domingo, 17 de maio de 2015

Sobre a vida

Tem coisas na vida que a gente não pode controlar.
Não pode entender.
Não pode aceitar.
E é isso, a vida é isso.

sábado, 16 de maio de 2015

A realidade como pode ser: a vida tecida pelos pincéis de Frida Kahlo

Frida Kahlo foi uma das mais ilustres artistas do século XX. A pintura nasceu e viveu no México e, por meio de sua arte, expressa toda a fragilidade do ser humano, sendo que suas criações são atuais ainda hoje.
Frida é simples. Simples pela autenticidade de suas obras, que em verdade não têm nada de simples, mas que são de uma simplicidade sem igual. Com sua arte, Frida retrata a aproximação entre a arte e a angústia do ser humano. Parece que sua arte foi, em verdade, uma forma de elaboração de suas próprias dores e lutos – da infância difícil, da adolescência vazia, do acidente trágico no bonde, da paixão que não é correspondida, da arte que não se faz compreendida.
Em seus quadros, Frida retrata sua vida antes e após o acidente fatídico que a deixou acamada por um bom tempo e com a mobilidade reduzida, embora sem nunca ter deixado de tocar a todos com o que tinha de mais potente: uma tela e algumas tintas e pincéis, além de uma mente à frente do seu tempo. E é com eles que Frida encanta e desencanta – denuncia as incongruências sócio-políticas vividas por toda uma geração. Com sua obra, Frida nos passa uma mensagem. Ela nos prepara para anos difíceis que ainda estariam por vir, tempos em que sofrem muito aqueles que são sensíveis, que assumem diante da vida uma postura um pouco mais aberta e acolhedora. Em sua vida, a expressão artística entra de maneira mais incisiva justamente em um momento de convalescença e torna-se a razão do próprio existir. A dor lhe dá sentido ao fazer sentir. Frida dói. Por dentro, por fora, nos ossos, na alma e no coração. Frida sobre e é por sofrer que vive.
Embora a princípio a arte seja para ela a expressão de uma atitude narcísica, expressão individual e individualista de suas próprias dores, ela não deixa de tocar a todos que a apreciam, na posterioridade, por dar forma àquilo que é capaz de desintegrar e dilacerar ao construir um sujeito. Suas obras se compõem através de cores, formas e palavras. Frida pode, assim, aventurar-se em recomposições de sua forma, buscando a integridade de sua própria imagem.
O mais brilhante, no entanto, é a acessibilidade com que escreve sua história aliando pintura e escrita, a exemplo seu Diário, um verdadeiro romance traçado por fragmentos, por frases, por insights, despropositados e tão propositivos. Eles orientam e dão legitimidade às vivências de sua autora. Frida sofre e, porque sofre, cria e produz o belo da Arte, aquilo que de mais puro ela pode oferecer: sua Alma em cores e riscos. Há um lirismo que intercambia escrita e imagem. Ou seja, Frida recorre à escrita poética desde sempre para retratar a si mesma. Seu diário parece ser apenas uma consequência, dá continuidade histórica à necessidade precoce apresentada pela pintora, de viver e reviver sob a escrita poética. Curioso é que ela não deixa de lado também a autenticidade da biologia humana, pois sabe retratar o próprio corpo e seus detalhes de forma nua e crua sem, no entanto, se fazer grosseira ou superficial.
E, é em um balé contemporâneo e surrealista que Frida trilha passos leves e repletos de encantos, encantando espectadores, entre formas, cores e palavras. Talvez não se tenha ainda vivido outra artista tão completa quanto Frida, em termos de releitura poética da realidade: Frida denuncia o Estado opressor e machista de sua época, ao mesmo tempo em que emana o que há de mais belo na cultura mexicana. Frida é capaz de resgatar a arqueologia e a arte indígena, como desejou seu pai, ao mesmo tempo em que reelabora conflitos pessoais e coletivos atuais de toda uma geração, ligando-os à sua própria experiência, nas formas da tradição mexicana. Tudo isto se faz presente nos motivos, cores e formas traçados pelos dedos de Frida. Dedos quentes, dedos soltos, dedos mortos.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Sobre corações expostos

"Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade", já dizia Clarice. Tenho começado a mudar faz um tempo, e os passos são de tartaruga. São lentos, rastejam, se movem aos poucos e em movimentos sutis. É contrastante com a velocidade suicida com que passa o tempo, com que se movem as ruas, os carros, as cidades. A mudança é lenta e nem sempre previsível, o passo às vezes é em falso. Tudo dói um pouco, tudo carrega consigo algumas pedras do tamanho de um morro no centro do nada, um imenso vazio. Como se tudo fosse urgente, inclusive correr, se esconder da vida e disto que chamam amor.
Viver dói um pouco, é preciso expor algumas marcas que nem sempre estamos contentes em mostrar. Aliás, em geral, temos medo de expor cicatrizes um pouco ainda abertas, mas se viver é uma delas, parece que a cada dia ganhamos novas marcas, feridas abertas, que podem ser expostas ou não, mas que ficam ali, à superfície, e ninguém precisa procurar muito para ver. Nós nos entregamos, mesmo sem querer, acabamos deixando nossas ataduras caírem e muitas vezes o medo é tão grande que nos apavoramos, e ficamos confusos, desastrados, diante de tantos paninhos quentes que insistimos em fazer malabarismos para manter nos locais adequados. Mas, onde seriam tais lugares? O que deveríamos ou não deveríamos mostrar?
Há muita gente por aí, andando com o coração na mão, à mostra e suscetível aos novos contatos, novas relações. Não que isto seja bom, ou ruim, mas faz parte da fragilidade humana. Abrir o coração e deixa-lo livre por aí tem lá suas vantagens... Todo mundo já se imaginou vivendo uma paixão louca, daquelas que você conhece em uma hora o grande amor da sua vida, viaja, têm noites românticas incríveis e passa o resto da vida com essa pessoa. envelhece ao lado dela. Constrói castelos de sonhos que no final são sonhos em formato de castelos - fortes e imponentes em uma vida vazia ou cheia de qualquer coisa.
Mas, infeliz - ou felizmente - poucos são os abençoados com tal dádiva. Em geral, encontrar alguém que você julgue que mereça entregar seu coração é mais difícil que a loteria federal. Exige uma seleção dura - e é bom que exija mesmo! Tudo bem caminhar lento e desapressado, tudo bem estar mais aberto, mais sensível ao mundo e às ofertas do mundo carnal, só não é justo consigo mesmo se jogar sempre de cabeça, mesmo sabendo que a poça é rasa e poucas vezes justa.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sobre ter coragem - em uma caixa de lata

Enfrentar o vazio é mesmo um ato de coragem, muita coragem. Olhar para a morte, olhar para a tristeza, olhar para o vazio e encontrar beleza neles, requer muita coragem. E eu achava que tinha coragem de sobra, pois me senti corajosa em muitos momentos de minha vida. Mas hoje entendo que coragem é algo muito mais grandioso do que eu sentia, pois enfrentar o vazio requer algo maior, uma coragem que eu não sabia que existia e muito menos que eu poderia ter. É essa coragem que precisamos para enfrentar nossa própria sombra, para desviar das muitas distrações que o caminho traz, para enfrentar os olhos desconfiados dos que nos cercam e confundem solitude com isolamento; é preciso muita coragem para olhar a morte na cara e parar para sentir a dor dilacerante que emerge dela; para sentir-se vazio; precisamos de coragem para entender e amar a grandiosidade que existe em nossa completa insignificância. Uma coragem que vem do seu próprio significado: no Latim coragem deriva da palavra “cor”, que tem a mesma raiz que a palavra coração.

- In Da morte, da solicitude, do silêncio.

domingo, 10 de maio de 2015

Memórias

E no meio desse furacão de coisas difíceis, eu tenho respirado fundo e vivido um dia de cada vez.
Como há semanas venho conversando com minha terapeuta, eu não posso controlar tudo, muito menos o desejo das outras pessoas. De tudo, ficam duas coisas: 1) quanto a meu pai, é difícil, mas ele está aqui. E o que pode ser feito, pode ser feito aqui. É isso. É o que está ao meu alcance, por ser psicóloga sim, mas acima de tudo por fazer parte de uma família linda que já passou por várias coisas e sempre se manteve unida e se dando força, mesmo que às vezes aos trancos e barrancos. Nós sempre conseguimos. E vamos continuar conseguindo, cada um fazendo a sua parte - e digo isso com muita esperança de que eu posso viver isso desta forma. Vou conseguir. O amor cura tudo. 2) Quanto à Tu, sim, ela se foi. E o que eu posso fazer agora é continuar amando-a como desde quando a conheci. Com a diferença de que fica aquele pedacinho de saudade que uma visita rápida não pode curar.

