Sobre "as coisas que aprendi ao ficar doente"...
Lá estava eu, em meu segundo atendimento em menos de 24 horas, na emergência do hospital.
Para começar, eu achei bonito, até certo ponto, quando duas senhoras sentadas ao meu lado falavam sobre a fragilidade do ser humano. Foi realmente muito bonito ouvi-las conversando sobre a dor e sobre não haver qualquer diferença entre cada um de nós, que estávamos ali, "todo mundo passando mal. Não importa se é branco ou negro, se é pobre ou rico, se está pagando particular ou se é pelo SUS..., o ser humano é muito frágil"! E é mesmo, por isso é que é preciso ser e ter cuidado, em cada detalhe. Porém, o que veio a seguir me incomodou, quando uma delas comentou o descaso que sentia por parte dos profissionais que estavam "lá atrás, no horário de descanso, nem ligando para todo mundo que estava passando mal na recepção". Opa! Gente, PROFISSIONAL DA SAÚDE TAMBÉM É GENTE! Profissional da saúde, para cuidar, também precisa de cuidado... Precisa trabalhar até 8 horas (quando não possível menos!) por dia, ter horário de almoço para comer sossegado, tirar o jaleco e ligar para casa, conversar com as pessoas que ama, se encontrar com os amigos. Profissional da saúde também precisa ir ao barzinho ou àquele restaurante bacana no final de semana. Profissional da saúde também tem estresse, pega atestado por doença, perde a paciência. Profissional da saúde também é gente! E merece o horário de descanso, de se desligar das pessoas que vai atender daqui a pouquinho, quando a folga acabar. A conversa reacendeu em mim antigas inquietações, lá do 4º ano da graduação, em Psicologia do Trabalho, quando eu relatava a uma professora fantástica que marcou minha vida e minha profissão sobre o quanto me angustiava pensar em "quem cuidará dos cuidadores?". Então eu respirei fundo e lembrei que tem que ter paciência, a vida é assim mesmo, nem sempre quando a gente quer, e é claro que o tempo se arrasta quando se sente dor (e eu que o diga!), mas sabe?! Foi com gentileza que eu ouvi aquelas senhoras dizerem aquilo, ali no meu cantinho, quietinha com a minha dor e com a minha paciência, eu juro que entendo, mas jamais poderia concordar. Só que, no final das contas, eu achei que tudo bem... Porque eu entendo que aquela médica linda, que me atendeu e depois me deixou esperando sim, por uma hora, enquanto meu hemograma ficava pronto, a medicação fazia efeito, e ela tirava seu descanso no meio do turno; me atendeu com a maior gentileza e docilidade do mundo porque ela estava bem com a sua profissão e o caminho que escolheu para si. E reflexo disto foram as informações claras, precisas, e a eficiência com que me orientou quanto aos cuidados que eu precisaria tomar pelos próximos dias. Ela também me entendia. E o bom e velho costume continua valendo... Gentileza gera gentileza! Uffa, ainda bem!
E só para constar... Ando MUITO MUITO MUITO feliz pela minha escolha de ser profissional Psi, depois de tudo! Foi a escolha mais acertada da minha vida - e olha que eu acho que fiz muitas escolhas acertadas!
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