Quis fazer um programa mais hippie hoje! Resolvi trocar meu tênis e a academia pela areia da praia. Faz tempo que eu observava várias pessoas correndo na areia e, embora eu adore correr na praia, sempre vou pelo calçadão. Que tal tentar algo diferente hoje? Sempre tive a impressão que caminhar na areia cansa muito, afinal mais de uma vez caminhei pela praia com amigas e me sentia exausta com poucos minutos. Logo eu, a corredora de alguns quilômetros há anos.
Pois bem, o dia era hoje!
Acordei cedo, levantei, tomei o café levinho de sempre, já que sempre faço atividade física pela manhã, e me mandei de top e chinelo havaianas para a praia de Icaraí. Dia meio nublado e não tão quente. Ótimo para fazer exercício ao ar livre. E embora fossem recém 8h de uma manhã de terça-feira de Carnaval, encontrei muitos companheiros da jornada dos exercícios físicos matutinos andando e correndo por lá. O que mais chama atenção? Muitos deles – e isso quer dizer uns 90% - eram idosos! Sim, idosos, desde os mais jovens, de 60, 70 anos, até idosos que me pareceram bem mais velhinhos, na casa dos 80, talvez 90 anos. Eu correndo que nem maluca, para não baixar meus 11km/h da esteira, e eles, cada um no seu tempo. Dei duas voltas na orla e encontrei alguns as quatro vezes, entre minhas idas e voltas. Eu pude observar por alguns segundos aqueles cabelos brancos, os olhos profundos, as peles flácidas e de múltiplas tonalidades; as múltiplas etnias também: descendentes de europeus, asiáticos, negros e os bem "brasileiros". Todos compartilhávamos a mesma praia! E me parece, sabe o quê? Que eles adoram estar lá! Que eles estão curtindo muito aquela manhã não tão quente de uma terça-feira de Carnaval, que estão curtindo seus companheiros de jornada nos exercícios matinais, já que muitos estavam acompanhados, em casais e entre amigos. Então, me parece que aquilo era mais que uma caminhada ou exercício físico, era também convivência, socialização, qualidade de vida. Era exercício físico por prazer, pelo prazer de pisar na areia fofinha, pelo prazer da conversa animada e sem propósito maior, pelo prazer de estar junto, de poder olhar a vida com aqueles olhos penetrantes de quem já viu algumas coisas pelo caminho. Era simplesmente um estar lá e se satisfazer com aquilo.
Depois da minha corrida, quando voltei para a calçada e coloquei os chinelos, quando senti uma dorzinha leve na panturrilha, eu pensei nos velhinhos da orla da praia de Icaraí. Quero chegar lá também, eu quero chegar a estar assim: estar porque quero, não porque preciso; com quem quero, não porque preciso; quando quero, não movida pelo resultado, mas pelo processo.
E a corrida? Bem, em meia hora eu sentia o mesmo cansaço de duas horas na esteira ou na rua, então, a não ser que alguém me jure que fazendo isso eu não vou ter celulite nesta e nas próximas três vidas, eu continuarei correndo com meus tênis só na calçada, e sentindo a areia fofinha quando for para estar de biquíni, na praia, só pelo prazer de estar lá.
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