sábado, 30 de agosto de 2014

O dia em que ela largou as bonecas

Trocamos as bonecas pelo trabalho. Disto, entendo faz um tempo. E até mesmo antes de terminarmos a faculdade já sabíamos. A gente sempre agiu como "profissional". Talvez até mesmo durante o colégio, o ensino médio, quando o vestibular era a única escolha. Exata, mas incerta. Era assim e sabíamos havia algum tempo que seria. Lá no finzinho do ensino médio as coisas começaram a mudar. Eu que mudei na verdade, mas sabemos que foi apenas em partes. Foi apenas de cidade, mesmo que muitas vezes tenha parecido um outro universo. Eu escolhi as minhas, você continuou escolhendo as suas. Depois de um tempo, pouco tempo, na verdade, você já tinha muitas mais certezas que eu. Mas eu tinha a mais importante de todas: a de que nada mudaria. E neste sentido, não mudou mesmo. Continuamos amigas, continuamos quase irmãs. Nos vendo todas as férias, depois comemorando as formaturas, sempre vibrando nos seus aniversários de namoro (porque os "meus" são mais complexos). Você namorou com o Ede, e convidou ele para chamar seu. Eu me apaixonei pela ciência e só levei a sério o meu futuro profissional. Fui ainda mais longe. Não fosse isto, diria que continuei aí, sempre contigo.
Trocamos as bonecas, minha amiga. Trocamos muitos sorrisos por algumas lágrimas muitas vezes. Trocamos algumas seguranças por riscos imensos, mas nunca abismos que não fossemos capazes de ultrapassar.
E hoje o dia é todo teu. Hoje é o dia que você troca muitas coisas por uma casa, um carro, um marido e um cachorro (pegou o trocadilho né?). Meras formalidades, eu sei.
Queria estar aí, mas estou aqui. No entanto, continuo contigo. Continuo trocando as bonecas pelos livros, pelos desafios, pelo trabalho, pela profissão, pelas incertezas da vida.
Mas continuo com algumas certezas também... Além de nossa amizade, a maior certeza do mundo, de que você merece tudo isso que está acontecendo com você!
Que você é linda!
Que você brilha muito!
Que eu me orgulho de um jeito que nem sei dizer!
Parabéns pelo casamento, minha pequena! Aproveite muito essa nova fase!
Assim que estiver aí, vamos abrir um vinho para eu comemorar com vocês!
Te amo demais! Daqui até o fim do mundo! Em nome desses mais de 15 anos de amizade! <3 p="">
 - Para Kelli, com todo o amor do mundo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Anonimatos

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

- Caio Fernando Abreu. Aqueles dois, in Morangos Mofados.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tudo mudando, todo dia

Muita coisa acontecendo, muita novidade nesses últimos tempos...

Primeiro, o mestrado é lindo! Meus professores são excelentes e é muito válida a experiência de conhecer pessoalmente algumas outras pessoas que teoricamente eu lia e admirava, já que a UFF é um dos grandes nomes em termos de pesquisadores da psicologia. Meu orientador é simplesmente um arraso e um poço de compreensão. Até se solidarizou e se dispôs a me ajudar a encontrar um emprego, se propondo a falar com um amigo. Se estendeu a mão para isto, não duvido de que a estenderá em outros momentos durante nosso contato no mestrado e com relação à dissertação.

É claro que com a notícia de que não receberia bolsa de estudos eu me desesperei! Muitos e muitos perrengues, e a vontade louca de largar isso tudo e correr para o Sul... Minha mãe foi muito importante nesse meio tempo e minhas amigas lindas com quem sei que posso contar sempre também. Não me deixaram desistir, nem fraquejar na minha fé. Todos me dando o maior apoio, ajudando a manter a calma e até oferecendo dinheiro, caso eu precisasse (eu tenho pessoas maravilhosas na minha vida, cada dia com mais certeza).

