Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade
completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que
também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à
realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa
condição humana, que é contra qualquer “infinito” (p. 15).
Mas que cada um reflita sobre o significado que se encerra
mesmo em nossos pequenos hábitos de todos os dias, em todos esses objetos
nossos, que até o mendigo mais humilde possui: um lenço, uma velha carta, a
fotografia de um ser amado. Essas coisas fazem parte de nós, são algo como os
órgãos de nosso corpo; em nosso mundo é inconcebível pensar em perde-las, já
que logo acharíamos outros objetos para substituir os velhos, outros que são
nossos porque conservam e reavivam as nossas lembranças (p. 25).
In: LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
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