Bicho estranho é o bicho homem. Havia um casal que se amava muito. Moravam numa casa antiga e velha. Por mais de uma vez a casa foi visitada por ratos. Não, eles não vinham à casa porque ela era velha, mas porque era casa e ficava, como quase todas as casas, no nível da rua. Não era um apartamento lá no alto. Era uma casa, e segundo informações colhidas pela mulher (era pesquisadora), ratos-entram-em-casas. Logo que soube disso a mulher foi tomada por dois afetos: no coração, um abatimento. Ai que horror, acordar à noite e encontrar um rato a andar pela mesa da cozinha! Na alma, uma determinação: ou ela acabava com os ratos ou os ratos acabavam com ela! Mais pesquisas. A solução? Gatos são os predadores naturais dos ratos. Bimba! Encheu-se a casa de gatos, ela passou a amá-los, não mais porque eram os predadores naturais dos ratos, mas porque eram gatos, esses seres adoráveis! Mas disso ficou um resquício no coração, uma sequela mesmo. A mulher tinha sobressaltos. Andava pela rua e se via uma pequena folha a mover-se com o vento, dava um pulo: um rato??!!! Era assim. Um susto ficou instalado no coração da mulher e a qualquer sussurro do mundo, pronto, ele virava um susto enorme! A casa velha nunca mais foi a mesma porque a mulher a habitava com esse susto no coração. Os gatos não eram predadores naturais para esse susto. Será que haveria os predadores de susto no coração? Nesse tempo, o casal apaixonado estava empenhado na construção de uma casa nova. Todo sábado eles visitavam a obra da casa nova. Para eles a obra era um sonho e um enigma! A casa nova, desejada, planejada, desenhada nos ares mil e uma vezes, agora se desenhava também nas pedras e no concreto. Mas aquilo era um enigma, eles entravam na obra, que mais parecia com escombros e não entendiam o que viam. Aqui é a sala! E o outro logo dizia: ah é? Pensei que fosse a cozinha... E essa parede aqui, será que vai ser o que? E ficavam horas nesse jogo de adivinhação. Era divertido, eram os sonhos, o amor, a vida que ia se fazendo naquelas perguntas sem respostas. Acontece que a mulher ia para o sonho em obras com o susto no coração. A coisa tinha se instalado com força naquele pobre coração. O marido, cheio de amor, percebia o susto mesmo quando ele estava silencioso, mesmo quando nenhuma folha se agitava no chão. O homem sabia o que estava no coração de sua amada. Notava que a mulher não visitava a obra da casa nova com o mesmo brilho nos olhos de outrora. Então, ele começou a falar-lhe ao coração, como só os homens apaixonados sabem fazer. Apontou para o terreno nos fundos da obra e disse: Aqui é tão fresco, né? Sente a brisa! É a mata, olha que linda! A mulher olhou a mata, sentiu a brisa e se enroscou nas doces palavras do seu amado. E ele seguiu em suas ponderações, percebendo, sem dúvida, que suas palavras acalmavam aquele coração aflito. Sabia que aqui não tem ratos?? Ele disse. Os olhos da mulher foram invadidos por uma luz solar: Ah é?? Aqui não tem ratos??? O sorriso já chegava aos lábios da mulher... mas ali naquele sorriso a pesquisadora veio sorrateira soprar uma pergunta. Pesquisadores são seres que não descansam nas soluções apressadas. Silêncio. A mulher-pesquisadora fez-se interrogação e disparou: E por que aqui não tem ratos ? O homem apaixonado respondeu na lata: Porque tem cobras!"
- Marcia Moraes, in Facebook.
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