Esta coleccion de piedras quem me deu foi Octavio, artesão de Teotihuacan, que sobrevive da lapidação de pedras preciosas. Toda a família se mantém assim. Foi um presente “fora do programa” te-lo encontrado, mas ao mesmo tempo nem tão supresa assim. Se a cultura mexicana já estava na minha cabeça desde antes, não lembro, mas desde 2010, quando passei um semestre inteirinho estudando a vida e obra de Frida Kahlo, o México entrou aqui e não saiu mais. Passei a estudar mais e mais e mais. Compreendi melhor a ideia do Día de Los Muertos - e ainda descobri um monte de novidade hoje!; revisitei os povos maya e aztecas depois da menor importância dada pela imaturidade do ensino fundamental, e ouvi falar que não existiam pirâmides apenas no Egito, porque existe Teotihuacan! Hoje sei, não à toa, e por tantos motivos mais, me aventurei em uma tese sobre um cara que dedicou boa parte de sua “loucura” à cultura tahuman e os rituais do peyote. E, por algum motivo, me convenci de que eu precisava ir até aquele lugar, porque Artaud esteve por lá, sim, mas também porque ele tinha algo a me dizer, algo de uma “conexão interna” que eu ia encontrar com alguém extremamente especial.
Mas... Não imaginava que esse alguém era eu mesma, “bien sóla”, como tanto ouvi dizerem por aqui. Peguei o transporte público para as pirâmides. Chegando lá, contratei um guia que me levou a duas casas de artesãos, uma de tecelagem e outra de lapidação de pedras. Tanto Caio quanto Octavio me recepcionaram e falaram sobre sua cultura, cada um na sua especialidade, com maestria e amabilidade. E Octavio, além da coleção de pedras preciosas, me ofereceu a mais rica experiência dentre tantas ricas experiências deste lugar. Faalou-me sobre a morte, a vida, a transcendência representada na figura das katrinas. Falamos sobre os povos maias e astecas, sobre o Brasil, sobre as outras regiões do México e sobre a cultura oriental. Octavio nunca saiu dos arredores da capital e embora ainda bastante jovem, me fala da cultura milenar do seu povo como se fôssemos velhos conhecidos. A visita que, segundo o guia, durava 15 minutos, teve mais de uma hora. Provei a bebida fermentada da babosa gigante (péssima para guardar esses nomes), mezcal, licor de tuna e alguns outros; me pediu licença para uma massagem relaxante com pedras, estralou meu corpo todo com a força das suas mãos delicadas, e ao final me falou sobre o coração, a circulação. Mostrei-lhe minha cicatriz recente, de exato um ano por esses dias, no meio do peito. Mais uma vez pediu-me licença e a tocou. Em seguida ergueu a camisa para me mostrar a dele, na coluna. Em seguida falou sobre a vida, o yin e o yang, que na cultura maya tem outro nome (que também não lembro, mas tudo bem, porque como ele muito bem disse, ambos sabíamos do que estávamos falando). Ao final, levei além da coleção de pedras, um colar do sol e uma pedra da lua lapidadas. Fez-me uma benção à sua maneira e disse que eu poderia seguir, porque nada me tocaria se não fosse para o bem e proteção.
Pode ter sido “só o seu trabalho”, mas o agradeço, imensamente, ainda assim por isso. Tive uma mesma conversa com uma amiga, sobre outra forma de espiritualidade, algumas semanas atrás, um dia antes de mais uma vez fazer as malas e seguir a vida. É porque acho que sou pássaro fora da gaiola. Ao me despedir de Octavio, achei que poderia voltar naquele instante ao Brasil e seguir a vida. Os planos de oito anos atrás haviam sido cumpridos.
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