Dá pra tirar aqui de dentro isso que eu tô sentindo?
É ruim demais.
Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Ao contrário
Embora com frequência eu precise parar na Leopoldina para pegar ônibus quando venho de algum lugar do Rio para Niterói, hoje a sensação foi totalmente diferente. Costumeiramente eu preciso descer em um lado da pista e pegar outro ônibus nesse mesmo lado, às vezes apenas em outra pista. Hoje, porém, eu parei no lado contrário. Durante alguns segundos, parar no lado contrário de um lugar em que eu sempre paro me deixou completamente perdida. Eu simplesmente não conseguia me orientar. Eram as mesmas árvores, as mesmas passarelas, as banquinhas de pipocas e doces, os vendedores ambulantes, o mesmo cheiro de fritura no ar. Estava tudo igual, mas eu estava do lado contrário.
Disso, e depois de me orientar, atravessar a passarela toda e descer do outro lado; me ficou uma outra sensação, tão importante quanto: a gente se acostuma com as coisas. A gente se habitua tanto que qualquer mínima alteração em um dado curso causa estranhamento e desorientação. E mais do que isso – e isso sim é assustador – nos habituamos inclusive com as coisas que nos incomodam! Como conversava com uma pessoa querida ontem, como é perigoso quando, por vezes, nos deixamos satisfazer com a insatisfação. Temos um problema sério: perdemos a razão de ser/fazer/querer alguma e qualquer coisa. A vida vira rotina. O curso não é maravilhoso, mas tudo bem. Seu emprego está uma merda, mas tudo bem. Você não sabe por onde começar a organizar sua casa, mas tudo bem. Você ainda não sabe o que quer dos próximos anos de sua vida, mas tudo bem. Nesse ínterim nos submetemos a descasos, a maus tratos, a violências de todas as ordens.
Acostumar-se é um risco sério. Muitas vezes maquinizar o corpo é também maquinizar a alma e diante de cada passo perder a esperança de dias melhores. Acostumamo-nos com a corrupção, com o descaso com a saúde e a educação, com a violência urbana, com a impunidade política. Acostumamo-nos sem perceber que se acostumar é desrespeitar a vida que pulsa de forma única dentro de cada pessoa e que nos incita a dizer não quando não se quer dizer não e a dizer sim quando o desejo assim nos conduz.
Hoje, naqueles trinta segundos entre descer do ônibus, entender onde estava, onde precisava ir e como chegar lá, uma luz se acendeu bem em frente aos meus olhos e me mostrou que há muitos nãos querendo ser SIM e muitos sins querendo ser NÃO, e que eu não os estou ouvindo – eles batem em minha porta, mas eu, que estou do lado contrário não escuto. Há muitas insatisfações vivendo no peito e talvez sejam elas que volte e meia nos tiram o sono e enchem os olhos de lágrimas. Não, a insatisfação não pode simplesmente chegar aqui e se acomodar. Ela exige coragem para atravessar a rua pelo lado que você não conhece, exige paciência para acolher o que teme e, acima de tudo, exige autenticidade para “não se acomodar com o que incomoda”, para permitir se virar do lado contrário, revirar se preciso for, e se reinventar todos os dias.
- Originalmente publicado em Olhares e silêncio, Obvious.
Disso, e depois de me orientar, atravessar a passarela toda e descer do outro lado; me ficou uma outra sensação, tão importante quanto: a gente se acostuma com as coisas. A gente se habitua tanto que qualquer mínima alteração em um dado curso causa estranhamento e desorientação. E mais do que isso – e isso sim é assustador – nos habituamos inclusive com as coisas que nos incomodam! Como conversava com uma pessoa querida ontem, como é perigoso quando, por vezes, nos deixamos satisfazer com a insatisfação. Temos um problema sério: perdemos a razão de ser/fazer/querer alguma e qualquer coisa. A vida vira rotina. O curso não é maravilhoso, mas tudo bem. Seu emprego está uma merda, mas tudo bem. Você não sabe por onde começar a organizar sua casa, mas tudo bem. Você ainda não sabe o que quer dos próximos anos de sua vida, mas tudo bem. Nesse ínterim nos submetemos a descasos, a maus tratos, a violências de todas as ordens.
