Não há de ser nada, mas sei que a madrugada acaba quando a Lua se perder.
Não há de ser nada, mas sei que de nada tudo sobrevive, mesmo quando não se tem mais espaços para dar aconchego à tua dor.
Não há de ser nada, mas, meu bem, acaba.
Não tentes mais acertar pedras no horizonte estando à janela de teu quarto. Quantas e quantas vezes já não as arremessastes? E quantas chegaram a teu objetivo? E quantas voltaram para ti? Quantas acertaram tua janela, teu vidro, teu rosto, tua alma? Não brinques de ser deus. Olha, ele não gosta. Olha, ele não aceita. Olha!, olha para você com um pouco mais de calma, com um pouco mais de alma. Olha para ti como se pudesses ir muito mais longe, ir muito mais leve. Aliás, te disseram, não é? "Se não for leve, que a vida leve"! Pois então, deixa partir. Nunca suficientemente leve como uma pluma, nunca como uma folha seca de jasmim caindo da janela do apartamento; mas pesada como rocha, como âncora de navio desgovernado que é arremessado ao mar. Que te freia. Algo tão grande que pode te frear por caminhos donde só tu és capaz de arrancar.
Deixas-te transbordar, meu bem. Não há como oferecer nem mais, nem menos do que tens - é tua limitação enquanto humana. Então, se o copo anda meio cheio, deixas que o esvaziem de vez. Porque estás tão cheia disso que transbordou, virou um bombardeio que se transpassou e atingiu alguém. Alguma coisa. Cheia de vida, mas quebrada por dentro. Cheia de tudo, mas vazia no entorno. Cheia de lembranças, recordações. Vazia de encontros, encantos. Repleta de cantos.
Ei, não há de ser nada... Então, vamos! Acaba, encerra antes que te cobrem com juros. Mas olha, chega de mentiras, sim? Pare de esconder, que quando te escondes a encontram justamente porque estás no escuro. Te pareces com todo mundo.
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