Aí... De repente, vejo uma vaga para psicólogo em um dos zilhões de páginas e sites de empregos que eu virei seguidora e liguei. Ia tentar né? Logo de cara o entrevistador, que é meu chefe, já deu uma dura no telefone, mas marcamos e fui. Chegando lá, ele já avisou "minha função aqui é fazer você desistir"... Com um pé aqui e o outro lá trás, deixei a entrevista acontecer... Por duas extenuantes horas, mais uma hora de testes (personalidade, Q. I., pacote office, e proficiência em inglês) e no fim ele me diz: olha, pra mim você está aprovada. Eu só preciso falar com a minha sócia!
Eu não podia acreditar! Mas sim, deu certo! E é muito, muito, muito, mais do que eu esperava! Um trabalho muito aberto, autodidata e criativo. Tem tudo a ver comigo! E, eu que estava implorando para o gerente do Mac Donalds me dar um emprego de atendente!

Tenho pensado muito nisso... A vida é feita de escolhas, mas também de oportunidades. E eu rezei tanto nessas semanas, para Deus encaminhar tudo da melhor forma possível. Sabia que Ele não tinha me deixado voar tão alto e para longe de casa e me deixar aqui, fazer voltar... Tenho plena certeza de que Ele ouviu, a mim e tantos outros que pediram por mim. Agora, estou precisando rever meus objetivos e planos. Eu tinha certeza de que chegaria no Rio, ia me dedicar ao máximo para o mestrado, sugar o máximo possível da universidade, ir direto para o doutorado, concursos e passar na universidade para o resto da minha vida. De um dia para o outro eu perco a bolsa (que nem cheguei a ganhar, na verdade), o mestrado precisa ser coadjuvante, eu decolo para outros níveis intelectuais e profissionais, outros círculos de pessoas, ganho um salário maior do que o dos meus pais, começo a frequentar eventos de tailler com a elite carioca, sem falar nos círculos de superintendentes das maiores multinacionais brasileiras. Não tenho certeza de nada, a não ser de que isso não veio por acaso, então, vou levar a sério, me dedicar, e colher os frutos... É isso, não é? É isso que é visa, então?
Estou muito feliz! E sei que é recompensa do que tenho plantado a vida toda. Eu mereço isso.

E, como diria Helena Kolody, minha "amiga" lá do Sul, "Sem aviso/o vento vira/uma página da vida".

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Conta bem o que sinto hoje...

Amanhã, talvez
Esse vendaval faça algum sentido
Dá pra se dizer
Qualquer coisa sobre todo mundo

Por hoje é só
Vou deixar passar a ventania
Talvez amanhã
Vento, vela e velocidade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Amanhã talvez
Esse temporal saia do caminho
Dá pra escrever
O papel aceita toda qualquer coisa

Por hoje é só
Vou deixar passar a tempestade
Talvez amanhã
Água pura e toda verdade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Ali, logo ali, ali... depois da curva
Ali, logo ali
Eu vi, eu vim, venci a curva

- Pouca Vogal, in Depois da curva

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sozinha


Olhando para tudo isso, eu tenho a impressão de que o mundo todo está nas minhas mãos. Que tenho acesso a tudo que o mundo poderia oferecer para alguém. Mas eu fico triste, porque não há ninguém para partilhar esse mundo todo. Sei que estou chateada com as mil e uma coisas que vêm não dando certo desde minha chegada a Niterói. Sei também que é essa instabilidade que me fez voltar a sentir aquele sentimento estranho no peito, a voltar a ter episódios de compulsão, privação, vomitar... Sei que tudo isso se soma com o fato de estar longe de casa, com não ter garantias, não ter certezas de nada - uma completa loucura para quem sempre teve cada milímetro de sua vida sob controle.
Clarice me diz tanto quando afirma que "o que estraga a felicidade é o medo"... Porque sinto tanto, tanto medo. Medo de não conseguir, de não ser suficiente, de não ser capaz. Medo de ter que desistir pelo caminho e ficar perdida, por não saber o que pode haver além disso... Medo da vida, enfim...

sábado, 9 de agosto de 2014

Clarice, nomeando o que eu sinto hoje

Sinto agora mesmo o coração batendo desordenadamente dentro do peito. É a reivindicação porque nas últimas frases andei pensando somente à tona de mim. Então o fundo da existência se manifesta para banhar e apagar os traços do pensamento. O mar apaga os traços das ondas na areia. Oh Deus, como estou sendo feliz. O que estraga a felicidade é o medo.