Acostumar-se é um risco sério. Muitas vezes maquinizar o corpo é também maquinizar a alma e diante de cada passo perder a esperança de dias melhores. Acostumamo-nos com a corrupção, com o descaso com a saúde e a educação, com a violência urbana, com a impunidade política. Acostumamo-nos sem perceber que se acostumar é desrespeitar a vida que pulsa de forma única dentro de cada pessoa e que nos incita a dizer não quando não se quer dizer não e a dizer sim quando o desejo assim nos conduz.
Hoje, naqueles trinta segundos entre descer do ônibus, entender onde estava, onde precisava ir e como chegar lá, uma luz se acendeu bem em frente aos meus olhos e me mostrou que há muitos nãos querendo ser SIM e muitos sins querendo ser NÃO, e que eu não os estou ouvindo – eles batem em minha porta, mas eu, que estou do lado contrário não escuto. Há muitas insatisfações vivendo no peito e talvez sejam elas que volte e meia nos tiram o sono e enchem os olhos de lágrimas. Não, a insatisfação não pode simplesmente chegar aqui e se acomodar. Ela exige coragem para atravessar a rua pelo lado que você não conhece, exige paciência para acolher o que teme e, acima de tudo, exige autenticidade para “não se acomodar com o que incomoda”, para permitir se virar do lado contrário, revirar se preciso for, e se reinventar todos os dias.
- Originalmente publicado em Olhares e silêncio, Obvious.
É para ficar?
Corri até sentir que todo o açúcar que eu tinha ingerido hoje tinha saído pelos meus poros. Chorei com raiva e proporcional ao ódio que eu sentia de mim.
Ana e Mia. Eu não chamei, mas vocês voltaram.
Ana e Mia. Eu não chamei, mas vocês voltaram.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Consciência turva
Existem consciências que, em certos dias, se matariam por uma simples contradição, e não há necessidade, para isso, de ser louco, louco reconhecido e catalogado; basta, ao contrário, gozar de boa saúde e ter a razão a seu favor.
- Antonin Artaud, in Linguagem e Vida, p. 290.
- Antonin Artaud, in Linguagem e Vida, p. 290.
Em restos
(...) Num incêndio,
num bombardeio,
numa explosão,
vingadores daquela pedra de amolar que o pobre Van Gogh, o louco, carregou no pescoço a vida inteira.
A amolação de pintar sem saber para quê nem para onde.
Pois não é para este mundo,
nunca é para esta terra que nós todos sempre trabalhamos,
lutamos,
bramimos de horror, de fome, de miséria, de ódio, de escândalo e de desgosto,
que fomos todos envenenados,
embora por ela tenhamos sido todos enfeitiçados,
e que enfim nos suicidamos,
pois não somos todos, como o pobre Van Gogh, suicidados pela sociedade!
- Antonin Artaud, in Van Gogh, o suicidado da sociedade, p. 282-3.
num bombardeio,
numa explosão,
vingadores daquela pedra de amolar que o pobre Van Gogh, o louco, carregou no pescoço a vida inteira.
A amolação de pintar sem saber para quê nem para onde.
Pois não é para este mundo,
nunca é para esta terra que nós todos sempre trabalhamos,
lutamos,
bramimos de horror, de fome, de miséria, de ódio, de escândalo e de desgosto,
que fomos todos envenenados,
embora por ela tenhamos sido todos enfeitiçados,
e que enfim nos suicidamos,
pois não somos todos, como o pobre Van Gogh, suicidados pela sociedade!
- Antonin Artaud, in Van Gogh, o suicidado da sociedade, p. 282-3.
Dia de aniversário
No dia do aniversário
A gente às vezes tem vontade
De se esconder dentro do armário
Mas aí vem um com um beijo
Outro realizando um desejo
E aquele que está sempre atrasado
Chega super animado
Estourando um champanhe
Mesmo que eu estranhe
E não entenda muito bem
Porque tantos parabéns
Fico feliz com os presentes
Aguento melhor os parentes
E não me pergunto na hora
O que há de mentirinha
Nessa anual história
Quem me dera tanto afeto
Duas vezes por semana
Pra derreter a couraça
Pra amenizar minha gana
Congelaria se possível
Muitos pedaços do bolo
Pra durante o ano carente
Comê-los como consolo.
