segunda-feira, 28 de abril de 2014

Prestando contas

Mas quando você está completamente sozinha
E está deitada na sua cama
O reflexo te encara
Você está feliz consigo mesma?
Livre das máscaras
A ilusão foi exposta
Você está feliz consigo mesma?

Sim!

Outro olhar?

Mas, no termo de uma carreira,
mais vale estar preparado para mudar de perspectivas
do que ficar condenado a repetir-se simplesmente.

 - Jean Piaget, in Autobiographie, 1966, p. 159.

Sentir de sentidor

Hoje me lembraram de que já escrevi coisas bonitas. Lembraram também que eu escolhi a profissão errada, mas deixemos essa segunda parte para lá, tudo bem?! E aí eu resolvi que talvez já fosse a hora de retomar a escrita do blog, porque acho que preciso tratá-lo com um pouco mais de carinho de agora em diante. Foram dias nebulosos, postagens muito ruins e tristes. Repletas de sentidos, mas vazias de histórias, sem propósitos - palavras soltas pela fala e só. Palavra é também poesia, e embora tristeza seja poesia, saudade também o é, felicidade também o é, amor também o é. E escrita de forma alguma pode ser vazia. Nem de sentimento, nem de intenção. Palavra é ação e por ser ativa toca pessoas, preenche páginas, invade corações, cria enredos, desperta emoções, sensações. Então hoje, escrevo só para escrever, escrevo só para ser, escrevo só para me lembrar também de quem sou. Para me sentir. Nem bonita demais, nem inteligente demais, nem interessante demais. Uma menina-mulher comum, e que em sua normalidade se mantém, sem chamar atenção, sem despertar paixão. Mas uma pessoa comum que tenta todo dia, ao acordar, ser um pouquinho melhor do que sabe ser, e talvez isto me dê um brilho diferente - nem mais dourado, nem acinzentado; mas de uma outra cor. Um brilho que, no entanto, também não traz muito encanto aos olhos de quem vê. Mas que toca de um jeito diferente a quem sente. Recordo Guimarães Rosa.... "Um sentir é do sentente, mas o outro é do sentidor", e quem me sente toca, sabe que se faz presente. Não com os dedos, nem com as palavras, muito menos com os ouvidos ou mesmo com o coração. Sente no sorriso aberto, no brilho do olhar, no encanto de existir mesmo sob turbulências, no toque de viver mesmo diante de incompreensões (ah, e são tantas!), nem sob paradoxos conformistas e críticos demais,  certezas desfeitas e incertezas frequentes, ou mesmo diante dos atropelos sentidos. Sigo sentente. Sigo. É suficiente.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Após a tempestade

Mas então de repente, e só de repente, parece que o mundo virou. Parece que todos se foram e você ficou. Parece que as princesas saíram dos castelos e o mundo foi coberto por amor. Você não quer falar, você não quer olhar, apenas sorrir e caminhar.

O dia D

Finalmente, o dia chegou!
Saiu o resultado da primeira etapa do mestrado para o qual estou dando meu sangue para passar! E sim, passei! o/ Fiquei muito contente! Gritei, pulei, chorei, sozinha em casa, até ligar pra minha mãe e contar! Estou vibrando sim, porque acho que foi merecido!  E preciso disto, antes de respirar fundo e me concentrar para a próxima etapa, a análise do projeto, cujo resultado sai dia 21/05 (no próximo século, no caso).

Isso me fez pensar que, bem... As coisas vão indo, o que já é um bom começo! Momentos mega bons, uns tombos feios pelo caminho... Estou aprendendo e curtindo fazer um monte de coisas novas! Passei em todos os testes iniciais e vou começar as aulas práticas de direção em maio, estou praticando muaythai há dois meses já e gostando muito (minhas luvas chegam semana que vem!), pintando, desenhando, bordando... Lendo a beça, mas agora vou começar a me concentrar com Freud e as obras completas, para o concurso da Força Aérea em maio, e quero passar!
Não estou fazendo terapia, mas tenho meus momentos introspectivos-reflexivos! Não fico só no correr, correr, correr, embora faça isto todo dia (estou chegando aos 15 km!) e consegui entender várias coisas novas e importantes sobre mim nos últimos meses, nas conversas com a minha nutricionista, que é uma pessoa incrível! E que tem me ajudado a entender meu corpo, minha alimentação, minha necessidade por esportes... Enfim, um momento bem diferente e gostoso de viver, embora um pouquinho doloroso também! Mas é aí que está o X da questão! Nossos maiores defeitos são muitas vezes nossas maiores qualidades também! E tanta determinação já me rendeu muito tapa na cara! Mas quer saber?! Tô nem ligando! Acho que a vida não se trata mais de o quanto ela pode nos bater, mas do quanto a gente aguenta apanhar e continuar lutando! Então, com muaythai ou sem muaythai, "tô na reta", como diz meu querido Rappa! E nela, eu VOU ATÉ O FIM!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre os limites do processo terapêutico

