domingo, 30 de novembro de 2014

Cara, estranho!

Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir

- Los Hermanos, in Cara Estranho

sábado, 29 de novembro de 2014

Baby, it shouldn't come back...

Embora eu não tenha resistido ontem, não quero levar como uma recaída. Aliás, eu não posso encarar assim, ou me esfacelo. Não posso acreditar que não estou tentando - não é suportável pensar nisso.
Mas não sai, não sai da minha cabeça. A não ser nos momentos em que estive muito ocupada, não houve um segundo sequer que eu não pensasse na última sessão de terapia e em como ela desestabilizou minha semana e em como está desestabilizando a minha vida. Não que seja ruim, acho que no fundo é positivo, mas dói demais e eu não sei muito bem como lidar com isso que venho sentindo.
Há tanto tempo eu não assistia a uma aula e achava que ela era para mim, pessoalmente e não profissionalmente falando. Há muito tempo eu não ouvia uma professora falar, entendendo que falava comigo e que quando seus olhos batessem nos meus, saberia tudo, tudo o que eles estavam dizendo sem que eu quisesse, porque me delatavam e denunciavam meu crime de estar sendo frágil demais agora. "Essas linhas de ruptura são aquelas que dizem 'olha, assim não dá mais'"... Só por esses dias, só por essas semanas... Só para chorar um pouquinho e depois poder ficar tudo bem.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Estranho

Estranho, estranho, estranho.
Dia estranho, clima estranho, rostos estranhos e expressões que eu não consigo entender, nem explicar.
Não sei lidar com isso que não consigo compreender direito, com isso que não sei direito como me comportar!
É tudo claro demais, luz demais, vozes demais - e esse excesso de sobriedade me confunde.
Ahh, semana, acaba logo vai! Assim não está dando mais!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sobre se sentir perdido e outras coisas...

Ontem eu fui à minha sessão de terapia. Minha terapeuta foi bem mais direta comigo do que costuma ser. De um jeito que eu não pude entender logo de cara, e até mesmo me chatear por ser tão abrupta.
Mas ela não foi. Eu é que estava há tempo demais dizendo o mesmo sem me ouvir.
Sei que por achar que tenho estado muito bem, eu tento (e é muito mais que simples esforço!) mostrar que não há grandes percalços. Naquele lugar, tudo se repete. E qual seria o objetivo se fosse para repetir?
Mas então ela me lançou uma pergunta... Uma pergunta que me desarmou, tirou o chão, fez eu me perder entre histórias decoradas e bem escritas.
Ela perguntou se eu deixaria ela cuidar de mim.
Não me recordo de terem perguntado isto antes.
Afinal, sou eu que tenho cuidado de todo mundo o tempo todo.
E exigido auto cuidado violento e injusto. Não tenho me cuidado como preciso.
Perceber isso é que me desarma! Ao tentar ser tão forte eu me fragilizo como cristal.

Sim, minha cara, eu quero ser cuidada! Mas eu não sei fazer isso!
Preciso de ajuda para aprender a fazer isso também.
Acho que é muito tempo tentando ser "forte demais".

O que vem lá do mar...



Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz

- O Teatro Mágico, In Nosso pequeno castelo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Como macaquinhos no sótão...

Às vezes eles se agitam... Então, quando meus macaquinhos ficam agitados e falando todos ao mesmo tempo, eu peço silêncio.
Na verdade, primeiro eu grito e esperneio, desesperada! Aí eu vejo que não vai resolver, porque eles ficam ainda mais agitados!
Mas um pouco depois eu consigo baixar o tom de voz e ser gentil com eles. Assim eu mostro que também eles podem ser gentis comigo… Que nem tudo o que pensamos e dizemos a nós mesmos quando estamos zangados são palavras verdadeiras. Aí vai dando um alívio… 

Aos pouquinhos, tudo vai ficando melhor! :)

Indecisão

Vais te deixar tocar? Ou é maior o medo de te quebrar?

domingo, 23 de novembro de 2014

Velhice

O que é terrível na velhice? Não é brincadeira. É a dor e a miséria. Não é a velhice em si. O que é patético, o que torna a velhice algo triste são as pessoas pobres que não têm dinheiro para viver, nem um mínimo de saúde necessário e que sofrem. Isso é que é terrível. E não a velhice! A velhice não é um mal em si. Com dinheiro suficiente e um mínimo de saúde, é formidável. E por que é formidável? Primeiro, porque, na velhice, sabe-se que chegou lá. O que é muito! Não é um sentimento de triunfo, mas chegou lá. Chegou lá em um mundo cheio de guerras, de vírus malditos e tudo o mais. Mas conseguiu atravessar tudo isso, os vírus, as guerras e todas estas porcarias. Esta é a hora em que só há uma coisa: ser! O velho é alguém que é. Ponto final.

- Deleuze, in Abecedário.