No meio disto tudo, muitas coisas antigas voltam... Memórias, lembranças e pequenas frustrações também. Olha, eu não sou corajosa assim não... Mas naquele dia eu sei que fui muito mais corajosa do que podia pensar que seria. E preciso continuar me surpreendendo com minha coragem. Tenho certeza de que aquele dia foi necessário, para que alguma coisa mudasse na vida de todo mundo. Eu sou uma pessoa melhor depois de tudo. Todos somos.
Vai levar um tempo ainda, pra essas dor passar e só ficar saudade, mas o bom é a certeza de que vai passar, sem que ninguém tenha passado ileso por ela. Infelizmente a Tu pagou muito caro, mas nós, que ficamos, repensamos algumas coisas também. Eu sei: a escolha era dela. E se ela quis assim, se precisou que fosse deste jeito, preciso aprender a acolher - mesmo que eu nunca entenda ou concorde!

Então agora, tudo pode ficar bem.

sábado, 9 de maio de 2015

A Down And Dusky Blonde

I fried my head, I'm not a brunette
I'm a down and dusky blonde
I am living in a tree
When I lie in bed I see
Beyond my lover's head the moon, I hear the rain

I am conscious of my voice as a tool
It's more demure
Than your friend the singing queen
With her matinee good looks
She talks like talking from a book
I speak the language of my village, of my street

But I need a friend and I choose you
I tell you the way I feel
The truth is crushing like a heel
I will forget the kiss and feel if you will too

Tell me tales of punk rockin' girls
It's a dim and distant page
But I mostly blame my age
Please make allowances for me
I do not see

It's a drag that you're getting old
I love to think about the year
When we sobbed and then we cheered
The town deserted like a film
The sun was baking dust for fun
Trees were withering by the day
Your torso crushing me
Into the country and the tunnels and the fields

But I need a friend and I choose you
I tell you the way I feel
The truth is crushing like a heel
I will forget the kiss and feel if you will do

I read a book a day, like an apple
But I did not eat
And so the doctor came to me
He said a woman does not live
By the printed word
Forgive yourself and eat

Autumn sped along outside
Trick photography on speed
I was locked inside a room
They made a deal, they would control
The simple things like bodies
But I kept my soul

When I needed someone I chose you
Because the fledgling soul awakes
And on the balcony she quakes
And she is waiting for the sign
And when the brother does not come
And when the sister's much to you, she chooses you

domingo, 3 de maio de 2015

Sobre não poder sentir

"A sociedade não criou espaços para se viver em sofrimento”. É triste alguém não poder se apresentar conforme seu estado emocional, sacrificar todos os dias a possibilidade de dizer como realmente se sente e, assim, buscar uma corda para subir do fundo do poço, esse sufoco angustiante de travar as lágrimas que o fará amarrar a mesma corda no pescoço.

- Maria Rita Kehl.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Chateada

Eu tive uma compulsão hoje, depois de muito tempo!
Não sei se foi compulsão também ou se eu só estou chamando assim. O caso é que eu devorei uma lata de leite condensado sozinha. Fiz brigadeiro e comi tudo - hoje e ontem! E claro, depois, ficou aqui a dona culpa e uma vontade gigante de vomitar tudo. Mas eu não vou fazer isso porque sei que ter que lidar com isso vai ser ainda pior do que lidar só com a culpa por ter comido. Ah, estou chateada! Estou muito chatada comigo, porque acho que não podia ter escorregado assim... 
E com um pouquinho de vergonha também. Fiquei aqui pensando... Tenho que falar sobre isso! Mas eu não estou com coragem para falar isso para a minha terapeuta. Nem acho que terei coragem de dizer para ela no começo da semana, quando nos vermos... Está meio difícil, sabe? Estou com muito medo de que volte a acontecer e eu não quero a bulimia nem a anorexia presentes na minha vida mais!

A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

- Por Elizabeth Bishop.