sábado, 28 de fevereiro de 2015

Quando o sucesso é uma promessa

Acho que sempre bate esse desespero, quando a gente percebe que tem responsabilidades muito grandes nas mãos. Principalmente quando percebe que aquilo que você diz e quer é difícil de conseguir e que, se for seguir pelas probabilidades, é muito mais possível que nada dê certo do que o oposto.
Então eu acho que é isso... O preço da promessa é muito alto e você tem medo de não conseguir arcar com ele, então desaba. E você queria muito acertar, por isso a decepção é tão doída. Há três dias você estava tão certa de que tudo ficaria bem, de que você conseguiria... E agora você é uma criança assustada com medo dos monstros no escuro. Só que não há monstros no escuro. Nós é que estamos todos ali. Nós é que construímos nossas incertezas e damos forças à nossa insegurança. Somos nós, ninguém mais. Somos nós também que temos que responder por elas, nós que temos que lutar com mais força justamente quando nossas pernas cedem e os braços doem. Precisamos de força, de mais força, de muita ajuda. Precisamos pedir ajuda e aceitá-la, e permitir que se aproximem para nos ajudar.

Sobre coisas que a gente acha que a humanidade já teria superado...

"Que palhaçada foi aquela? Eu, mais de 100 quilos, não poderia ter fugido? Ele estava bêbado, não podia ser tão difícil. Sim, palhaçada. Voltei a ser criança. Sim, palhaçada. Cinco anos com medo dos monstros no escuro. Sim, palhaçada. Chorando chamando minha mãe. Sim, palhaçada. Descobri que não havia monstros no escuro. Sim. Palhaçada. Sinônimo. De. Mostro. É. Ser. Humano.
(...)
Quem ficou ali não era a mesma garota de 17 anos de sempre. Era o resto do resto. Os pedaços quebrados. Os frangalhos. Os cacos. A poeira sob os pés da humanidade".

- Texto completo em Mulheres e suas crônicas

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Distraída

Hoje vivi uma cena linda, que me fez pensar em muitas coisas...
No horário do almoço passei em uma loja de departamentos e, esperando na fila do caixa, havia três meninas na minha frente. Colegiais, não mais que 12 anos, de uniforme e shorts curtinho. Elas conversavam animadamente e quando cheguei na fila uma delas, a menorzinha, ficou olhando fixo para meu peito. Eu até pensei que fosse para o decote, já que estava com uma blusinha um pouco decotada, mas não era nada demais, que chamasse atenção. Aí lembrei, eu estava de colar. Ela olhava admirada para o anjinho do meu pingente, até que exclamou: "Que lindo! Eu tinha um assim!". Eu sorri e, instintivamente, o segurei entre meus dedos dizendo "é meu anjinho da guarda, o meu protetor" e lembrei que ele foi um presente de pessoas muito especiais... Logo em seguida, a mesma menina emendou: "De onde você é?". Fiquei surpresa! "Nossa, você me pegou rapidinho pelo sotaque! Eu não sou daqui, eu sou do Sul!". E uma de suas colegas falou "que legal, lá deve ser muito bonito". Então a primeira menina que falou comigo disse que sua irmã morava em Porto Alegre e que ela queria muito conhecer. Eu, como boa sulista que sou, disse que se elas tivessem oportunidade fossem conhecer, que o sul todo é muito bonito. E então, uma delas, a que ainda não havia dito nada, chegou pertinho do meu rosto, exclamando: "Que lindo seu olho! Ah, você é muito sortuda! Você é muito bonita!", e suas amigas assentiram com um sorriso e foram chamadas pela caixa, para pagar suas compras, dois pacotes de guloseimas...
E eu fiquei ali, esperando a minha vez, e pensando no que elas disseram e no que representava aquele momento mágico em que três estranhas, com metade da sua idade, passam pela sua vida por pouco mais de um minuto, e têm o poder de transformar seu dia em algo inesperadamente melhor.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

- Mia Couto, in Idades Cidades Divindades.

Sobre amores que se vão

Como belos pares de olhos brilhantes, algumas pessoas se vão.
Elas não podem ficar.
Elas se vão quando já fizeram o que tinham para fazer.
Se vão quando sentem que estão de missão cumprida ou com o coração um pouco pesado demais. às vezes, elas simplesmente vão porque querem, porque cansaram de ficar. Essas são aquelas pessoas, em geral, mais incríveis. São aquelas pelas quais, invariavelmente, a gente se apaixona. Se apaixona pelo ar de desapego, pela necessidade de sentir a rejeição. Quem nunca amou demais? Afinal, quem nunca amou tanto ao ponto de sufocar aquele outro com tanto amor?
Não, não se engane. Ele não se foi porque você o amou; se foi porque não pôde suportar ser amado.
Eis sua mais nobre missão, mas, infelizmente, poucos sobrevivem a este primeiro amor. E se vão.