A gente às vezes tem vontade
De se esconder dentro do armário
Mas aí vem um com um beijo
Outro realizando um desejo
E aquele que está sempre atrasado
Chega super animado
Estourando um champanhe
Mesmo que eu estranhe
E não entenda muito bem
Porque tantos parabéns
Fico feliz com os presentes
Aguento melhor os parentes
E não me pergunto na hora
O que há de mentirinha
Nessa anual história
Quem me dera tanto afeto
Duas vezes por semana
Pra derreter a couraça
Pra amenizar minha gana
Congelaria se possível
Muitos pedaços do bolo
Pra durante o ano carente
Comê-los como consolo.
- Elisa Dias Batista
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Sorriso anônimo
Esse final de semana foi todo confuso. Uma confusão no meu quarto, uma confusão nas minhas coisas, uma confusão na minha vida. Uma confusão de diversas ordens que se generalizou e tomou conta da minha existência como se fosse um furacão que, sem saber ao certo para onde ir, tira tudo do lugar.
Aí eu fui tentar fazer um pouco dessa ansiedade toda diminuir indo à igreja, que de alguma forma me traz algum conforto. E foi ao mesmo tempo estranho, curioso e lindo.
Quando fui comungar eu estava em uma fila com uma mulher que eu sempre vejo na igreja e que sempre me chamou alguma forma de atenção que eu não sei dizer bem o que é, mas que há alguma coisa. Obviamente, eu nunca disse nada a ela, sequer tive a oportunidade de cumprimentá-la de perto. Eu apenas admirava ao longe. Mas nesse dia eu optei por ir na fila com ela, até porque havia duas opções ali. E quando foi me entregar a hóstia ela deu um sorriso lindo. Mas, eu coloquei a mão direita em cima da esquerda na hora de receber e o sorriso dela se desfigurou um pouco. E ela disse, esse é embaixo. Então saiu muito espontâneo um "mas eu sou canhota!". Aquele mesmo sorriso voltou, acompanhado de um "ah, meu Deus, desculpa!" e ela colocou a mão na minha bochecha e de lá pra cá parece que a mão dela continua aqui. Aquela desconhecida com um sorriso bonito, aquela mulher cujo nome não sei, cujo endereço não faço ideia. Parece que aquele toque, tão sem segundas intenções, tão gentil e tão simples, foi um jeito de me dizer "ei, fica tranquila, que está tudo bem. Essa nuvem negra vai passar".
De lá para cá o coração acalmou um pouco. Mas essa imagem não sai da cabeça.
Como não acreditar em Deus?
Aí eu fui tentar fazer um pouco dessa ansiedade toda diminuir indo à igreja, que de alguma forma me traz algum conforto. E foi ao mesmo tempo estranho, curioso e lindo.
Quando fui comungar eu estava em uma fila com uma mulher que eu sempre vejo na igreja e que sempre me chamou alguma forma de atenção que eu não sei dizer bem o que é, mas que há alguma coisa. Obviamente, eu nunca disse nada a ela, sequer tive a oportunidade de cumprimentá-la de perto. Eu apenas admirava ao longe. Mas nesse dia eu optei por ir na fila com ela, até porque havia duas opções ali. E quando foi me entregar a hóstia ela deu um sorriso lindo. Mas, eu coloquei a mão direita em cima da esquerda na hora de receber e o sorriso dela se desfigurou um pouco. E ela disse, esse é embaixo. Então saiu muito espontâneo um "mas eu sou canhota!". Aquele mesmo sorriso voltou, acompanhado de um "ah, meu Deus, desculpa!" e ela colocou a mão na minha bochecha e de lá pra cá parece que a mão dela continua aqui. Aquela desconhecida com um sorriso bonito, aquela mulher cujo nome não sei, cujo endereço não faço ideia. Parece que aquele toque, tão sem segundas intenções, tão gentil e tão simples, foi um jeito de me dizer "ei, fica tranquila, que está tudo bem. Essa nuvem negra vai passar".
