segunda-feira, 31 de março de 2014

Sobre o medo e outras tragédias

 - Você está fazendo a mesma coisa novamente.
 - Fazendo o quê?
 - Me apavorando.
 - Não devemos temer nada.
 - Exceto o próprio medo.
 - Ou monstros que saem do armário.
 - E rochas gigantes que despencam do céu sobre nossas cabeças.

- Marian Keyes, in Um bestseller pra chamar de meu, p. 496.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Conflitos humanos

Por que não conseguimos amar as pessoas certas? O que há de tão errado conosco que nos colocamos em situações para as quais somos claramente inadequados? Situações que trarão sofrimentos para nós mesmos e para os outros? Por que sentimos emoções que não podemos controlar e nos movem na direção contrária à que realmente gostaríamos de ir? SOMOS CONFLITOS AMBULANTES, BATALHAS INTERNAS SOBRE DUAS PERNAS. Se os seres humanos fossem automóveis, iríamos devolvê-los por defeito de fábrica.

- Marian Keyes, in Um Best Seller pra chamar de meu, p. 283.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O que eu penso sobre balanças #comentário sobre peso corporal e compulsão alimentar

Faz três meses que estou indo na nutricionista. Me propus a ser muito sincera com ela, e me surpreendi muito ao ver como ela é empática comigo, inclusive quando eu tenho que admitir que eu vomitei ou pulei refeições... Há dois meses eu pedi para ela para não me falar sobre meu peso, também tenho uma balança em casa mas ela está sem pilha e não a uso. Aboli minha vida dessas coisas! Sou bem sincera ao dizer que minha piores crises de bulimia/anorexia foram depois de ficar muito tempo sem me pesar, estar me achando linda e aí querer "confirmar" pesando... Os resultados? Catastróficos! Posso dizer que estar viva tem sido, a cada dia na minha vida, uma pequena vitória.

Deixar passar

Sabendo que tudo passa, hoje abri a janela. Deixei o sol entrar, pois daqui a pouco ele vai passar. Daqui a pouco a noite vai cair e golfadas de vento gelado de outono vão passar pelas frestas das portas, das paredes, dos telhados, vão entrar pelas brechas da alma, aninhar-se na válvulas do coração. E com o sol, com o vento, também os pesadelos, os sonhos ingênuos, também os amores passarão, as amoras da estação. Também no brilho de teus olhos, nas sirenes dos carros da rua, o tempo passa e leva a sombra, a luz, a vida. Lava a alma e limpa as lágrimas dos olhos, o brilho dos olhares.
O tempo vem, passa, leva a poeira, as esperanças, leva a vida, as mãos, os lábios, as palavras. Passa. Deixa - o medo, os olhares, sorrisos, encantos. Deixa, também, a vida, com olhares e silêncios.

Pela última vez


Era uma vez uma menina. Ela tinha sido uma criança amada e amável. Todos admiravam aqueles cachinhos pretos correndo pela casa, aqueles sorrisos de lábios vermelhos correndo pelo gramado da casa número 3369 da Rua Diogo Antônio Feijó. Suas gargalhadas eram frequentes, incontidas e deliciosas de serem ouvidas. Fazia amizade fácil com qualquer transeunte da rua e até mesmo com os garis do caminhão de lixo, que a presenteavam com qualquer coisa que pudesse ser aproveitável.

E foi ali que ela cresceu. Foi naquela rua que ela chorou ao cair de bicicleta pela primeira vez, ali que levou o primeiro ponto na testa depois de uma briga com o irmão mais novo, foi ali que ela se apaixonou pelo filho da vizinha. Foi ali, na casa número 3369, que ela descobriu que as pessoas um dia partiam e saiu às pressas em uma manhã de segunda-feira para segurar pela última vez a mão gelada de seu avô que partia. Foi ali que rasgou as primeiras cartas não correspondidas, que inventou as primeiras mentiras sobre comida. Foi ali que descobriu que poderia ser linda, ou que poderia chegar o dia em que ninguém a amaria. Foi naquela casa, no quarto com a janela para a rua, que ela disse que não acreditava em amor e que sonhou com o primeiro beijo, a primeira vez, com um dia quem sabe se casar. Foi naquele quarto, naquela cama, que ela descobriu que a vida havia lhe enganado tantas vezes quanto fosse possível. Foi ali que esboçou os primeiros desenhos, que decorou os primeiros textos. Foram aquelas as paredes que ecoaram sua voz em entonações distintas para um texto difícil – as mesmas que ecoaram soluços de choro madrugadas a dentro. Foram as paredes que esconderam suas mentiras, que preservaram seus segredos, que abafaram seus pedidos de socorro.