 - Tudo bem a gente estar fazendo isso?
 - Isso o quê? -- indaga ele, e seu olhar embaçado indica que ele está um pouco bêbado.
 - Estarmos passando tempo juntos, como camaradas. O que meu amigo Danny chamaria de "representando".
 - Por que não?
 - Bem, porque você é meu terapeuta.
Cliff sorri, ergue um dedo moreno e diz:
 - O que eu disse? Quando não estou naquela cadeira reclinável de couro...
 - Você é um camarada torcedor dos Eagles.
 - É isso aí -- diz ele, e me dá um tapinha nas costas.

- Matthew Quick, in O lado bom da vida, p. 146.

P.s.: Por isso que eu amo ser/ter uma psicóloga! <3 p="">

Sobre encarar a realidade

 - A vida é dura, Pat, e os jovens têm de saber quão difícil ela pode ser.
 - Por quê?
 - Para que sejam solidários. Para que compreendam que algumas pessoas têm mais dificuldades do que eles e que uma passagem por este mundo pode ser uma experiência totalmente diferente, dependendo de quais substâncias químicas estão ativas na mente do indivíduo.

 - Matthew Quick, in O lado bom da vida, p. 116.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre a inabilidade humana

Hoje fui ao teatro. Vi deuses e demônios embrulhados, manipulando mentes doentes; e inabalizados. Para depois enganá-los.

- Josè Guilherme Marquise, In Arte e Sociedade em Mercuse, 1963.

domingo, 13 de abril de 2014

A dança da vida

Mas pessoas são como moscas, tentando atrair atenção, fazendo dançar e correr o risco de quebrar-se nas curvas, caindo esfacelada, sem significação. Joana ignora propositadamente a curva de uma folha banal perto de seus pés. Esqueceu as flores, espera sons rápidos, geométricos, para se fazer entender. Vagamente tem noção das figuras incomodativas, ondeadas de banalidades que tentam atrair-lhe a atenção. Não cede um milímetro para não desmoronar-se. Deve sobreviver.

 - Maura Lopes Cançado, in No quadrado de Joana. Os melhores contos de loucura, p. 315.

sábado, 12 de abril de 2014

Sobre imagens no espelho

Minha única paixão tornou-se devolver meu corpo a essas vastidões, a essas perspectivas sem eco, e a esses universos à parte isolados do nosso, que, em contradição com a consciência, existiam ao mesmo tempo e no mesmo lugar que ele. Essa realidade invertida, separada de nós por uma lisa superfície de vidro e, por algum motivo, inacessível ao tato atraía-me para si, puxava-me como um precipício, como um mistério.

- Valiéri Briussov, in Dentro de um espelho. COSTA, Os melhores contos de loucura, p. 302.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Quem diria primeiro?

Ela olha para mim e não me vê. Não consegue ou não quer? Imagino que seja difícil para uma mãe, mas tampouco é fácil para uma filha falar sobre essas coisas. E se a experiência fosse um meio a meio? Ela diria algo se eu começasse? E se se calasse e não me olhasse? Coração apertando!

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Perguntas disparadoras

De novo passei a tarde na frente do computador, olhando fotos e lendo notícias e reportagens... De corpos bonitos, sobre dietas para isso e e para aquilo, sobre anorexia, sobre bulimia... Aonde tudo isso vai parar, outra vez?

