A morte pergunta-se onde está agora anfitrite, a filha de nereu e de dóris, onde estará o que , não tendo existido nunca na realidade, habitou não obstante por um breve tempo a mente humana a fim de nela criar, também por um breve tempo, uma certa e particular maneira de dar sentido ao mundo, de procurar entendimentos dessa mesma realidade. E não entenderam, pensou a morte, e não podem entender por mais que façam, porque na vida deles tudo é provisório, tudo precário, tudo passa sem remédio, os deuses, os homens, o que foi, acabou já, o que é não será sempre, e até eu, morte, acabarei quando não tiver mais a quem matar.
- José Saramago, in As intermitências da morte, p. 167-8.
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