Foi para aquela mesma casa que ela se despediu, com lágrimas na voz, dizendo que não voltaria, que era um simples tchau final. A mesma casa, no final da rua, que lhe recebe de braços apertos e com um abraço apertado e sufocante, lhe dando as boas vindas, dizendo que tudo continuava guardado, abafado pelas mesmas paredes. São os mesmos versos escritos com espinhos nas brancas paredes da madrugada, as mesmas caixas incolores amassadas na dispensa do guarda-roupas, as mesmas roupas largas, velhas, despedaçadas.

Alguns anos depois ela volta. Sem os cachos negros, sem os sorrisos vermelhos, sem as gargalhadas inconfundíveis. Ela volta de salto alto, com roupas novas e medos antigos. Ela volta sem entender porquê voltou. Volta sem escolher voltar. Mas sabe que tem que ser forte. Sabe que a vida é rude. Sabe que para voltar é preciso suportar. E então, retoma o antigo sorriso nos lábios carnudos, aperta firme a alça da mala, e bate na porta.

domingo, 23 de março de 2014

Por trás dos olhos - olhares

Já faz tempo, que eu me perdi de você.
E olhando nos olhos, não havia mais o que se dizer.
Olha para as cartas, olha para os nomes, olha para aquela letra torta e disforme.
Olha. Olha, enfim, para você.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Estocando emoções

Depois de ter chorado um monte, a sensação é de total alívio.
Mas fiquei pensando sobre essas coisas ontem... Não é que tenha passado, ou que seja de fato um alívio. Simplesmente o choro foi paliativo. Como tomar remédio para dor de cabeça. Na hora passa, mas a gênese do sintoma continua lá, intocada, à espera de um outro momento qualquer para voltar. Talvez com mais força. Talvez com outros sintomas. Talvez derrubando tudo o que houver pelo caminho.

terça-feira, 18 de março de 2014

Cleanin'out my closet

Um mês e pouquinho sem nem sinal de T. A.. Sem vontade, sem pensar, sem exagerar em nada, sem ficar obcecada com nada. Até que hoje eu resolvi me pesar. Eu estava completamente satisfeita com meu corpo, me achando linda. Hoje saí com minha saia longa nova cor azul royal, regatinha branca, e eu parecia espetacular dentro daquela roupa, mas subi na balança. Não foi preciso mais do que uma parede espelhada na panificadora ao lado da farmácia para eu ver uma orca obesa refletida. Era 63,4 e não "62 vírgula alguma coisa" como eu gostaria que tivesse sido. E isso foi suficiente para uma recaída gigantesca em culpas, medos e arrependimentos. O suficiente para um almoço sem prazer ao comer, uma sobremesa gigantesca com direito a tudo o que eu pudesse colocar para dentro e quase morrer vomitando no banheiro depois. E agora mãos na cabeça, vontade imensa de chorar e todos os sentimentos de culpa do mundo. Eu não consegui, mais uma vez eu não consegui.
E então, eu só peço desculpas a vocês, a mim, ao mundo. E agora, I say "I'm sorry ma'ma/I never want meant hurt you/I never meant make you cry/but tonight I cleanin'out my closet" (Eminen)...

segunda-feira, 17 de março de 2014

Hai cai de segunda-feira

vez ou outra
em tardes quentes de sol
o espírito voa.

Entendimento para dias nublados

A morte pergunta-se onde está agora anfitrite, a filha de nereu e de dóris, onde estará  o que , não tendo existido nunca na realidade, habitou não obstante por um breve tempo a mente humana a fim de nela criar, também por um breve tempo, uma certa e particular maneira de dar sentido ao mundo,  de procurar entendimentos dessa mesma realidade. E não entenderam, pensou a morte, e não podem entender por mais que façam, porque na vida deles tudo é provisório, tudo precário, tudo passa sem remédio, os deuses, os homens, o que foi, acabou já, o que é não será sempre, e até eu, morte, acabarei quando não tiver mais a quem matar.

