Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
sábado, 30 de abril de 2011
Solidão
É sinônimo de estar só. E estar só nem sempre é sinônimo de sozinho. Por vezes se está sozinho, mas no coração há o aconchego de uma mão amiga que está ali há alguns quilometros de distância e que um telefone resolveria qualquer ansiedade ou mesmo um pensamento seria capaz de afastar o medo e a insegurança de não ter ninguém. Porque na verdade tem, porque há um outro alguém. Já, solidão não... Na solidão não há ninguém; apenas há falta, ausência, desconsideração. Da mesma forma, há um outro a alguns quilometros, mas um telefone não dá conta, um pensamento muito menos. Precisa gritar, implorar para que a ouçam. Precisa parar de roer as unhas e controlar o rubor da face... Do que precisa mesmo é de um pouquinho de atenção, precisa de um pouquinho mais de colo, de fragilidade. Era uma mulher forte, disto não havia dúvidas, porém vez ou outra queria ser uma criança frágil brincando com fósforos, queria ouvir a mãe gritar para parar antes de se queimar... Mas e adianta, se mesmo sem brincar a vida já lhe queimara tantas vezes?! Então solidão deve ser ausência de sentido, ou presença de sentidos desconhecidos. Detestava pensar como uma pessimista, como alguém que sente mágoa pela vida, porque não era, não pensava assim. Era decidida, idealizava, tinha sonhos, amava tantas coisas... Embora nesses momentos de ausências não visse nada, não encontrasse nada, mas porque não encontrava não queria dizer que não existiam, apenas que se escondiam tão profundamente que precisava procurar demais para então perceber que as havia perdido.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Vida
A vida é fogo? Ou será brisa leve chegando ao mar?! Disseram-me que é carta marcada, acirrada e assinada pelo destino. Ouvi falar que não permite volta, mas há quem jure que deu mil e uma voltas e sempre conseguiu. E nunca desistiu. Outros, ainda, me disseram para não esperar muito, embora depositar tudo. E, bem no final das contas, acho que vida é indecisão, indefinição. É poço sem fundo tanto quanto é o fundo do poço.
...mas bem lá no fim, me disseram que poderíamos gritar, esbravejar, revoltar-nos contra os deuses. Já eu, suspeito que o mais sensato a se fazer seja aceitar.
...mas bem lá no fim, me disseram que poderíamos gritar, esbravejar, revoltar-nos contra os deuses. Já eu, suspeito que o mais sensato a se fazer seja aceitar.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
Tudo mudara
Tudo mudara. Eram outros. Pareciam serem outros, não mais os mesmos. Ou eram os mesmos, mas com outras roupas, com outros gestos, outros olhares. Parecia um estado variado de alucinação, mas eram outros e ela acreditava que se sentira diferente, eram mais amáveis, ela era mais amada. Ao se olhar no espelho se via como uma criança, uma menina com quem ninguém se importa, mas que todos amam. Uma menina que ainda sorri quando vê borboletas voando entre as flores do jardim. Uma garota que ainda implora quando vê o tempo passar e ainda quer brincar. Queria liberdade, mas também queria amor. E porque amava era tocada e tocava. Quem se importa se perdia a direção de vez em quando?! Quem se importa se ainda anda na contramão?!
Para se perdoar...
E talvez, o que mais a machucava era o fato de não se perdoar. Sabia que não era culpada por tudo, que não tinha como ter controle total sobre tudo, mas ainda assim não se permitia chorar. Outrora era uma culpa engendrada, uma culpa projetada - projetavam nela, mas não agora. Agora era (des)culpa, era ser outra e ainda assim querer ser a mesma. "Não importa o que fizeram de ti. Importa o que você faz com o que fizeram de ti". E aí? É hora de se perdoar. É hora de perceber o que você mesma faz consigo e de se dar outra chance. Eis o momento de reavaliar.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Um cantinho ainda seu
Precisava sonhar. Precisava encontrar um pedacinho, naquilo tudo, que lhe pertencesse, que fosse efetivamente seu. Não eram mais sentimentos jogados ou improvisados. Agora, eram ordens e sentidos que se davam em alto e bom tom. No entanto, persistia uma confusão implícita. Permanecia dentro de si uma fuga do inesperado, uma imensa vontade de não encarar. O afastamento também lhe fizera mal. Ela sentira que ele também a sufocava e não se conhecer suficientemente bem para compreender como ele se manifestava também a deixava confusa e magoada. Mas era uma mágoa dissimulada, uma mágoa deslocada do imenso buraco aberto pelo outro, para um caminho desconhecido, porém dentro de si.
domingo, 17 de abril de 2011
Questionamentos
Ah, querido, mas e quando as palavras doces que você escreve soam como facas? E quando as coisas se tornam tão contraditórias que não parecem mais serem as mesmas?
