O amor, mais tarde eu chegaria à conclusão, era tudo para todo mundo. O amor era o que fazia sofrer e parar de sofrer. O amor era mal interpretado, o amor era a fé, o amor era a promessa do agora que se tornava esperança para o futuro. O amor era um ritmo, uma ressonância, uma reverberação. O amor era estranho e tolo, era agressivo e simples, e com tantas qualidades indefiníveis que nunca poderiam ser transmitidas em palavras. O amor era ser. A mesma gravidade que me puxava sem cessar foi desafiada quando subi para algo que se tornou tudo.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 329.
Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Medo da verdade
Algumas vezes, já achei que a idade é inimiga da verdade.
Quando ficamos mais velhos, com o ceticismo e a amargura se acumulando em nós ao longo dos anos, perdemos a inocência infantil e, com ela, aquele dom de enxergar o coração dos homens. Olhe nos olhos deles, eu me dizia, e olhando você verá quem realmente são. Os olhos são as janelas da alma; olhe com mais atenção e verá os aspectos mais sombrios refletidos.
- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 229.
Quando ficamos mais velhos, com o ceticismo e a amargura se acumulando em nós ao longo dos anos, perdemos a inocência infantil e, com ela, aquele dom de enxergar o coração dos homens. Olhe nos olhos deles, eu me dizia, e olhando você verá quem realmente são. Os olhos são as janelas da alma; olhe com mais atenção e verá os aspectos mais sombrios refletidos.
- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 229.
A você, que brilha
- Você deve seguir a luz - disse.
- Luz? Que luz?
- Algumas pessoas têm uma luz, Joseph... como um caminho, uma razão de ser. Uma coisa dessas é rara, e quando se tem uma, deve-se segui-la.
- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 221.
- Luz? Que luz?
- Algumas pessoas têm uma luz, Joseph... como um caminho, uma razão de ser. Uma coisa dessas é rara, e quando se tem uma, deve-se segui-la.
- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 221.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Sobre a solidão e o isolamento
A solidão é uma droga, um narcótico; cresce nas veias, nos nervos e nos músculos; assume um direito de posse sobre seu corpo e sua mente; alimenta-se e cria sua própria exigência. A solidão e o isolamento são paredes.
Alexandra Webber veio ver o que eu escrevera naquelas paredes, e embora eu achasse que nelas não havia nenhuma porta, ela conseguiu encontrar uma.
Escolhi recuar calado e deixá-la passar.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p.146.
Alexandra Webber veio ver o que eu escrevera naquelas paredes, e embora eu achasse que nelas não havia nenhuma porta, ela conseguiu encontrar uma.
Escolhi recuar calado e deixá-la passar.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p.146.
A força de um ato
"As palavras não são atos. As palavras são ditas e esquecidas assim que são pronunciadas." Ela me disse isso com toda a sinceridade, mas o que disse não era verdade. As palavras não eram esquecidas. As palavras eram lembradas, e o tempo parecia só lhes dar força. Pensamentos sinistros pareciam amadurecer e crescer com a idade, e quanto mais fossem compartilhados maior sua influência e eficácia.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 138.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 138.
domingo, 22 de junho de 2014
Coisas que aprendi com minha nutricionista
Geralmente as pessoas começam a escrever coisas assim por ordem de importância, então não vou romper com a tradição e começarei pela mais importante. No entanto, os demais itens não vão em sequência de importância, mas conforme minha memória for ditando.
Lição nº 1: a coisa mais importante. Sem dúvida, o que mais importa nesse processo todo é que eu finalmente pareço ter compreendido que baixo peso não tem correlação direta com felicidade. No meu caso, baixo peso significou muita, muita, muuuuita, infelicidade. Da mesma forma, não há “incorrelação” direta, mas na verdade o que há dentro da gente é que diz o quanto estamos satisfeitos ou não com o mundo. Nosso corpo, nossas relações, nossos investimentos e desinvestimentos são apenas consequências.
Lição nº 2: aprendi que não existem comidas boas e comidas ruins. Todas elas são necessárias de forma equilibrada. Finalmente consegui romper com minha listinha de “alimentos proibidos” e como de tudo – no momento, frequência e quantidades necessários à manutenção saudável do meu organismo.
Lição nº 3: aprendi a ouvir as necessidades do meu corpo. Embora por muitos anos eu tenha negligenciado os pedidos do meu corpo acerca de suas necessidades, finalmente ele voltou a falar e solicitar quando precisa de doce, salgado, quando tem sede ou precisa dormir. Hoje consigo ouvi-lo e respeita-lo, estando consciente de que posso fazer escolhas saudáveis sem ser leviana com meu corpo.
