terça-feira, 29 de julho de 2014

Pra onde vai o sol...

Porque sofrer não é a solução. É melhor colocar essa  certeza na mente. Mas a dor é do tamanho de um prédio.

Uma carta para Laura

Cara Laura,

Sabe, querida, a vida de adulto não é nada fácil.
Hoje foi um dia em que eu verdadeiramente precisei ser adulta. Coloquei meus documentos e alguns currículos na bolsa e caminhei, caminhei muito, por essa cidade que eu nem conheço, mas que escolhi para viver, continuar meus estudos. E para tudo isso, eu preciso de um emprego. Quando optei pela minha profissão eu, sinceramente, não pensei sobre o quão generoso o mercado de trabalho seria comigo, ou no grau de dificuldade que seria conseguir um bom emprego. Durante a faculdade também não pensei em me adiantar e iniciar uma pós. Eu não tinha tempo nem dinheiro para colocar isso em meus planos, então um passo de cada vez, não é isso que dizem por aí?
Mas a verdade, Laura, é que a vida não permite que seja um passo por vez, respirando tranquilamente entre as pausas. Esse mundo adulto é cruel, muito diferente de como é aí neste universo paralelo em que você vive.
Logo que nascer e for criança, você verá que não te darei todos os doces ou brinquedos do mundo, que te deixarei sentir fome por mais tempo do que você gostaria, que vou precisar abandonar você de vez em quando. Que a vida vai me cobrar isto, por mais que eu não queira. Você vai chorar, mas não se engane, eu também vou. Mesmo que você não veja.

Outras vezes ainda vamos chorar, embora em tempos e momentos diferentes, por coisas diferentes. Eu vou chorar quando ver o dinheiro na minha conta ser menor que aquilo tudo que eu tenho para pagar, vou chorar enquanto não conseguir um emprego que me traga um mínimo de felicidade, vou chorar quando sentir vontade de comer alguma coisa e não querer comprar, porque preciso economizar cada centavo para inteirar o aluguel. E enquanto isto, também, choro por ter que dizer que por mais que eu queira, não é a hora para você vir. Que não é este o momento de ter ninguém aqui comigo, mas que em breve haverá um momento assim e que nele seremos felizes, sorridentes. E que choraremos juntas algumas vezes, será inevitável, mas que ainda assim nós sobreviveremos.

Com todo o amor do mundo, nestes dias solitários,

Sua futura mamãe.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A ponta do ice berg

Agora entendo porque me pesa... É porque me sinto totalmente amarrada, porque eu não consigo fazer nada, nem para um lado, nem para outro. O que é até bom, porque assim eu fico longo da vida horrível que tive o ano passado de privações, vômitos, hospitais. Queria ter uma grande ideia, um grande conselho, mas não os tenho.
O que tenho feito para lidar com isso? Respiro fundo, muito fundo, toda vez que fica forte demais a ponto de querer fazer besteira. E choro. MUITO! Não passa, mas alivia e cada vez que consigo não fazer, eu pareço um tiquinho mais forte. Quase nada, é verdade, mas é alguma coisa!

Janela

Olhar para a minha barriga no espelho.
Foi o suficiente para eu sentir tudo isso desabar de novo, porque mais uma vez eu me ouço dizer que não importa o que eu faça, nunca será o suficiente, eu nunca serei boa o bastante, que nunca serei capaz de atingir o suficiente. E então eu vejo uma vida inteira se repetir com essas poucas palavras, eu me vejo desde criança me esforçando até o limite para ser melhor do que eu era, para fazer mais do que achava que seria capaz. Mais uma vez eu me vejo correndo contra o fluxo, nadando contra uma correnteza que no final não me levaria para outro lugar que não o ponto de partida, porque a corrida era contra mim mesma.
E agora estou tentando, e estou mesmo, me esforçando muito, para esquecer tudo isso, para não pensar que sou ou não sou responsável por todas as minhas escolhas e consequências, tentando entender que nem tudo pode estar na minha alçada e que se for o caso, eu não posso fazer nada.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre terceiras ou décimas chances

Respirando muito fundo, olhando nos meus olhos na frente do espelho, eu me perguntei: podemos começar de novo?

Por quê? Só porque acho que mereço mais uma chance. Mas não sei se consigo.
Quando a gente sente que o mundo está caindo na nossa frente é porque deixamos de acreditar que tenhamos força suficiente para segurá-lo. Mas ninguém o segurará por nós.
Respirando mais fundo, hoje, eu tentei... Tentei me lembrar daquela menina que crescia feliz com a vida, com sua família, com seus amigos. E quando eu tento lembrar daquela menina sorridente que ia contente para a escola, que dançava, cantava, sem medo do que pensavam... Eu me dou uns socos em silêncio, porque sou uma idiota! Sou uma estúpida porque não percebi a tempo que o que dizia a ela era o que pensavam sobre ela, não o que ela era de fato, então se eram os outros, os outros não importavam. Não eram os outros que a seguraram quando deu seus primeiros passos, não foram os outros que comemoraram sua primeira vitória no jogo de basquete, não foram os outros que vibraram com seu bom desempenho no teatro. Não foram esses outros que seguraram e secaram suas lágrimas, suas mãos, que afagam seu cabelo e lhe tiraram sorrisos.

