- Paloma Sanchéz-Garnica, in O Grande Arcano, p. 95.
É quase o mesmo que ter que admitir que é tudo aparência, e o quanto isto tudo é muito difícil! É quase como a impossibilidade de demonstrar fraqueza, aparentando sempre um jeito mulher-maravilha de ser, só querer mostrar o que há de bom, e quando necessário, porque o que se quer de fato é mostrar não ser ninguém. É ser justamente como uma ostra fechada que ninguém sabe o que tem dentro, sentir-se uma hipócrita enquanto todos tentam dar o melhor de si. E que é como pedra tudo o que se sente, porque não sai, porque é tão pesado que permanece no lugar, porque fica e interrompe caminhos, segura, prende dentro de si mesmo. E se tudo o que se deseja é ficar sozinha, é não precisar falar, sorrir para ninguém, na mesma proporção tudo o que mais se deseja é saber que se tem alguém, enquanto se faz de tudo para afastar. Trocar o caminho para não encontrar um conhecido, chegar atrasada na sala de aula para não dar tempo de ninguém puxar assunto, apagar a luz do quarto para fingir que está dormindo. Por que fazer isto?! Por que ser assim se só faz tanto sofrer?! Depois, chegar a noite e ficar chorando só não ajuda. E é justificado que não ajude, pois se tudo o que se vê são cinco paredes amareladas cercando um mundo que se tem deixado mofar, murchar, acabar. Que se deseja que acabe logo e que não se pode, com as mãos, destruí-lo. Porque se quer ficar só, se esconder. Aos poucos não fazem mais efeitos os desenhos, os poemas, os filmes. Porque o abandonaram em meio à escuridão e resta apenas realizar pedidos de socorro que parecem sussurro, quase calado. E que assim não ouvem, não escutam. Taparam-se os espaços com pedras de silêncio, essas que construiu, com as mãos que apertam e sufocam. Estas, que não são impulsivas, mas que produzem atos.
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