segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sobre sentir demais

Eu gostaria de me sentir bem todo o tempo - de ter a capacidade de me sentar e funcionar sem sentir tanta pressão, sem sentir como se o sangue fosse jorrar dos meus olhos e de meus dedos dos pés e das mãos caso eu não faça alguma coisa.


- Matthew Quick, in Perdão, Leonard Peacock, p. 206.

Desculpas

Eu me sinto como se estivesse quebrado. Como se eu nunca mais pudesse me ajustar. Como se não houvesse mais lugar para mim no mundo ou algo assim. Como se eu tivesse ultrapassado o meu tempo de estadia aqui na Terra, e todo mundo estivesse constantemente tentando me dar dicas sobre isso. Como se eu devesse apenas ir embora. - Tento olhar para Herr Silverman, mas não consigo tirar os olhos das luzes da cidade refletidas na água.

- Matthew Quick, in Perdão, Leonard Peacock, p. 186.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Você mudou. Se transformou. De botão para flor.

Você não é mais aquela menina que na faculdade queria morrer.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Segunda chance

Na consulta com o médico de tórax.
Ele se joga para trás na cadeira, tira os óculos e passa a mão na testa franzida. Olha para minha mãe:
 - Eu sinceramente não sei como essa menina está viva. Dizem que tem uma hora e que ninguém morre na véspera. Só o peru. Faça essa segunda chance - e que segunda chance! - valer a pena.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Joana e as cores

Hoje ela saiu meio cansada. Joana quase nunca é daquelas pessoas animadas, que acordam cedo, fazem tudo, e saem de casa com um sorriso no rosto, cumprimentando todos os vizinhos que vão encontrando pelo caminho. Mas quase nunca é também daquelas que não abrem a boca nunca, andam cabisbaixas ou têm um desinteresse furtivo pelo mundo. Joana é mais ou menos. É na medida. Nem tudo aquilo, nem tudo isto. Mas hoje? Ah, hoje ela acordou com uma áurea diferente. Ela caminhou meio sem rumo e sequer parou para observar as vitrines dos óculos de sol. Dos vestidos. Dos anéis que ela nunca vai ter interesse em comprar. Ela não demonstrou qualquer interesse em ler os cartazes de promoção do hortifruti, nem perdeu a paciência com qualquer conversa sem graça de um ou outro grupo desses do whatsapp. Joana acordou displicente e assim seguiu o dia. Almoçou qualquer coisa sem graça – o que ela não lembra. Saiu de um restaurante medíocre porque pouco lhe interessava a fachada. Andou como tantas outras pessoas medíocres que ela encontra dia a dia enquanto caminha pela rua, sob o sol quente do meio dia. Transpira como todo mundo na saída do trabalho, nessa cidade em que não faz frio nunca. Alguma coisa mudou em Joana nos últimos dias. Ela perdeu o brilho, perdeu as cores, voltou a usar preto-branco-cinza. Sequer a vida lhe parece mais cinza. É preta. Preta como nunca antes vira.