 - José Saramago, in As intermitências da morte, p. 167-8.

domingo, 16 de março de 2014

Sobre sorrisos em falso

A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste. Se é certo que nunca sorri, é só porque lhe faltam os lábios, e essa lição anatômica nos diz que, ao contrário do que os vivos julgam, o sorriso não é uma questão de dentes.

- José Saramago, in As intermitências da morte, p. 139.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Sobre calar

Então poderá perguntar "Morte onde esteve a tua vitória?", sabendo no entanto que não receberá resposta, porque a morte nunca responde, e não é porque não queira, é só porque não sabe o que há-de dizer diante da maior dor humana.

- José Saramago, in As intermitências da morte, p. 126.

sábado, 8 de março de 2014

Para a mulher mais bonita do mundo

estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

- José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sobre amar quem eu sou

Leve. Assim foram estes últimos dias. Não foi sem motivo também... Mais uma vez afastei os segredos e as mentiras do T. A. por falar sobre ele com alguém. É claro que depois de deixar muito ir com as palavras eu liberei o restante chorando a beça. É incrível como a gente segue em frente mais tranquila quando está com o coração leve. A verdade é que há mais de dois meses, desde que voltei para a casa dos meus pais, eu não abria o jogo com ninguém e então o monstrinho que há aqui dentro foi crescendo e crescendo e crescendo - e como eu não deixava ele sair pelos lados com as palavras ele explodiu de forma somática. Quase arrebentou meu corpo e só depois disto eu consegui pedir ajuda - mais uma vez. Eu sei quando as coisas começam a piorar, sei quando o perigo se aproxima, então preciso ficar mais esperta para não deixá-lo tomar conta e me fazer tão mal. Agora, depois das palavras e do choro, o alívio. A tranquilidade de seguir sendo quem sou, com todas as minhas qualidades e com todos os meus defeitos. Mas sou eu, e como diz uma querida amiga, "se eu te amo e isso faz parte de você, preciso amar isso também". E se isso, de fato, sou eu, me aceito, me assumo, mas digo que quero mudar.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Com a alma e o coração

A verdade? Ok, vou dizer a verdade, do fundinho do fundinho do coração! É isso que penso...
Eu já fui gordinha e não quero voltar a ser, tenho medo de voltar a ser, porque acho que fico melhor assim e porque ouvi muitas vezes, depois que emagreci todos esses 16 kgs com um custo tão alto, que eu sou melhor assim. Não dá para não ficar pensando que as pessoas dizem muito que eu estou bonita assim e perguntando o que eu fiz pra ficar magra. Porque ficou marcado na minha memória e doeu tanto quando uma pessoa me encontrou no banco e disse que não me reconheceu porque eu era gorda e agora estava tão bonita de corpo... Com essas palavras... Bonita de corpo? Tipo: você pode ser um lixo de pessoa, mas se tiver um corpo bonito, tudo bem!

E estou cansada disso, cansada disso tudo e de me deixar levar por essas coisas. Cansada por não conseguir entrar em uma farmácia comprar anticoncepcional sem precisar passar pela balança e ver aqueles números e eles determinarem se meu dia será feliz ou triste. Porque estou cansada disto contar tanto, de ser tão importante para mim.
Muito, muito cansada.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Era uma vez...