 - Clarice Lispector, in Água Viva, p. 68.

Pra esses dias de viver... Mude!

Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa, mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por um tempo o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente pela praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama… depois, procure dormir em outra cama.
Assista a outros programas de tv, compre outros jornais… leia outros tipos de livros.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas
cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia, o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome um novo tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado… outra marca de sabonete, outro creme dental… tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar outro emprego, uma
nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.Experimente coisas novas.
Troque novamente. Mude de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores de que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!

(Clarice Lispector)

Medo da verdade

Às vezes, é a verdade que você tenta não enfrentar, ou a verdade que vai mudar sua vida.
Às vezes, é a verdade que está chegando há muito tempo.. ou a verdade que nunca deveria ver a luz do dia.
Algumas verdades podem não ser ouvidas como gostaríamos.
Mas elas permanecem, bem depois de serem ditas.
Mas o tipo de verdade que eu mais tenho medo, é aquela que você não percebe, que cai bem no seu colo.

- Gossip Girl

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Grande

Grande, grande, grande. Tudo ficando grande, imenso, aqui na minha frente, aqui no meu corpo, aqui nas minhas roupas. Eu, ficando grande demais para essas quatro paredes brancas. Grande e excessiva, grande e intolerável. Não cabendo mais nas roupas, não cabendo mais nessa vida. Tudo em excesso, à beira da explosão. Sentimentos que sobram, não se satisfazem nunca, jamais se completam.
Desespero.

Sem sentido

Hoje vejo como nossa sociedade está doente, tentando controlar o corpo já que os problemas a gente não controla.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sobre o que sinto e não posso pensar

Não aguento mais isso!!! _ dizemos a nós mesmos. _ Vá trabalhar que isso passa! (você já ouviu um ditado que diz que “cabeça vazia é a oficina do diabo”?)
E a voz dentro de nós não desiste: _ Vá se divertir! Ou... vá comer! Ou... FAÇA QUALQUER COISA... entre na droga da máquina de curar loucura! Faça qualquer coisa... menos ficar no meio desse horrendo lugar de não saber. Fuja do vazio! Faça!... Faça!... Faça! ...Faça!... Faça!... assim é o som da nossa máquina... como se assim, a cada ação, bombeássemos um pouco de loucura para fora de nossos assustadores poços... (será?)
Se pudéssemos ficar, e juntar as pecinhas aos poucos... Ah, se pudéssemos nos aquietar um pouco a mente, sem tantas cobranças, sem tanta tortura, sem tanto peso. Se pudéssemos conviver com a nossa angústia, um pouco que fosse, se a pegássemos no colo como pegamos a um bebezinho assustado, até que ela se acalmasse encontrando nosso peito... E se pudéssemos escutar os batimentos de nosso coração, até que aquele ritmo de vida nos acalmasse, em breve saberíamos... não há como não saber.
Se conseguíssemos transformar a cobrança rígida por respostas em uma oportunidade de descobrir algo novo, de desvendar um mistério... com aquela excitação gostosa que temos quando crianças... tudo seria mais fácil, eu sei que seria.

"A verdade é que temos medo do caos, temos medo do que não sabemos, temos medo e sentimos angústia frente à falta de respostas que tantas vezes nos assombra. Tememos o que parece ser a nossa própria loucura, tudo o que foge dos controles que aprendemos a associar à razão" (Michel Foucault).

