O telefone toca e ela atende. Atende, porque não conhece o número. Não sabia que era ele. Se soubesse, talvez não tivesse atendido. "Ei, desce aqui", ele pede. Algo em sua voz a comove. Ela vai? Depois do dia difícil? Depois do choro engolido no trabalho? Depois das palavras tortas, um pouco atropeladas?
Sim, ela vai. Mas antes ela respira fundo, retira o lixo. Ela demora mais do que deveria. E ele espera. Espera sentado no muro do prédio, com aquela camisa cheirosa, com aquele olhar de quem espera ganhar um pouco mais do que ela oferece, aqueles olhos castanhos profundos, aquele sotaque carioca malandro, aquele amor sufocante que ela jamais tivera.
Ela desce de chinelo havaianas. Ela desce com o cabelo bagunçado, de óculos de grau. Ela desce com os olhos vermelhos e o rosto um pouco inchado.
Ele bate na porta com suas dores. Ela ouve sem abrir o coração.
Ele fala com sinceridade. Ela fecha os ouvidos para não entender.
Ele ali, pedindo para entrar. E ela tão distante... Querendo se proteger.
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