Como aquelas lágrimas de vidro, agrupadas sem lógica, e contudo tão sólidas que um golpe de martelo sobre sua parte espessa não as despedaçaria, mas que caem em uma súbita e impalpável poeira quando se parte sua extremidade mais fina que a ponta de uma agulha, tudo desvanecera!
- Villiers de L'Isle-Adam, in Verà, p. 98.
Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
sábado, 30 de novembro de 2013
Sobre a simbose dos corpos
Os dias, as noites, as semanas voaram. Nem um nem outro sabia o que realizavam. E fenômenos singulares ocorriam agora, nos quais se tornava difícil distinguir o ponto em que o imaginário e o real eram idênticos. Uma presença ondulava no ar: uma forma esforçava-se para transparecer, para se tramar no espaço que se tornou indefinível.
- Villiers de L'Isle-Adam, in Verà, p. 91.
- Villiers de L'Isle-Adam, in Verà, p. 91.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Sobre a brevidade da existência
- Mas a beleza é breve, não é? - refleti.
- Como se mede algo assim? - Lorenzo ponderou. - Um verão que vale a pena ser vivido é longo para a borboleta. Mas nós queremos décadas. Entretanto, de que valem se estamos empilhando perdas sobre perdas? Preferiria contar dias do que anos. Cada dia um ano, pela conta da borboleta. - Ele riu de seu filosofar. - Ouvi dizer também que as borboletas vêm da boca dos anjos.
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 267-8.
- Como se mede algo assim? - Lorenzo ponderou. - Um verão que vale a pena ser vivido é longo para a borboleta. Mas nós queremos décadas. Entretanto, de que valem se estamos empilhando perdas sobre perdas? Preferiria contar dias do que anos. Cada dia um ano, pela conta da borboleta. - Ele riu de seu filosofar. - Ouvi dizer também que as borboletas vêm da boca dos anjos.
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 267-8.
Sobre a busca (interna)
Se meu pai estivesse morto, eu haveria de alcançar seu túmulo. Eu haveria de alcançar seu fantasma, se acreditasse nessas coisas. (...) Um a um fui ticando os países vazios da presença de meu pai. Entretanto, eu agora possuia seus óculos, seus sapatos e a descrição de um homem se desintegrando em Edimburgo. Ou talvez, seja eu a me desintegrar?
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 249.
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 249.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
About the silence
I don't want to be the girl who has to fill the silence
The quiet scares me 'cause it screams the truth!
- Pink, in Sober.
Oh, no, no, no...
The quiet scares me 'cause it screams the truth!
- Pink, in Sober.
Oh, no, no, no...
domingo, 24 de novembro de 2013
Depois da curva, ali.
Então deixo esse vento passar, e com ele vai o furacão que passava aqui dentro. Passa, passa longe, para lá da curva. Sobe a serra e desce correndo o monte. Por hoje é só. Deixo (só) passar a tempestade.
Céu negro, sem estrelas.
Céu negro, sem estrelas.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Aquilo que te digo entre os lábios
Olha, olha nos meus olhos. Não, desculpa, melhor que você não olhe. Não, não olhe porque há coisas que eu não consigo dizer se for olhando nesse teu brilho castanho, nessa tua verdade leve e brilhante. Não, não é que esteja nervosa, apenas não queria precisar dizer essas coisas, mas eu preciso. Eu preciso porque, sabe? A gente tem algumas coisas juntos, algumas coisas que eu queria dizer, mas que eu não estou certa de se posso, se devo. Não, não é porque não estou certa, é porque não queria ter que dizer para você. Olha, o céu está tão lindo lá fora, e a gente aqui dentro. Podemos dar uma volta enquanto conversamos. É que eu me sinto melhor se for lá fora. Não porque eu vou sair correndo e te deixar sozinho, não. É porque eu preciso respirar entre cada palavra, porque eu preciso me colocar em cada palavra e se eu não puder respirar eu não consigo te dizer tudo isso que eu quero, sabe? Não, não vai embora. É cedo. Não, eu sei que é tarde, mas eu queria que ficasse mais um pouquinho, porque. Hã? Não, nada. Eu te levo até a porta.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Sobre a (in)dependência no processo terapêutico
Moro há cinco anos na cidade em que estou e permaneci aqui por conta da Universidade. Destes 5 anos, fiz terapia em três deles, com duas psicólogas diferentes. Agora, estou no momento da terapia em que não preciso mais de sessões semanais, estou mais independente. Muito porque tenho apresentado um quadro de grande de avanço, embora com pequenos tropeços e recaídas pelo caminho - uma vida bem montanha russa, como na realidade é a nossa existência - mas também porque o ano está acabando, a faculdade também, e em menos de um mês eu estarei em outra cidade bastante longe da minha psicóloga. Não vou buscar outra (acho que ela me ofereceu tudo o que eu precisava), pois sinto que é o momento em que eu preciso me virar sozinha e também porque não sei ainda se vou ficar de fato na cidade dos meus pais. Mas acho que estou preparada agora para uma nutricionista e talvez seja este meu investimento das férias, além de me matricular em uma academia lá e não dar tempo de ficar surtando ou achando que não estou fazendo o suficiente.