E mesmo agora, depois que cresceu, ela precisa estar confiante, precisa ser forte como não se imagina capaz de ser, precisa acreditar que ninguém precisa dar conta de tudo, que na realidade ninguém é capaz disto, mas que precisa se esforçar pra ser melhor consigo... Simplesmente porque merece isso.

Quando as coisas pioram, como têm sido estes últimos dias, parece ser o sinal de que o que há dentro de si não vai bem. É como se precisasse mostrar que está ferida por fora para acreditarem que está machucada por dentro. É seu grito em silêncio. Quando diz que não consegue lidar com aquilo que dói, com aquilo tudo de ruim que pensa sobre si... Não é capaz de expressar sua dor de forma "saudável", então se machuca, se humilha, para que doa mais isso que tem por fora do que está doendo por dentro. Ela não consegue acreditar, embora saiba, que é linda, por fora e por dentro.

Se não é capaz de olhar para uma menina de 8 anos e dizer que ela é horrível, por que vive dizendo isso agora? É justo dizer tanto a esta menina que não serve para nada até fazê-la acreditar que esta mentira seja verdade?

Não, não é justo.
E embora não seja nem um pouco justo, continua dizendo.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Para quando te falta coragem

Não estou me sentindo bem com isso tudo. Eu fui consultar ontem e levei os exames que fiz há alguns meses atrás, para meu médico ver. Meu hemograma deu alteração. Algo errado com meus eritrócitos. Eu ainda nem sei o resultado do exame, mas ele insistiu para que eu levasse para ele antes de viajar. Qual o possível problema? Estou mal porque sei que, seja lá o que for, sou culpada. Estou mal porque acho que se for alguma coisa horrível, foi eu quem fez, quem provocou. Mereço qualquer coisa que possa acontecer. E estou com medo. Parece que eu estou apavorada, mas não tem nada ali em frente. Simplesmente não há nada. Não há porque me desesperar, mas estou em desespero. Me sinto completamente perdida.

domingo, 20 de julho de 2014

Sobre vícios e desejos

Mas, apesar de tudo, acho que tenho sido forte. Embora os tempos difíceis, tenho encontrado forças incríveis diante das minhas dificuldades e tenho vencido. Às vezes penso mesmo que não seria capaz de tanto, mas eu fui, e já fiz, já passou, me decidi e optei pelo melhor. Não vou negar que todos os dias mil vozes gritem na minha cabeça sobre o que fazer, não fazer, comer, não comer, sobre quem ser. Mas eu consigo não somente abafá-las, mas dizer a elas que estão erradas, que não é isto que quero ser. E então, fico mais forte. Sei que não é a toa que os desafios vêm, que as tentações surgem no meu dia para me deixar para baixo. Sei que não consigo ignorar os espelhos, mesmo que desvie o olhar. Sei que não consigo me desligar do meu peso, por mais que não suba há tempos em uma balança. Sei, também, que fechar a porta do banheiro após uma refeição sempre será um risco, mas que posso ignorá-lo. Que meus "vícios não são meus desejos", que eu sou e posso ser um pouco melhor para mim. Eu posso ainda não ser capaz de não me importar totalmente, mas eu consigo tornar menos importante, e um dia eu o serei.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre amarras, correntes e desejos

Assisti a "O médico e o monstro" hoje! Já tinha lido o livro, mas sem dar a importância que dei ao filme. Por quê? A identificação do dia. Marcou muito determinado momento em que a advogada diz que quando uma pessoa comete um crime obrigada por outra ela não pode ser considerada culpada. Porque eu fiz isso hoje. Porque andei "planejando" a semana toda (ou quem sabe o mês) e hoje enfim eu o cometi. O mesmo crime das outras vezes, o mesmo ato impulsionado pelo desejo. E desta vez foi totalmente estético: eu estou ficando gorda. E não quero, não posso, ficar.
Nunca sai totalmente, nunca se vai por completo, porque a vontade de cometer esse crime permanece 24 hs por dia. Todas as vezes em que preparo uma refeição, ou quando olho minha barriga no espelho, quando me sinto "inchada". Acontece também toda vez que entro no banheiro e que sei que ali, naquele espaço vazio, eu posso cometer os meus crimes sem que ninguém os veja. Sei que ali eu posso me deixar ser essa outra pessoa que não só fica nos desejos, mas que cumpre todas as suas vontades, mesmo quando elas são perigosas, cruéis, ou temidas demais. Mas ainda assim, mesmo ali na sala escura onde tudo pode ser dito e feito, eu não faço, eu não deixo que ela se apresente e leve meu corpo, minha alma, minha vida. Eu não deixo que esses pensamentos se tornem tão grandes novamente que vão me fazer cair, despencar num abismo de olhares, silêncios e segredos. Mesmo ali eu cubro os olhos, tapo a boca, os ouvidos. Amarro minhas mãos longes de minha boca, para que nada possa ser feito. E fica só o desejo. Não-satisfeito.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Escrita, escrevi(t)a