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Crônica de Juliana

Juliana fechara os olhos. Era uma noite fria de outono. Naquele dia tudo tinha dado errado. Perdera seus óculos em algum lugar que não sabia onde era – na verdade, ela jurava que eles haviam se fragmentado no ar. Depois, sentada no banco à espera do ônibus para ir para casa ela pensava nele. Pensava no quanto ele havia mudado, no quanto estava diferente. Havia engordado muito, é verdade, desde que se viram pela última vez, ele estava muito mais gordo e com um aspecto descuidado, desleixado. Juliana se culpava – mas que droga!, eles não estavam mais juntos, ela foi quem havia terminado e ele sabia que os motivos eram justos. Mas ele bateu a porta, como se ela estivesse errada, como se o que fizera fosse desleal. Mas ele queria coloca-la como a vilã da estória, que insolente! e ela, desde então, vinha tentando consertar sua vida sem pensar muito no quanto aquele namoro a havia estragado. No entanto, ao fechar os olhos, onde quer que estivesse distraída, suas palavras ecoavam na mente de Juliana: ela era uma patricinha babaca que não conseguia passar por um espelho sem olhar para o tamanho de sua bunda. O pior é que Juliana acreditava que ele estava certo. Ela concordava com ele, mas se zangava, porque ele jamais entenderia o que ela sentia, ele simplesmente não a compreendia. Não podia compreender, porque ela nunca o deixara entrar de verdade. Ela mentia.

Para que a amassem Juliana precisava se passar por forte, ou assim ela imaginava. Não chorava nunca, nem quando caiu correndo e cortou o joelho, nem quando seu avô segurou sua mão tão forte em seu último segundo de vida que a fez quase desmaiar. Juliana não dava satisfações, não falava sobre si. Evitava as festas, as baladas, as confraternizações. Juliana, no fundinho, não era arrogante, ao contrário, não se achava digna de viver coisas boas, de sorrir. Ela achava que era uma pessoa tão ruim que merecia as noites escuras em que abriam a porta devagarinho, achava que merecia que apertassem suas pernas, seus braços, que deixassem marcas em seu peito, porque ela era suja e havia sido uma menina mentirosa – e má. E merecia, também, que ele a achasse uma pedra de gelo, porque era incapaz de corresponder a um amor. Pena que ele se enganava em achar que ela tinha outros amores. Ela não tinha ninguém – e só por não ter tido carinho se julgava de amor impossível. Ela se arrepiava quando SÓ ele a tocava. Porque ninguém mais fazia isto. No fundo, era uma pessoa fraca, dessas que ficam enjoadas quando se sentem abaladas ou ameaçadas, dessas que escrevem quando se sentem injuriadas.

Juliana era sozinha. Tão só quanto a lua em noite sem estrelas. Juliana chora, mas ninguém vê, sussurra e ninguém escuta. Ela também aperta seus braços e suas pernas, esfrega suas mãos nas coxas, como se pudesse tirar as marcas invisíveis que só ela sabe que existem ali. Muitas vezes ela sai com seus tênis e tem vontade de correr, correr, correr, até sumir. Muitas vezes, após lavar o rosto com água gelada para desinchar os olhos, ela tem vontade de ficar com a cabeça imersa na pia até parar de respirar. Mas ela não consegue. Acha que já havia dado problemas demais, que já tinha trazido problemas demais. Então hoje, olhar no espelho e chorar baixinho por não gostar do que vê é a coisa mais sensata que pode fazer: ela se mostra a si mesma. Sem as roupas de marca, sem as maquiagens caras, sem os óculos escuros. Ela se mostra a menina frágil de sorriso ameaçador, ela mostra os punhos cerrados. Ela se mostra. Ela mo(n)stra.

Mais uma vez precisa correr para o banheiro quando as verdades a invadem. Seu olhar a enoja, sua boca a enoja, suas mãos a enojam, seus pensamentos, aqueles pensamentos imundos, tomam conta de suas roupas e ela precisa tirá-las, precisa de um banho frio. Não importa o que pensam dela, não importa como a veem. Não importa se lhe pedem para descrever o que vê, pois ela é incapaz de responder o que vê: o que vê é o que sente e pensa, e isso tampouco é verdadeiro. Mas mesmo querendo que não a vejam, que finjam que não existe, ela investe em um corpo apresentável, às vezes usa decotes e roupas curtas. Outras vezes, só moletom. Depende de seu espírito, dependo do quanto ela pagaria para ser si mesma naquele dia. Pagaria? Não. Não valeria nem um centavo.

