quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre o anonimato e a cidade grande

Ando pelo parque e fico surpresa com o quanto é silencioso depois que você se afasta das vias principais, longe das espreguiçadeiras e dos turistas. Encontro uma área inclinada onde a grama cresceu um pouco mais,  ando em direção ao topo e coloco a mala na sombra. Chuto as sapatilhas para fora dos pés e me deito na grama amarelada; não há ninguém por perto, só o ronco baixo do trânsito fora do parque para me lembrar de que estou realmente aqui, na capital. O sol que passa entre as árvores aquece meu rosto, fecho os olhos e me sinto quase normal, satisfeita até. Mas então a imagem queimada em mim pela milionésima vez e abro os olhos novamente. É estranho que ela não tenha ocorrido no trem, quando a dor de ir embora estava tão forte. Agora mesmo, eu estava me sentindo quase feliz, pelo cansaço físico, pela emoção da privacidade, pelo anonimato, pela promessa de um novo começo, aqui no meio dessa cidade grande. E a felicidade, Catherine, não é permitida.

- Tina Seskis, In Indo Longe Demais, p. 23.

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