quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre o medo de sofrer

Naquele exato momento, arrependi-me da minha brusquidão. Sempre acontecia a mesma coisa comigo: havia muito tempo, de forma inconsciente, devido à minha obsessão de evitar que me fizessem mal, tecia ao meu redor uma espécie de limite territorial ao qual não permitia que ninguém chegasse. Mas, às vezes, essa atitude fazia com que me sentisse mal e me deixava demasiadamente isolada e muito sozinha.

- Paloma Sanchéz-Garnica, in O Grande Arcano, p. 95.

É quase o mesmo que ter que admitir que é tudo aparência, e o quanto isto tudo é muito difícil! É quase como a impossibilidade de demonstrar fraqueza, aparentando sempre um jeito mulher-maravilha de ser, só querer mostrar o que há de bom, e quando necessário, porque o que se quer de fato é mostrar não ser ninguém. É ser justamente como uma ostra fechada que ninguém sabe o que tem dentro, sentir-se uma hipócrita enquanto todos tentam dar o melhor de si. E que é como pedra tudo o que se sente, porque não sai, porque é tão pesado que permanece no lugar, porque fica e interrompe caminhos, segura, prende dentro de si mesmo. E se tudo o que se deseja é ficar sozinha, é não precisar falar, sorrir para ninguém, na mesma proporção tudo o que mais se deseja é saber que se tem alguém, enquanto se faz de tudo para afastar. Trocar o caminho para não encontrar um conhecido, chegar atrasada na sala de aula para não dar tempo de ninguém puxar assunto, apagar a luz do quarto para fingir que está dormindo. Por que fazer isto?! Por que ser assim se só faz tanto sofrer?! Depois, chegar a noite e ficar chorando só não ajuda. E é justificado que não ajude, pois se tudo o que se vê são cinco paredes amareladas cercando um mundo que se tem deixado mofar, murchar, acabar. Que se deseja que acabe logo e que não se pode, com as mãos, destruí-lo. Porque se quer ficar só, se esconder. Aos poucos não fazem mais efeitos os desenhos, os poemas, os filmes. Porque o abandonaram em meio à escuridão e resta apenas realizar pedidos de socorro que parecem sussurro, quase calado. E que assim não ouvem, não escutam. Taparam-se os espaços com pedras de silêncio, essas que construiu, com as mãos que apertam e sufocam. Estas, que não são impulsivas, mas que produzem atos.

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