Mas neste dia, sentada no banco à espera de um ônibus, parece que ela finalmente entende para que está ali. Ela ergue as mãos e se dá por vencida, olha para o céu e diz em pensamento que ok, não lhe é permitido desistir, mas pois bem, as outras regras é ela quem faria. Ela não ia se apegar a ninguém, nada para além de um beijo, nada. Ela não choraria na frente de ninguém, especialmente dele, nunca mais. Ela não se ressentiria pelo mal que pensa que faz a ele também. Sempre que se achasse inadequada para qualquer situação, fecharia os olhos e trancaria a respiração até quase desmaiar – para se lembrar de que a qualquer momento aquilo tudo iria acabar, seu maior medo e maior salvação. E, por fim, a última regra e a mais importante: ela nunca mais se deixaria abalar pelo que fizeram com ela. Mas abalaria a todos com o que faria com o mundo.

Porém, naquela noite, Juliana não dormiu. De repente percebia que era sonho, ou pesadelo, e ela sangrara até o fim. Até seus olhos perderem o tom musgo de verde e se tornarem escuros e marrons.

Não sentir/sem sentir

Aquele momento da vida em que, pela 1098765436788ª vez, você sente um medo terrível e uma vontade de explodir - que seja em lágrimas, então.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sobre a dor na alma

Agora tudo me parece tão estreito, tão apertado, veja, ás vezes é como se minhas mãos batessem no céu; oh, sufoco! Muitas vezes é como se eu sentisse uma dor física, aqui no lado esquerdo, no braço, com o qual outrora eu  a segurava. No entanto, já não consigo mais lembrar-me de suas feições, sua imagem me escapa, e isso me martiriza; só às vezes, quando tudo se torna inteiramente claro para mim, sinto-me de novo muito bem.

- Georg Buchner, in Lenz. Os melhores contos de loucura, p. 35.

Sobre a efemeridade

A gente gostaria às vezes de ser uma cabeça de medusa para transformar em pedra uma imagem como aquela, e depois chamar as pessoas. As jovens levantaram-se, a linda cena ficou destruída; mas ao descerem por entre os penhascos, uma nova imagem se constituiu. Os mais belos quadros, os tons mais inflamados se agrupam e se dissolvem. Permanece apenas uma coisa: uma infinita beleza, que passa, de uma forma para outra, eternamente desfolhada, transmutada; nem sempre, porém, é possível fixá-la e expô-la em museus e transpô-lo em notas musicais e depois chamar gente moça e provecta, meninos e velhos para comentar a respeito e deixar-se encantar. É preciso amar a humanidade para penetrar na essência particular de cada criatura, nenhuma delas deve parecer a nenhum de nós demasiado pequena, demasiado feia, pois só então é possível compreendê-la.

- Georg Buchner, in Lenz. Os melhores contos de loucura, p. 29.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Sobre o tempo

 - Vai passar - garanti. - Por favor, me dê algum tempo.
 - O tempo cura tudo, não é?
Voltei a refletir.
 - Não, não cura. - Em seguida cedi um pouco: - ... Mas cura a maioria das coisas.

- Marian Keyes, in Um best-seller pra chamar de meu, p. 731.

Sobre dar a volta por cima

Só que, como em uma experiência fora do corpo, ela viu a si mesma sentada no seu apartamento em uma quarta-feira fria de fevereiro, com seu melhor amigo indo embora para sempre e sua carreira em ruínas.
Diante disso, Jojo chorou tanto que mal se reconheceu no espelho. Ao colocar o rosto na pia cheia de água gelada para diminuir o inchaço dos olhos, pensou em se deixar ali dentro até se afogar. Pela primeira vez, em seus trinta e seis anos de vida, conseguiu compreender a vontade de tirar a própria vida.
Mas só por meio segundo.
No instante seguinte ela se recuperou. Colegas? Quem precisava deles? Escritores? Puxa, havia muitos mais de onde os clientes dela tinham saído. E outro Mark? Tinha um monte deles por aí também. Ela estava pouco ligando.

- Marian Keyes, in Um best-seller pra chamar de meu, p. 671.