Fica a dica do Almodóvar! ;)


sábado, 12 de julho de 2014

Sobre aquilo que sou e que começo a mostrar

Nesta semana dei duas entrevistas relatando minha história com os transtornos alimentares. Uma delas eu que me ofereci, quando uma estudante de jornalismo solicitou participantes para sua pesquisa de TCC; e a outra me procurou, uma jornalista da Revista Shape Brasil após ver meu relato no blog da Fer Fahel, o Despedida de Ana e Mia.
Faz um tempo já que contar minha história com relação a isto não tem trazido grandes emoções à tona, ou ao menos eu pareço não ficar mais tão sensível com relação a isto, então não tem problema em falar sobre nem que todo mundo que ainda não sabe fique sabendo das coisas pelas quais passei. Que não é mais segredo, isto é fato, mas também eu acho que não gostaria que de repente minha família e outras pessoas familiares queiram saber mais sobre isso, e descubram as outras coisas que aconteceram e que eu não cheguei a falar muito, principalmente o delicado estado de saúde em que cheguei. Só que é um risco que corro, já que concedi uma matéria a uma revista de circulação nacional e mês que vem minha carinha estará estampada na Shape no Brasil todo.
Por outro lado, me pergunto sobre essa nova fase da minha vida e não posso negar que me assusta um pouco o fato de que estou saindo de casa de novo, para morar "sozinha" e ser responsável em 100% pela minha vida. Será que terei maturidade suficiente para me disciplinar e fazer todas as refeições? Será que eu consigo não cair em desespero novamente por estar "meio gordinha"? Não sei... Mas estou certa de que determinada a tentar, muito fortemente, do fundo do meu coração.
Falando por telefone ontem com a jornalista da Shape, eu disse que parece que finalmente minha história começa a fazer sentido, que ter passado por todas as coisas que passei têm uma razão, uma finalidade. É bom saber que aquilo que a gente passou, e que foi tão ruim, no final das contas, pode servir para alguma coisa para um outro alguém... É edificante sentir isso!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quando nada muda, o que fica

Nada muda se as pessoas não mudam, nada se modifica se todos que controlam a situação se mantêm em igual posição. Simplesmente, nada fica diferente quando tudo que se faz é igual a sempre. Nem os sorrisos se modificam, nem os medos passam, nem as lembranças se esquecem. Tudo permanece igual quando o medo de mudar é maior que a coragem para ser e fazer diferente.

sobre planos que se fazem no presente

- O que viver no presente significa para você?
(..)
 - Apenas que ficar se prendendo e planejando é besteira - ele diz. - Se você fica se prendendo no passado, não consegue seguir em frente. Se passa muito tempo planejando o futuro, você se empurra para trás ou fica estagnada no mesmo lugar a vida toda. - Seus olhos encontraram os meus. - Viva o momento - ele diz, com se estivesse dizendo algo sério - aqui, onde tudo está certo, vá com calma e limite suas más lembranças e você chegará ao seu destino, seja qual for, muito mais rápido e com menos acidentes de percurso.

- J. A. Redmerski, in Entre o agora e o nunca, p. 77.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre o impacto das palavras

As palavras não são “inocentes”, desprovidas de um sentido ideológico. Na verdade, a palavra é a “arena” onde ocorrem os confrontos de valores sociais contraditórios e os conflitos de classe, as relações de poder e dominação; adaptação ou resistência às normas pré-estabelecidas.

- Bakhtin, in A estética da Criação.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A mola no fundo do poço

Hoje acordei meio de cara comigo. Estou de mal humor, cara amarrada, pouquíssima paciência. E aí é claro que o dia tinha tudo para dar errado! A aula na autoescola foi uma M¨%$&*! Dirigi mal pra caramba, errei um monte, esqueci os passos da baliza. Minha cabeça estava a um zilhão de anos luz de distância. Inclusive, meu instrutor disse que "quer a Talita da última aula de volta". Mas deixa isso de lado. E... Adivinha? Estou me achando horrível! meu cabelo está bagunçado, meu rosto esquisito, estou gorda, meus braços cheios demais, e etc., etc., etc. Há um livro para escrever sobre como estou ruim hoje.
E no meio desse mar de desventuras tive vontade de fazer muita besteira! Não consegui chorar o rio de lágrimas que eu tenho guardado aqui, então deu vontade: de comer uma lata de brigadeiro sozinha, tomar um litro de chocolate quente, comer um monte de porcarias; e claro, por tudo para fora depois. Mas, ao invés disto tudo, peguei um pacote de cookies integrais aberto na semana passada e dei fim nele. No final das contas foi bem mais do que eu PRECISARIA ter comido, mas longe do exagero que PODERIA ter sido. Por fim, saí no lucro: sem desespero. Certeza de que nada que uma hora de jump, mais uma boa noite de sono não deem conta! Amém!