Que perder peso autoriza um biquine menor, uma tarde na piscina,
saia curta, vestido justo, brigadeiro no final de semana e etc, etc, todo mundo
sabe. Mas quero falar sobre as coisas obscuras sobre fazer dieta, aquelas que
ninguém conta, que ninguém comenta.
Por exemplo, ninguém me falou que emagrecendo 15 quilos,
obviamente, por consequência minhas calças não me serviriam mais e ficariam
feias em meu corpo se as vestisse. Ninguém disse que renovar um guarda roupa
inteirinho custa muuuuuito caro para quem não tem hábito de fazer isto. Então,
ontem, peguei minhas cinco calças jeans mais bonitas, novas e de marca, e as
ofereci em um brechó, para ver se eu conseguia alguma coisa com elas e o quão
espantosa não fiquei ao perceber que minhas cinco calças jeans (caras!) não
seriam compradas por um valor suficiente para eu comprar nem uma calça nova da
mesma marca – mesmo que quatro tamanhos menor.
Tudo bem, comecei pelo mais fútil, dirão os leitores, mas as
roupas a serem usadas também são importantes, afinal não dá pra ficar pedindo
roupa emprestada para as amigas o tempo todo, não é?
No entanto, tem outra coisa que incomoda muito mais do que
as calças jeans grandes demais que nem pregas resolvem... Todos aqueles que me
incentivavam na dieta, mesmo que não de forma direta, não falaram nada sobre a
baixíssima tolerância ao frio que eu teria. Vivo com frio, o tempo todo. As
mãos roxas como de morta, queixo batendo, braços e pernas arrepiadas. Ninguém
falou sobre os blusões no verão e que duas cuias de tererê gelado me exigiriam
colocar um par de meias. Ninguém falou. Disso ninguém fala.
Ninguém falou também que pessoas que fazem dieta não querem ser
MAGRAS, mas EMAGRECER. Mais e mais e mais. E aí, claro que você começa a se
olhar nos espelhos e parece que seu braço está imenso, as coxas gigantescas, mas
na verdade é só pele flácida, afinal foram gorduras e músculos que o organismo sumiu
em alguns meses. Mas o espaço pertencente a eles ficou. Embora agora, tudo
flácido.
Então, quero dizer o quê? Que tudo isso tem muito pouco a
ver com IMC, taxas de colesterol, etc. Tem muito a ver com uma insatisfação
gigantesca, muitas vezes proporcional ao excesso de peso (se é que ele existe
mesmo), dentro do coração. E nessa lógica, hoje, sou uma pessoa menor, mas com
os mesmos problemas – ou, diria mais, com problemas ainda maiores, porque a
bulimia passou a me acompanhar a cada ida a um jantar ou uma festa, a cada pedaço
de bolo recheado de cenoura em que a irmã anorexia gritava na minha orelha “você
não pode fazer isto”. No final das contas, sou uma pessoa muito maior e mais
cheia de problemas.
Então, talvez seja a hora de perguntar às pessoas que nos
incentivam nas dietas dizendo “nossa, como você está linda” e equiparando linda
a magra, ou “não vá engordar tudo de novo”, etc. etc., se elas podem falar
também sobre as outras coisas pelas quais passam as pessoas que fazem dieta. E
também nos permitir avaliar, em nome da felicidade, se precisamos mesmo de uma
dieta e sob quais condições.
Para que seu mundo não vire um “inferno diet”, pergunte-se
sobre o que há por trás da sua dieta.