E se eu contar o que fiz?
E se eu pedir desculpas?
E se chorar amargamente?
Adianta trocar o nome? O cheiro? A cor?
Você quer que eu fique?
Quer um tempo para pensar?
Ou me odeia para toda a vida?
E se eu contar o que fiz?
E se eu pedir desculpas?
E se chorar amargamente?
Adianta trocar o nome? O cheiro? A cor?
Você quer que eu fique?
Quer um tempo para pensar?
Ou me odeia para toda a vida?
quinta-feira, 14 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
... e então chorei.
Por tudo aquilo que quis ser. Pelo que almejei, pelo que desisti. Chorei por não sentir e por mentir que sentia. Por esperar. Chorei porque queria mais e não tinha. Porque contei. Chorei porque fui amada e não correspondi. E então chorei, mas parei. Parei e caminhei.
"Ontem eu chorei.
Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento."
- Caio Fernado Abreu
- Caio Fernado Abreu
quarta-feira, 6 de abril de 2011
O que fica
Hoje o coração apertou. O sono sumiu e o peito se fechou. Novamente o sufoco. O sufoco diante da perda ou, melhor dizer, diante do medo da perda?! Se foi. Subiu no avião e se foi, mas o outro ficou. Ficou só olhando, só pedindo, só implorando em silêncio para que não fosse. Mas não a ouvia. Da mesma forma com que eles não a ouviam. Ela sentia falta. Ela andava no ônibus que tanto balançava e gritava sem sons para que aquilo parasse, para que tais pensamentos a deixassem, saíssem de sua mente e a libertassem. E novamente, novamente sentia que faria qualquer coisa para que parasse. Qualquer coisa.
domingo, 3 de abril de 2011
E agora?!
E agora? Agora chora! Agora esquece, agora treme. Agora pega tuas culpas e desculpas e atira janela a fora. Agora tranca a porta por dentro, mas abre por fora! Agora fica. Fica você também do lado de fora! Agora escolhe o nome, a música, a hora. Agora atira a palavra pela escada e termina a tortura, bem agora! Agora esquece, pensa, toma, engole e chora. Mas só agora.
Sobre poços profundos.
Fechara os olhos, mas ainda assim o via. Era um sentimento estranho, diferente daquele que vinha sentindo até então, pois este lhe invadia de tal forma que tomava corpo, era a cristalização do medo e da insegurança diante dos primeiros passos.
Claro que engolir meias palavras causavam-lhe uma indigestão danada, mas ainda assim era melhor do que deixar as meias palavras invadirem sua vida e lhe causarem grandes estragos. Já havia se visto no fundo do poço tantas vezes... Na água escura do fim do túnel ecoava apenas ela. Acreditara que a vez anterior sempre tivesse sido a mais dura, a mais difícil e a queda mais profunda. Tanto se surpreendia quando se deparava com circunstâncias ainda maiores. Porém, desta vez, havia um diferencial: poderia não saber o tamanho do poço do outro, mas se fosse ainda mais fundo no seu, aí não se garantia. Muito poderia acontecer, até mesmo um muito que não lhe permitiria volta!
Claro que engolir meias palavras causavam-lhe uma indigestão danada, mas ainda assim era melhor do que deixar as meias palavras invadirem sua vida e lhe causarem grandes estragos. Já havia se visto no fundo do poço tantas vezes... Na água escura do fim do túnel ecoava apenas ela. Acreditara que a vez anterior sempre tivesse sido a mais dura, a mais difícil e a queda mais profunda. Tanto se surpreendia quando se deparava com circunstâncias ainda maiores. Porém, desta vez, havia um diferencial: poderia não saber o tamanho do poço do outro, mas se fosse ainda mais fundo no seu, aí não se garantia. Muito poderia acontecer, até mesmo um muito que não lhe permitiria volta!
sábado, 2 de abril de 2011
Não sei bem de onde vem
sexta-feira, 1 de abril de 2011
(trans)Formações
“Sente-se diante dos fatos como uma criança e prepare-se para sacrificar todas as noções preconcebidas, siga humildemente por toda parte e por todos os abismos a que a natureza o levar, ou você não aprenderá nada.”
- T. H. Huxley, in Envelhecer: histórias, encontros, transformações
- T. H. Huxley, in Envelhecer: histórias, encontros, transformações
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