não gritas pelas sombras - elas se transformam; não confias nas marés - elas desaguam. Em outros mares. E por fim restamos eu e tu. Tu e eu, e tudo o que eu queria dizer.

Sobre o futuro

"Eu podia ser a ternura
Sem desejo, beijo, nem sexo
Ser somente a história mais pura
Mas eu tô falando de amor".
 - Leoni, in Falando de Amor.

Talvez eu pudesse ser toda ou qualquer coisa, cujo único nome é incerteza.
Talvez eu buscasse as respostas em castelos de cartas, mas as cartas tenham sido edificadas à beira da janela - talvez haja vento, chuva, noite.
Talvez eu viesse a ser o mesmo e ser do mesmo é ser o mesmo que nada.
Talvez tenha cansado de perguntas gastas pelas certezas e queira algo para além do já conhecido.
Não, não estou falando de amor, mas também não falo de desistências.
Falo de tempo, de voz, de sonhos, de desejos - incertos, incompletos, funestos.
Desejos ainda não descobertos.
E eu, que dizia que encontraria por aí, segredos, talvez seja só poeira, conquista, saudade.
Ou seria eu o futuro, pássaro inseguro, arrastando as asas sobre o mundo?

domingo, 1 de dezembro de 2013

Bela confusão...

Você tem tido o melhor de ambos os mundos
És forte, mas carente
Humilde, mas gananciosa

Seus gritos cursivos tenho ouvido
Você tem estilo - é quieta, seletiva
No entanto tem uma mente um tanto imprudente
Bem, isso é apenas sugestivo
Isso é só o que a alegria é

Ei, que bonita confusão é essa?
É como catar lixo nas flores
Dói um pouco
Quando as palavra
Se transformam em facas

Suas voltas são rápidas
E provavelmente tem a ver com suas inseguranças
É como se nós estivéssemos lavando a roupa suja

Dói um pouco
Quando as palavras amáveis que você escreve
Se transformam em lâminas
Mas nós estamos aqui, querida
Nós continuamos aqui

É como adivinhar algo
Quando a única resposta que temos é sim
E através de palavras atemporais
E fotos de valor incalculável
Voaremos com pássaros que não são dessa terra

As marés mudam, os corações se desfiguram
Mas isso não é preocupação quando nos ferimos juntos
Nós rasgamos nossas vestes
E manchamos nossas camisas
Mas é bom por hoje
A espera foi tão válida.

Perdendo os sorrisos

O dia passou e você só fez burrada. A noite chegou e você tem que se admitir uma fracassada. Comeu demais, descontou toda frustração na comida, e depois a frustração da comida no seu corpo. Às vezes chora implorando para que algo mais sério aconteça e não tenha mais que suportar e sustentar tudo sozinha. Às vezes quase reza para que seja sério demais. Às vezes implora para voar para muito longe, para a esquecerem, para a deixarem partir, sumir, se esvaecer no ar. Às vezes, inclusive, tenta tudo isso. Não bastam lágrimas, o choro, o desespero entre quatro paredes. Vai até o banheiro, exita. Vai até o outro lado da rua, revida. Ciclos atrás de ciclos. Dores atrás de dores. Os sorrisos se foram, os medos tomaram conta, os olhares se perderam e nada foi posto no lugar. Tudo se perdera no ar.

Regresso

Ontem foi um dia esquisito... Precisei ir a um lugar perto de onde uma amiga que se mudou recentemente para o ES morava e passei em um mercado lá perto, que vende uns pãezinhos integrais que eu adoro e que nem sempre tem no mercado da rede aqui perto de casa e lá eu lembrei dela... Que a última vez que entrei lá foi com ela em um dia muito atípico... E bateu uuuuma saudade!
Eu nunca fui uma pessoa muito "social" então gosto de encontrar as pessoas por acaso, na rua, em lojas, no mercado. E como sempre morei em cidades pequenas, isso é fato comum. Isso me dá o "privilégio" de não ter que marcar uma visita, um encontro, um café, para encontrar com alguém. O que eu sei, é péssimo! Mas nos cinco minutos em que fiquei na fila da panificadora passou tanta coisa pela minha cabeça... Acho que só agora eu me dei conta de que de fato a faculdade acabou, eu sou uma psicóloga mesmo e estarei longe daqui em uma semana. Eu estou contente por estar voltando para casa por uns tempos, não quero que seja demais, um semestre no máximo, que é o tempo que eu espero conseguir entrar em um mestrado; quero passar um pouco mais de tempo com os meus pais, aproveitar eles, pois estão envelhecendo, assim como meu irmão, que eu amo tanto e não vi crescer. Mas ao mesmo tempo bateu um desespero, sabe? Parece que eu vou ter que começar tudo de novo... Conhecer as pessoas de novo, me conhecer de um jeito diferente agora, reaprender a viver em família, casa cheia, mesa farta, conversa jogada fora. É tudo tão oposto ao que foi minha vida nesses últimos cinco anos, em que eu fui tão sozinha, tão responsável, tão independente. E agora, que eu vou ter que encarar tantas mudanças? Será que vou saber lidar com o mercado de trabalho, família querendo saber o que estou fazendo, sorrisos rápidos não-convincentes e que não haverá mais um mundo só meu da porta do quarto para dentro?
Eu não sei bem o que estou sentindo, acho que são coisas demais, e por isso está tão misturado que parece um vazio. E no meio disso tudo eu me pego dizendo que estou com medo do regresso, medo do retorno ao ninho, nem que seja por pouco tempo, medo de idealizar coisas demais e acabar muito frustrada.
Escrevi tudo isso para contar para essa amiga da qual lembrei... Talvez pelo simples fato de que eu queria compartilhar com uma amiga o que estou pensando e sentindo - e porque estou me sentindo tão sozinha também...