O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
terça-feira, 7 de agosto de 2018
domingo, 29 de julho de 2018
Da dor do sentente...
O olhar da janela e apenas mais do mesmo. Era o mesmo sol de todos os dias, aquela mesma brisa do mar que entrava pela janela todas as manhãs, quando ela a abria ainda semi nua, porque ninguém a via. Mas fazia um tempo que alguma coisa vinha mudando. Ela andava mais agitada, e sempre havia algo no peito que pulsava num ritmo insaciável, era como se houvesse sempre algo por fazer. Ansiedade, diriam. Mas não se parecia apenas com isso, era como se algo mais pulsasse em sua fronte todas as noites e quando acordava, pela manhã, tinha sempre alguma coisa entalada na garganta, algo que ficou preso em algum sonho incompleto. Fazia tempos que não conseguia se lembrar deles. Depois das inquietações perdia as palavras, se perdia no meio de respostas infantis demais para suas próprias perguntas, bobas e inconsistentes. Incoerentes. Havia um vale de medo, um abismo infinito, e todas essas redundâncias que poderíamos utilizar para criar um efeito totalmente desnecessário. Havia um edifício maior no meio de todos aqueles edifícios, entre aquelas janelas, cujas a brisa insistia em entrar com a primeira faísca de sol da manhã, para bater em seu corpo tatuado e semi nu. Por que ela não sentia, meu deus, por que ela não se sentia? Por que todas as paredes começaram a se fechar e, de repente, nenhuma cor mais fazia sentido?
Era igual
caranguejo. Se escondia dentro do casco. Ameaçada? Pra dentro do
casco. Com frio? Pra dentro do casco. Perdida, sem ninguém? Pra
dentro casco. A vida toda dentro do casco.
domingo, 17 de junho de 2018
Ondas
É como se tivesse essas ondas escuras e eu nadasse ate a superfície e achasse que estou indo bem, que eu vou conseguir. Mas aí vem outra e eu estou me afogando de novo.
- No escuro da floresta.
- No escuro da floresta.
terça-feira, 29 de maio de 2018
Flores no asfalto
- “O que aconteceu?”
- “Flores”.
__________//___________
Faça flores com a dor
(...)Então floresça de um jeito
Perigoso
Escandaloso
Floresça suave
Do jeito que você preferir”
- pra quem me lê, Tupi Kaur
O risco foi um estrondo no asfalto, no concreto do corpo. A falha, o corte, a marca do real. O inegável, o jamais não-visto. O espaço da infiltração. Infiltra tanto, que mais cedo ou mais tarde o canal infiltrado encontra terra talvez um pouco menos árida. Torna-se terreno com menos concreto e asfalto. E desabrocha.
Floresci.
domingo, 27 de maio de 2018
Nós e laços
A gente tem casco frágil demais por isso inventa tantas proteções. A roupa, o carro, a casa. Se assumíssemos nossa natureza selvagem, primitiva, andaríamos nus no mato. Gerações até engrossar o casco, mas engrossa. O pé acostuma aos galhos, a pele ao sol, o cabelo a ser lavado só com água de rio. Mas atualmente somos finos feito papel. E quando gravemente feridos somos costurados a linha mesmo, ponto por ponto.
Mas somos mais complexos que papel. Artesanato mais intrincado do que o de costurar a manhã. O galo eventualmente, ao tentar tecer uma pessoa, embolaria o canto e perderia os fios que se reencontrariam depois do nó como se nada tivesse acontecido. É por isso. A gente passa a vida toda descobrindo as falhas, consertando ou aprendendo a amar os pontos defeituosos.
Tem gente toalhinha de quermesse, aparentemente uma perfeição branca e simétrica, mas nesses é triste e invisível a goma que os faz nunca serem diferentes. Pano engomado não relaxa. Tem gente que é a bagunça de um cesto de lã. É difícil. Quem nunca pensou em desistir na metade quando a cada movimento de soltura do nó ele ou outros pareciam que mais ainda se apertavam. É desesperador. Mas esse é o desafio, tem beleza e verdade em casa movimento livre da costura caótica.
As pessoas de fios embolados que eu conheço são peças únicas e mutáveis. Amontoados de fios atemporais, que quando entendem que em termos de tecelagem só se pode seguir em frente já se fundiram ao pano único que monta o universo.
- Camila Gobbi, in Escombros e outros pedaços de coisas no chão, 2015.
Mas somos mais complexos que papel. Artesanato mais intrincado do que o de costurar a manhã. O galo eventualmente, ao tentar tecer uma pessoa, embolaria o canto e perderia os fios que se reencontrariam depois do nó como se nada tivesse acontecido. É por isso. A gente passa a vida toda descobrindo as falhas, consertando ou aprendendo a amar os pontos defeituosos.
Tem gente toalhinha de quermesse, aparentemente uma perfeição branca e simétrica, mas nesses é triste e invisível a goma que os faz nunca serem diferentes. Pano engomado não relaxa. Tem gente que é a bagunça de um cesto de lã. É difícil. Quem nunca pensou em desistir na metade quando a cada movimento de soltura do nó ele ou outros pareciam que mais ainda se apertavam. É desesperador. Mas esse é o desafio, tem beleza e verdade em casa movimento livre da costura caótica.
As pessoas de fios embolados que eu conheço são peças únicas e mutáveis. Amontoados de fios atemporais, que quando entendem que em termos de tecelagem só se pode seguir em frente já se fundiram ao pano único que monta o universo.
- Camila Gobbi, in Escombros e outros pedaços de coisas no chão, 2015.
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