De lá para cá o coração acalmou um pouco. Mas essa imagem não sai da cabeça.
Como não acreditar em Deus?
Sobre a arte e a vida
É o momento em que o teatro se tornou função de uma substituição. À vida ordinária o teatro opõe um estado de vida poética resplandecente, porém falsa. À vida psicológica, uma outra vida psicológica, apenas mais avultada, apenas mais monstruosa. As personagens manejam facas, mas o que comem, mesmo no plano simbólico, não tem mais sentido. Nós estamos, agora, no estágio da vida aplicada, onde tudo desapareceu; no estado de estagnação em que o homem vive de seu dote, com uma reserva sentimental e moral há um século imutável.
- Antonin Artaud, in Linguagem e Vida, p. 71.
- Antonin Artaud, in Linguagem e Vida, p. 71.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Do lado de fora
Hoje tirei tudo que havia de você das gavetas.
Abri a portas do guarda-roupas e, uma a uma, separei suas
coisas das minhas, a minha vida da sua. Tirei, organizei, limpei com água e
escova tudo o que ainda havia de você dentro do meu quarto. Empilhei tudo em
caixas e levei pra baixo, deixei do lado de fora do portão. A noite choveu,
pela manhã o sol. Mais tarde alguns adolescentes passaram e chutaram as caixas
com os pedaços de você. Mas, mesmo
agora, ninguém te recolheu.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
"Desassossegos sentam na varanda"
Desde de criança uma canção toca meu coração... Na voz de João Chagas Leite, "meus desassossegos sentam na varanda, pra matear saudades nesta solidão. Cada pôr de sol dói feito uma brasa, queimando lembranças do meu coração".
Mesmo quando criança, aprendi a valorizar a tradição gaúcha, de meus pais e avós, que embora pouco vivida por mim, desde sempre foi sentida. Junto com os três beijos para o comprimento, a partilha das rodas de chimarrão, as bombachas de meu avô caminhando pelo gramada do casarão da família de minha mãe. "Queimando lembranças" também ao "matear com a ausência, de quem já se foi". Sem dúvida, aquele "desassossego".
Os tempos mudam. Não tenho mais meus sete anos, nem as bombachas de meu avô correm pelo gramado. As rodas de chimarrão em que se mateia para falar da vida, do vento, da chuva, são cada vez mais frequentes. É tanto "desencanto para um só campeiro, que de tanto amor se desconsolou", que em cada entardecer da vida, "meus desassossegos sentam na varanda".
Aliás, creio que para todos há um certo momento da vida em que "sossego" se torna uma palavra difícil de ser compreendida pelo coração. Ela passa pelas linhas cruzadas do pensamento, dos afetos e das emoções e não diz nada compreensível. Ao menos, nada possível de ser compreendido do ponto de vista da razão. É este aquele momento em que o coração fala mais alto e ainda assim tomar uma decisão é parte delicada do dia e da vida. Engraçado que parece que quanto mais decisões são tomadas, ao longo da vida, mais difíceis são de serem executadas.
Nesses momentos se percebe que na quarta-feira já foram comidos todos os doces a que se teria direito de comer na semana toda. Percebe também que já tirou o esmalte das unhas, que deveriam durar até o sábado. Todos os 35km semanais que habitualmente são corridos já foram percorridos sem nem ao menos se dar conta. Por fim, mas sem parar por aí, dormir na cama e acordar no chão da sala se torna rotina.
Na "adultez" há sempre alguma coisa que desassossega o coração. Não é aquele artigo final que há semanas você ficou de entregar para o orientador. Não é também aquela situação sem solução que faz três dias que você está tentando resolver no trabalho e nem a ligação telefônica que você ainda não fez. Não se trata também de optar por seguir esta ou aquela carreira profissional. Tampouco o desassossego surge do resultado do concurso que não sai. Pois ele já saiu, pois você já resolveu, pois você já "comeu o mundo" em uma lata de brigadeiro e já chorou litros no desespero do medo do futuro. Você já fez sua escolha sobre partir ou ficar, já sabe o que quer e o que acha que deve querer - e só você sabe a confusão danada que essas duas discrepâncias fazem no coração, na vida, no dia a dia.