A anorexia nunca me pegou para valer e embora eu tenha perdido bastante peso em pouco tempo neste ano, por eu ser gordinha meu IMC se manteve no índice saudável. Ainda assim, hoje estou no meu menor peso com a altura que tenho e o mesmo de 9 anos atrás, quando eu tinha 12. Mas ainda assim é saudável e o melhor, eu estou comendo sem tanta seletividade, como foi a minha vida toda, embora não tenha aberto mão de ser vegetariana (isso acho que eu não abro mão). Faço exercício físico todo dia, às vezes é o T. A. gritando no meu ouvido, mas em geral, quase todos os dias é pelo puro prazer de liberar o restinho de energia que ficou comigo lá no final do dia. Estou pensando seriamente em investir em uma maratona séria no próximo ano... Preciso treinar mais, mas estou bem a fim mesmo, me sinto quase totalmente preparada para isto.
Então é isso... Acho e tenho sentido ser assim, que a gente fica muito mais leve quando deixa de lado a importância que sempre atribuiu ao fato de estar ou não estar gorda, os medos de não ser aceita, a insegurança acerca de si mesmo... A gente começa a perceber que é excelente como é. E que isto é o suficiente!
E que no meio disso tudo, nossas psicólogas/os foram essenciais, mas a Clínica não é a nossa vida e há tanta coisa lá fora... Assim, eu digo para mim o mesmo que tenho dito aos meus pacientes da Clínica Escola nesse finzinho de ano (estou me formando em Psicologia), que o processo foi excelente e que já somos capazes de produzi-lo lá fora!
A anorexia nunca me pegou para valer e embora eu tenha perdido bastante peso em pouco tempo neste ano, por eu ser gordinha meu IMC se manteve no índice saudável. Ainda assim, hoje estou no meu menor peso com a altura que tenho e o mesmo de 9 anos atrás, quando eu tinha 12. Mas ainda assim é saudável e o melhor, eu estou comendo sem tanta seletividade, como foi a minha vida toda, embora não tenha aberto mão de ser vegetariana (isso acho que eu não abro mão). Faço exercício físico todo dia, às vezes é o T. A. gritando no meu ouvido, mas em geral, quase todos os dias é pelo puro prazer de liberar o restinho de energia que ficou comigo lá no final do dia. Estou pensando seriamente em investir em uma maratona séria no próximo ano... Preciso treinar mais, mas estou bem a fim mesmo, me sinto quase totalmente preparada para isto.
Então é isso... Acho e tenho sentido ser assim, que a gente fica muito mais leve quando deixa de lado a importância que sempre atribuiu ao fato de estar ou não estar gorda, os medos de não ser aceita, a insegurança acerca de si mesmo... A gente começa a perceber que é excelente como é. E que isto é o suficiente!
E que no meio disso tudo, nossas psicólogas/os foram essenciais, mas a Clínica não é a nossa vida e há tanta coisa lá fora... Assim, eu digo para mim o mesmo que tenho dito aos meus pacientes da Clínica Escola nesse finzinho de ano (estou me formando em Psicologia), que o processo foi excelente e que já somos capazes de produzi-lo lá fora!
domingo, 17 de novembro de 2013
Sobre as incertezas da vida
Ela tem muita dúvida como todos têm. Mas nem todos sabem a beleza de saber lidar com a tristeza. Ela sabe. Ela ouve a música que seu coração pede e modela seu ritmo ao seu estado de espírito. Ela dança a coreografia de seus sentimentos, e todos podem ver. (…) Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive.
- Caio Fernando Abreu
- Caio Fernando Abreu
sábado, 16 de novembro de 2013
Sobre coisas que não podem ser ditas
Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende?
(...) Não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo (...) mas nunca, em nenhum momento, essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço.
- Caio Fernando Abreu, in Para uma avenca partindo.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
A melhor sensação do mundo?
Ah, a melhor sensação do mundo é ir dormir com a consciência
limpa, com a certeza de que o melhor foi feito neste dia, e que o melhor é só o
suficiente. A melhor sensação é aquela que se sente depois de uma hora de
corrida, respiração acelerada, ombros suados, para gastar o último tiquinho de
energia do dia. Ou talvez seja olhar as estrelas em um céu negro-azulado em uma
noite quente de novembro. A melhor sensação do mundo é se olhar no espelho, os
olhos, a barriga, as costas, as coxas, os seios; e poder dizer a si mesma com
convicção que não há nada errado com seu corpo. E acreditar nisto. Ou então, a
melhor sensação do mundo seria correr na areia descalça, jogando frescobol ao
entardecer. Ficar ruborizada e muda diante de algo que não queria dizer. A
melhor sensação do mundo é a plena certeza, é a inevitável conquista, é o resultado
perfeito. É saborear melancia geladinha, fofocar com a vizinha, rir a toa e
fácil. A melhor sensação do mundo é fazer sentido. Mas se nada disso fizer
sentido para você, tudo bem. Só, me conta, então, qual a melhor sensação do
mundo para você?
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Sobre o sofrimento e a dor
"Para que serve o sofrimento?, ele costumava perguntar em momentos de inquietação. "É para que as pessoas se apoiem mutuamente", disse certa vez, quando eu tinha dez anos. Saber que não estamos sozinhos pode nos trazer a calma e a afeição que consegue unir estranhos.
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 59.
- Regina O'Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 59.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Sobre a eternidade
Os campos na estrada para a Pádua cintilavam com painços maduros e um exército de cigarras perfurava o ar. Como a garotinha curiosa que fui, certa vez trouxera para meu pai a mão cheia de cascas de cigarras cindidas com perfeição e perguntei o que acontecera com os corpos rachados no auge do verão. Elas se transformaram em pequenos espíritos chamuscados? Os espíritos, então aqueceriam o céu? Meu pai sorrira com aquelas perguntas. Gabriella, ele brincou, elas cantam até rachar.
- Regina O’Melveny, in O livro da Loucura e das Curas, p. 47.
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