Fora de rotina

Hoje eu chorei. E acho que não foi por medo ou qualquer outro desses sentimentos que têm envolvido minha vida nos últimos anos... Chorei e acho que foi de saudade. Veio lá no fundinho uma vontade imensa de correr para casa. Porque estou vendo os dias passarem e eles não parecem fazer sentido. Eu sei que ainda é cedo, as aulas começaram ontem e prometem ocupar muito do meu tempo, que será mínimo quando eu começar a trabalhar. Eu pensei muito na minha mãe, nos meus irmãos, no meu pai. Eu pensei muito sobre fazer as coisas mais perto deles, mais próximo de casa, para que quando der esse desespero eu possa correr para lá, para um abraço aconchegante e também para um pedido de colo.
Eu penso muito sobre o que será minha vida amanhã, com base no que está sendo agora... Ontem eu fiquei me dizendo muito, aliás, dizendo para Deus que "olha, se o Senhor está me testando, para saber até onde eu aguento, já está bom, sabe?" Eu já cheguei bem perto de até onde seria capaz de ir. Ou, as pessoas são capazes de coisas inimagináveis quando desejam muito algo. Mas eu tenho certeza, de que se Ele me permitiu chegar até aqui, é porque há de ter algo aqui para mim. Por que demora tanto, meu Deus? Por que me deixar assim por esses dias todos? Por que me fazer ficar tão forte um "eu quero voltar para casa", e essa vontade louca de ligar e dizer que estou voltando.

Hoje eu tentei voltar a levar minha vida normal. Minha alimentação, meus treinos. Comi direitinho, embora tenha vomitado ontem, ma comecei hoje disposta. Depois do café, levinho, fui à praia e corri por uma hora, voltei e fiz meu plano de flexões e abdominais, tomei banho, o lanchinho da manhã, e agora vou estudar o livro para o grupo de pesquisa. Deus, as coisas vão dar certo, não vão? O Senhor tem um lugar pra mim que eu ainda desconheço, mas que é muito melhor do que eu poderia imaginar que teria, não é?

Ajude-me a continuar confiante, ajude-me por favor.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Para dias frios

Eu tento me acalmar, mas aí, de repente, vem uma onda de tristeza muito grande, um desespero, um medo de que as coisas fiquem muito mais difíceis do que estão. De que eu não consiga um trabalho, mesmo topando trabalhar de qualquer coisa, de perder o mestrado que foi tão trabalhoso para conseguir, de ter que largar tudo porque não tenho condições de me manter aqui. Bate um desespero, sabe? É claro que bate! Estou com medo, com muito medo! Estou triste, estou chateada. Porque não é justo pessoas com condições financeiras tirarem as bolsas de quem depende delas para cursar o mestrado. E esse medo todo está virando um desespero, uma dor.

"O inverno vem chegando depressa, um frio de rachar. Na alma mesmo" (Caio Fernando Abreu).

domingo, 3 de agosto de 2014

Buscando ar

Não sei muito bem dizer o que eu sinto, mas é uma espécie de desespero. É um engasgo na garganta, um medo desesperador e intenso, quase fóbico. Eu sinto meu coração batendo muito apertado, eu sinto as lágrimas nos meus olhos o tempo todo, sempre próximas de me revelarem, de me denunciarem. Eu sinto uma vontade imensa de chorar, chorar e só chorar. Me sinto fraca, trêmula, e com muita dor em algum lugar aqui dentro que eu não consigo identificar, mas que as vezes quase me impede de respirar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Nem sempre se pode rir

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo.
Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A
mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" – ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humor?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.

Caio Fernando Abreu, in Deus é Naja.

Porqué no tiene piedad...

Às vezes eu acordo, e não sei bem onde estou. Ou agora, fico pensando nestes dias... Parece que faz tanto tempo que estou aqui e são apenas alguns poucos dias. Fico pensando em quantos dias eu fui em tal lugar e foi hoje pela manhã, ou há tanto tempo que espero um telefonema e não faz nem 12 horas.
Hoje, acho que o desespero é mais calmo, mas ainda não sei porquê estou aqui. Continuo não sabendo muito bem como algumas coisas acontecem, como escolhemos o que escolhemos, nem porquê a gente existe assim...
Perdi o sono hoje tentando compreender a existência e só ganhei uma noite de sono que provavelmente não vou recuperar amanhã.
Esse coração aqui continua batendo forte, continua apertado. Forte, mas também triste. Corajoso, mas também preocupado. Acho que é isso. São esses os sentimentos mais fortes de hoje. Depois de assistir a Cidade do Silêncio, não posso calar minha voz. Acho que preciso ser um pouco mais forte. Acho que preciso tentar mais. Acho que não é justo, nunca, deixar restos de esperança onde a vida não poupa ninguém. "Há que ser forte e belo", há que ter esperança. Até o fim.