sábado, 17 de novembro de 2018

Fissura

Tive pesadelo esses dias. Tinha um rosto de menino com os cabelos cheios, cacheados, bem sujos. Ele tinha um sorriso de moleque. Era quase bonito. Ele me esfaqueava sorrindo. Eu via a faca descendo do peito em direção ao seio e eu colocava a mão na fissura, logo depois que ele tirava a faca, e gritava. Peguei o celular, era 4h48 da manhã, e eu não consegui mais dormir. Levantei ler.
Fazia um tempo que essa lembrança não vinha, mas verdadeiramente eu acho que esperava que ela voltasse e novamente se desfizesse, com o tempo. E não é porque eu queira esquecer. Eu acho que não quero esquecer. Eu quero que ela se faça sempre presente para me lembrar de quem eu sou, mas ao mesmo tempo queria que ela fosse mais tranquila, que não criasse tanto desconforto, que não me desse mais esse aperto na garganta, essa vontade de chorar, e um choro que não vem.

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