terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Joana e as cores

Hoje ela saiu meio cansada. Joana quase nunca é daquelas pessoas animadas, que acordam cedo, fazem tudo, e saem de casa com um sorriso no rosto, cumprimentando todos os vizinhos que vão encontrando pelo caminho. Mas quase nunca é também daquelas que não abrem a boca nunca, andam cabisbaixas ou têm um desinteresse furtivo pelo mundo. Joana é mais ou menos. É na medida. Nem tudo aquilo, nem tudo isto. Mas hoje? Ah, hoje ela acordou com uma áurea diferente. Ela caminhou meio sem rumo e sequer parou para observar as vitrines dos óculos de sol. Dos vestidos. Dos anéis que ela nunca vai ter interesse em comprar. Ela não demonstrou qualquer interesse em ler os cartazes de promoção do hortifruti, nem perdeu a paciência com qualquer conversa sem graça de um ou outro grupo desses do whatsapp. Joana acordou displicente e assim seguiu o dia. Almoçou qualquer coisa sem graça – o que ela não lembra. Saiu de um restaurante medíocre porque pouco lhe interessava a fachada. Andou como tantas outras pessoas medíocres que ela encontra dia a dia enquanto caminha pela rua, sob o sol quente do meio dia. Transpira como todo mundo na saída do trabalho, nessa cidade em que não faz frio nunca. Alguma coisa mudou em Joana nos últimos dias. Ela perdeu o brilho, perdeu as cores, voltou a usar preto-branco-cinza. Sequer a vida lhe parece mais cinza. É preta. Preta como nunca antes vira.