Hoje voltei à vida comum depois de um pouco mais de 4 meses de uma rotina totalmente atípica. Foi no meu ritmo, respeitando o meu tempo, me esforçando para me exigir o mínimo possível, para não me cobrar, para ter calma, para chorar mesmo, para respeitar a vida e essa menina aqui de dentro que sempre supera as coisas rápido demais. Fomos com calma, esses meses todos. É claro que tinha uma vontade gigante de tornar a vida o mais rápido e perto possível do que ela foi até fevereiro deste ano uma realidade de novo, mas eu me segurei. Respirei fundo e me apeguei a isso que a Claudia e a Ju sempre me fazem lembrar: “um dia de cada vez. Foi ontem”. Quatro meses se passaram e hoje que eu tô voltando para o trabalho. E eu ainda não voltei para a academia (é sério, eu tô aguentando haha) e ainda não tô pegando meu tênis e correndo pelas orlas aí, hein. Eu tô respeitando esse tempo, gente!, porque reconheço que é importante. De verdade. E eu tô reaprendendo a ser Talita. Hoje tô reaprendendo os caminhos de chegar ao trabalho, categoria que vocês sabem, acho tão importante na vida de qualquer pessoa, quem dirá na minha. Tô aprendendo a cuidar de um cabelo curto e cheio de cachos. Tô aprendendo a recortar com maestria, bem fininhos, os pedacinhos de Drenison para colar em cima das cicatrizes, naqueles 10 minutos de muita concentração e paciência que eu preciso disponibilizar todos os dias. Tô aprendendo a pegar, pendurar, guardar, ..., as coisas, sem esticar nem dobrar muito o tórax. Aprendendo a andar de ônibus de novo, a sair pelas ruas sozinha, a enfrentar o medo de morador de rua, de rua escura, de rua deserta. Tô aprendendo a manter o foco do pensamento no texto que eu estiver lento ou na conversa que eu estiver tendo. Tô aprendendo a não ver “ele” em todos os rostos de um certo perfil que eu encontro pela frente. Tô aprendendo de novo a alimentar meu corpo conforme as necessidades dele e não as da minha mente ansiosa. Tô aprendendo a lidar com o medo, o pânico, a ansiedade e o perdão, com a compreensão, aprendendo a responder que “sim, fiz cirurgia do coração, e que sim, pois é, tão novinha” para um estranho curioso que fica ao meu lado na fila do banco e para quem eu não quero dar qualquer satisfação.
Eu tô aprendendo essas coisas mais complicadas, do mesmo jeito que eu precisei reaprender a respirar, a comer e a andar, ainda quando estava no hospital - reaprender a andar é uma coisa louca, sério! E tô aprendendo um monte de coisa nova também! Por exemplo, que ser corajosa nem sempre é uma escolha, porque às vezes é a única opção que você tem, e que para sustentar as coisas que a gente quer e acredita será preciso bater o pé, brigar, e decepcionar algumas pessoas que a gente ama muito também. E tô aprendendo que sim, dá para escrever esse texto na minha cabeça, nos quinze minutos que dão da minha casa até o trabalho, que eu tô voltando hoje; e que dá sim, também, para compartilhar ele e mostrar que essas fragilidades todas estão aí, como já estiveram antes, em outros momentos, em outras circunstâncias, e que provavelmente vão voltar em algum outro momento da vida, mas que é porque sempre se tem alguém para cuidar, ajudar e amar. Queria compartilhar isso com vocês, porque é importante pra mim. É recomeço e também é continuidade, sabem? São as marcas que eu escolho escrever nesse corpo, além daquelas que a vida se encarregou de inscrever e que mais cedo ou mais tarde eu vou ter que aceitar – é tipo a minha próxima tatuagem, alguma coisa tipo “Life goes on”, porque “There was too much fight here” eu já fiz.
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