sábado, 3 de junho de 2017

Sobre ter a alma gordinha...




Aos 9 anos minha mãe me colocou para brincar de ser atriz. "Vai, experimenta, faz a primeira peça. Se você não gostar, depois sai". Tudo lá em casa era negociado assim. Algumas coisas eu entrava, fazia um tempo, saía. Do teatro nunca saí. Outras crianças saíram, minha mãe saiu, as aulas acabaram, o grupo também. Escolhi as aulas, mudei de cidade, entrei para outro grupo, o grupo acabou, criei um onde não existia. Deixei de lado para assumir outras responsabilidades, mas voltei. E chegou 2017 me dando uma chance de me dizer sim para viver de teatro, e antes de ter certeza de que era um sim, eu disse não. Talvez se fosse antes, talvez em outros tempos, talvez mais para frente. E quantas surpresas nos reservou esse 2017?! Pois é... Mas hoje é não. Talvez lentamente e dia a dia vá morrendo em mim o teatro a partir desse "não". Escolhi outras coisas. Talvez em outros tempos nos reencontremos para resolver mais alguma coisa dessa relação de amor-e-ódio que há entre a gente. Até mesmo o teatro pode morrer em mim algum dia e mesmo nunca mais voltar, mas não a atriz. Ah, essa é dura, não morre nunca. Sobrevive pelo meio das minhas outras profissões e ocupações. Sobrevive na psicóloga e na professora, sobrevive no jeito de olhar o mundo, as pessoas, a vida. Por ser artista é que me dou a possibilidade de ser médica, engenheira, bailarina e advogada. Me permito ser todas as escolhas que deixei para trás. Porque "a gente não se contenta com pouco. Tem alma gordinha".

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