Ogro

Era uma vez uma menina que usava camiseta na praia.
Era uma vez uma menina que acordava 40 minutos mais cedo para se maquiar para a escola.
Era uma vez uma menina que usava manga comprida por vergonha dos seus braços.
Era uma vez uma menina que fazia dieta sem precisar.
Era uma vez uma menina que cortava a própria pele porque não se gostava.
Era uma vez uma menina que parou de comer e foi internada.
Era uma vez uma menina que mentia para a família que já tinha almoçado.
Era uma vez uma menina que estragou o cabelo com tintura e técnicas de alisamento.
Era uma vez uma menina que nunca mais acordou da anestesia da lipoaspiração.
Era uma vez uma menina que não fazia aula de educação física por vergonha do corpo.
Era uma vez uma menina que comia uma caixa de bombom escondida no chão do banheiro.
Era uma vez uma menina que vomitava o almoço.
Era uma vez uma menina que treinava para “queimar calorias” até perder a noção da realidade e as suas pernas tremerem.
Era uma vez uma menina que se recusava a sair de casa sem rímel.
Era uma vez uma menina que machucou o joelho de tanto usar salto alto.
Era uma vez uma menina que se endividou por causa do preço da sua cirurgia plástica.
Era uma vez uma menina que fazia um tipo diferente de dieta por mês.
Era uma vez uma menina que ficava em jejum por causa de um vestido de noiva.
Era uma vez uma menina que chorava porque não gostava da cor da sua pele.
Era uma vez uma menina que se comparava com a capa da revista.
Era uma vez uma menina que sentia que ninguém, nunca, ia gostar dela.
Era uma vez uma menina que comprava pílulas emagrecedoras por telefone.
Era uma vez uma menina que tomava laxante para expulsar todo o alimento do corpo.
Era uma vez uma menina que se escondia em casa com um edredom na cabeça enquanto o sol brilhava lá fora.
Era uma vez uma menina que se sentia anormal porque todas as mulheres nas revistas, novelas, filmes e propagandas não tinham nada a ver com ela.
Era uma vez uma menina que gastava tanto dinheiro no salão de beleza que não sobrava nenhum para as coisas que ela gostava.
Era uma vez uma menina que não sabia se divertir para “não ficar feia”.
Era uma vez uma menina que não conseguia respirar de tanto encolher a barriga enquanto caminhava.
Era uma vez uma menina que comia bem pouquinho durante o dia inteiro e depois tinha um ataque gastronômico de noite.
Era uma vez uma menina que nunca acreditava que seu namorado achava ela bonita.
Era uma vez uma menina que achava que precisava modificar todas as partes do seu corpo.
Era uma vez uma menina que olhava no espelho e não gostava de nada do que via.
CHEGA DESSAS HISTÓRIAS!!
Este Blog não existe por fins lucrativos. Este Blog não existe para promover a autora. Este Blog existe por causa dessa menina.
Vamos construir uma história diferente e única: a nossa.

 - Retirado de naosouexposicao.wordpress.com

domingo, 2 de março de 2014

Sobre olhares e conforto

E esse silêncio, não era quietude, nem calma. E tampouco era paz. Talvez tivesse outro nome, talvez ainda não o tivessem encontrado. Mas, que cor teria o céu quando o mundo fosse coberto por silêncio engarrafado? Que palavras seriam ditas para quebrar o gelo de uma tarde quieta de sábado? Não olha nos olhos, não mente tão firme assim. Deposita tua vida sobre as mãos, e as entrega como em vasos de marfim.

Sobre a coragem

Ela não tinha palavras.
Mas, acredite, as palavras estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens, e as torceria feito chuva.

- Markus Zusak, in A Menina que Roubava Livros

Brilha

Mas olha, não deixa te derrubarem não. Não deixa te fazerem acreditar que não vale a pena, que não é importante lutar até o fim. Segue, vai atrás do teu sonho. Trilha teu caminho se nenhum outro leva à tua Passárgada. Sabes o rumo, tens a direção, falta-te o quê? Coragem? Te joga. A vida é uma, é bela, é leve, é dura, é só ela que te permite ser quem és. Olha, não te perde pelo caminho não. Tem tanta coisa que eu podia dizer hoje, se não tivesse dito ontem ou antes de ontem. Tanta coisa que eu posso dizer, mas que não digo, porque quero que descubras sozinha. Trilhastes com teus pés e tuas sapatilhas, rodastes com os babados de teus vestidos e saias. És linda e bem vinda, e nem sabes o quanto. Com esse sorriso, nem precisarias do encanto que são teus olhos. Tu te miras na beleza da Lua, e sendo teu espelho ela finalmente se sente como parte do céu. Mas olha, não perde o brilho do olhar, mesmo que por vezes passes por coisas duras, não deixa de acreditar, mesmo quando tudo parecer uma tortura, não deixa de ver o arcoíris ainda que o túnel seja escuro.
Acredita, segue teu sonho, arrisca tuas certezas, aposta todas as fichas bem perto do sol. Brilha, brilha, ilumina tudo o que tiver para iluminar. Brilha, porque o mundo precisa do teu encanto assim como precisas do ar para respirar.