Ê, Gilles Deleuze! Conquistando com jeitinho, hein?! :)

sábado, 22 de novembro de 2014

Nada mais

Nada que me cale mais do que minha vontade de falar. Nada que me pese mais do que posso carregar. Nada que vá além do meu possível.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Pequenas coisas, grande valor

Hoje estive pensando nas pequenas coisas de grande valor. Talvez porque tenho me sentido infinitamente pequena e de pouco valor. Nada vendo ao olhar para dentro. E então, penso ser esperado não ver nada também do lado de fora. Nada que encante muito, que dê tanto prazer, que envolva de um jeito que não sei se em algum momento houvesse tido referências.
Ei, meu bem!, deixa disso, vai?! Por que tantas lágrimas, se quando pensa em quem és e em onde chegastes só tens motivos para te orgulhar?
Quando foi que teu sorriso perdeu o encanto, que teus olhos deixaram de brilhar? Por onde ficou aquela gargalhada gostosa e o entusiasmo pelos pequenos gestos?
Como pôde deixar de se amar?
Perdestes a crença no humano e bom? Ou te achas tão ingênua que todo e qualquer gesto vêm apenas para se aproveitar?

Olha, te enganas... Não sejas injusta!
Lembra da canção?
Outro dia, ela tocou e te tocou tanto que não pôdes mais deixar de pensar...
Então esforça-te mais para acreditar!

"E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
(...)E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar"...

Nunca sozinha, nunca sem uma companhia, mesmo que ela só te observe ao longe... Em teu coração continuas a sentir que há algo que não és capaz de explicar, mas que sentes. E que, enquanto sentires, há de ficar tudo bem. O problema será quando não sentires mais... Porque aí sim, ficou tão grande, que transbordou... Sobre algo, sobre alguma coisa... E consumiu com tudo que crescia ao redor.Há tanto de simples e sincero por aí... Há tanto ainda por vir.
Dá-te um tempo. Não forces situações, respeita teu momento. Vive também isso que dói, que te assusta, que te mete medo. Que é tão intenso e tão doloroso que muitas vezes pensas não conseguir suportar. Em nível de dor, nunca te dê um dez. Quando doer muito, que seja nove. Deixa o dez para quando não puderes mais. E aí sim, e só então, entenderás que fizeste tudo o que pôde.
Que não foram mais pequenas coisas, nem pequenos gestos...

Eram maiores que você.

domingo, 9 de novembro de 2014

Sobre hoje...

Hoje eu senti a dor como há tempos achava que jamais poderia sentir. É essa dor que invade e faz a gente sentir que o mundo é um lugar ruim demais para se viver. É essa dor que diz que já passou o tempo em que você pudesse sentir que poderia fazer algo por alguém sem se ferir. Não é mais uma dor que impulsiona para alcançar algo que adiante possa dizer o quanto tê-la sentido nos fez crescer. É a dor pela dor. A dor que se apresenta, que se mostra não-racional, tão forte e tão intensa, incapaz de deixar qualquer coisa viver depois de si. Como um incêndio, que queima. Por mais que o fogo seja apagado, por mais que muitos se empenhem em não deixá-lo se alastrar, e mesmo após muito tempo depois de queimado, ainda se sente dor. E quando a dor passar, ainda será possível olhar para seus estragos e dizer que ali houve um incêndio. Que mesmo que tenham jogado água fria para apagá-lo, você não pôde sentir outra coisa que não seja um chacoalhão que te deixa aturdido, mas as marcas permanecem ali. Por um tempo úmidas em sua roupa, encharcando seus cabelos. Mais tarde, é madeira queimada, restos de fuligem.
E ainda assim, se pode dizer que há um pouco de beleza na dor. Há um certo encantamento, como se olhássemos para um cristal de vidro com a fórmula de alguma vida, com um restinho de esperança capaz de te fazer sentir que muitos passaram antes de ti, e que tantos outros haverão depois. Frágeis, por vezes dissimulados, em tantos outros casos doloridos, indigestos e preocupados.
Mas até quando dormirás se esforçando para chegar mais perto disto que entendes por felicidade? Olha teu rosto no espelho. Ei, garota, como podes ter sido tão linda e tão triste? Eu chorava por ela, mas chorava também por mim. Por tê-la deixado sozinha, sendo triste. Por tê-la enganado, não mentindo, mas omitindo tantas verdades e ao mesmo tempo tantos enganos.
Ah, minha querida, nos enganamos. De foco, de jeito, nos enganamos com gestos e com palavras. Eu, por não dizê-las nem fazê-las. Tu, por não buscá-las. Desculpe por tê-la deixado sozinha, por ter deixado de amá-la. Desculpe por fazê-la buscar sozinha seus sonhos e por até então não tê-los encontrado. Tudo isto, não nos diz nada.

domingo, 2 de novembro de 2014

Pinceladas de Amor

Esses tempos tenho pensado nisso que chamam de Amor. Peguei-me lendo algumas coisas, interpretando outras, tentando tirar minhas próprias conclusões. E não consegui. Algumas vezes, alguns meses atrás, isto até me surpreendeu; mas não agora. Não nesses tempos em que tudo me assusta, em que quase tudo me sufoca e tira o ar. Palavras de João Cabral de Melo Neto...

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
(...) O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
(...)O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte".

Mas já não come mais.
Agora fico mais esperta, ergo os olhos, empino o nariz e deixo o que ficou para trás.
Ah, Amor... Aqui, você não entra mais!