Só você, que mateia com esses "desassossegos na varanda" sabe que perde a cabeça de vez em quando e que parece que sua outra metade ficou esquecida lá na esquina, enquanto esta metade aqui não quer mais sentir nada.
Sabe, ser adulto também já deve ter lhe ensinado que desistir não é permito, por mais que isso lhe convenha. E, se quiser, se topar, se achar que tem peito para isso, é o momento. Desistir de um grande sonho ou de um simples pesadelo cotidiano que aterroriza seus sonhos há algumas semanas e que insiste em ficar, ficar, ficar, tantas e tantas vezes é um "desassossego" sobre o qual se deve posicionar.
Mesmo quando criança, aprendi a valorizar a tradição gaúcha, de meus pais e avós, que embora pouco vivida por mim, desde sempre foi sentida. Junto com os três beijos para o comprimento, a partilha das rodas de chimarrão, as bombachas de meu avô caminhando pelo gramada do casarão da família de minha mãe. "Queimando lembranças" também ao "matear com a ausência, de quem já se foi". Sem dúvida, aquele "desassossego".
Os tempos mudam. Não tenho mais meus sete anos, nem as bombachas de meu avô correm pelo gramado. As rodas de chimarrão em que se mateia para falar da vida, do vento, da chuva, são cada vez mais frequentes. É tanto "desencanto para um só campeiro, que de tanto amor se desconsolou", que em cada entardecer da vida, "meus desassossegos sentam na varanda".
Aliás, creio que para todos há um certo momento da vida em que "sossego" se torna uma palavra difícil de ser compreendida pelo coração. Ela passa pelas linhas cruzadas do pensamento, dos afetos e das emoções e não diz nada compreensível. Ao menos, nada possível de ser compreendido do ponto de vista da razão. É este aquele momento em que o coração fala mais alto e ainda assim tomar uma decisão é parte delicada do dia e da vida. Engraçado que parece que quanto mais decisões são tomadas, ao longo da vida, mais difíceis são de serem executadas.
Nesses momentos se percebe que na quarta-feira já foram comidos todos os doces a que se teria direito de comer na semana toda. Percebe também que já tirou o esmalte das unhas, que deveriam durar até o sábado. Todos os 35km semanais que habitualmente são corridos já foram percorridos sem nem ao menos se dar conta. Por fim, mas sem parar por aí, dormir na cama e acordar no chão da sala se torna rotina.
Na "adultez" há sempre alguma coisa que desassossega o coração. Não é aquele artigo final que há semanas você ficou de entregar para o orientador. Não é também aquela situação sem solução que faz três dias que você está tentando resolver no trabalho e nem a ligação telefônica que você ainda não fez. Não se trata também de optar por seguir esta ou aquela carreira profissional. Tampouco o desassossego surge do resultado do concurso que não sai. Pois ele já saiu, pois você já resolveu, pois você já "comeu o mundo" em uma lata de brigadeiro e já chorou litros no desespero do medo do futuro. Você já fez sua escolha sobre partir ou ficar, já sabe o que quer e o que acha que deve querer - e só você sabe a confusão danada que essas duas discrepâncias fazem no coração, na vida, no dia a dia.
Só você, que mateia com esses "desassossegos na varanda" sabe que perde a cabeça de vez em quando e que parece que sua outra metade ficou esquecida lá na esquina, enquanto esta metade aqui não quer mais sentir nada.
Sabe, ser adulto também já deve ter lhe ensinado que desistir não é permito, por mais que isso lhe convenha. E, se quiser, se topar, se achar que tem peito para isso, é o momento. Desistir de um grande sonho ou de um simples pesadelo cotidiano que aterroriza seus sonhos há algumas semanas e que insiste em ficar, ficar, ficar, tantas e tantas vezes é um "desassossego" sobre o qual se deve posicionar.
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