Lição nº 4: mais é sempre menos. Excessos só me levaram a perder: menos saúde, menos autoestima, menos disposição. Hoje consigo compreender qual a necessidade e limite de meu corpo para praticar exercícios, comer, descansar. Agora sei que posso ponderar e maximizar os resultados de meus treinos, de minha alimentação e da minha rotina de forma geral.
Lição nº 5: no dia em que compreendi que eu poderia comer qualquer coisa, consegui ficar consciente de que todo e qualquer alimento estaria disponível a hora que quisesse e então a compulsão pôde ser deixada para trás, assim como os períodos de privação.
Lição nº 6: pesar menos não significa necessariamente emagrecer. Percentis de gordura e peso corporal são determinados não só pelas calorias que ingiro, mas também pelo tipo de alimento (se retém líquido, se é mais líquido, se meu intestino funciona direitinho, se estou vestida quando me peso, etc.), logo, meu desespero ao subir em uma balança não é somente por aquilo que como, mas também por aquilo que continua em meu organismo, mas que não é gordura.
Lição nº 7: se eu não tenho controle sobre a imagem que faço de mim mesma, devo ser cautelosa quanto a medidas que não dão a extensão exata de quem eu sou. Logo, abolir balanças, fitas métricas e contagens de calorias, no meu caso, foi uma medida cautelosa e prudente.
Lição nº 8: meu peso não determina quem eu sou. E só hoje eu consigo perceber que independente da minha forma corporal, NUNCA ninguém me amou mais ou menos por aquilo que minha imagem mostrava ser. Ao contrário, eu pesar menos do que um ano atrás não me garantiu as coisas que conquistei – minha dedicação para conquista-las sim.
Lição nº 9: há um peso saudável para a manutenção equilibrada do meu organismo. Ao longo dos últimos 6 anos, período em que constantemente recorri aos transtornos alimentares, tenho observado que há um peso para o qual eu sempre volto. Este é o peso que me permite fazer as coisas que eu gosto e me mantém saudável. Talvez seja este o peso que meu corpo pede para estar e, embora ele seja maior do que eu gostaria de pesar, garante minha nutrição e qualidade de vida.
Lição nº 10: descobri que pessoas que fazem dieta não querem ficar magras, elas querem emagrecer. E quanto mais emagrecerem, maior será a meta sob a qual se colocarão. No final das contas, vão descobrir que quando perdem muito peso, como foi meu caso, mais próximas estarão de serem uma pessoa menor, mas com problemas maiores.
Lição nº 11: quando alguém gasta mais tempo pensando em saúde, do que sorrindo, ele está com sérios problemas. Eu estive. Tive compulsão, pré-obesidade, bulimia, anorexia. Nunca nenhuma dessas coisas me fizeram feliz. E mesmo quando eu recebia elogios sobre meu corpo e “boa forma”, eu só tinha vontade de chorar. No fim das contas, o que eu queria mesmo era ajuda. Mais ajuda.
Essas são apenas algumas das lições que aprendi ao longo da minha “terapia nutricional”. Talvez minha nutricionista nem saiba que fez tudo isto, e talvez, se eu disser a ela, me diga que não fez. Talvez ela tenha razão: não foi ela quem fez isto tudo acontecer, mas sem nenhuma dúvida esteve presente neste caminho todo, me dando força, acreditando em mim, segurando minha mão.
sábado, 21 de junho de 2014
Vida que vai e vem
E os dias de que me lembro são dias idos. Escoaram silenciosamente para um passado indistinto. Não só idos, mas também esquecidos. São dias que, acho, não tornaremos a ver. Não aqui, não em Augusta Falls, nem em lugar nenhum. Tudo inundado do delírio animado da celebração espontânea, uma celebração sem outro motivo se não estar vivo. E o som de algo familiar, mas distante - um jogo de beisebol no rádio, o barulho das tampinhas verdes de Coca-Cola sendo abertas - e de repente o passado está aí. Em tecnocolor e com sistema de som que faz vibrar as cadeiras. Então, um silêncio bem vindo após um barulho sem fim.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 35.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 35.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Sobre a brevidade da existência
Uma vida para segurar, ou para ver escorrer pela palma de mãos indiferentes e desatentas, mas sempre uma vida. E quando uma nos é dada, desejamos ter duas, ou três, ou mais, esquecendo-nos com a maior facilidade da que tivemos e gastamos sem critério. O tempo corre reto como uma linha de pesca auspiciosa, as semanas formando meses, formando anos; mas, com esse tempo todo, um instante de dúvida, e lá se vai o prêmio.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 14.
- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 14.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Questionamentos
Ainda que furtivamente e em vão, me pergunto por que não? E
nesse perguntar, me questiono também o por quê destes sins, o por quê dessas
buscas, das insistências, dos amanheceres. Se
de todo galho brotam as folhas, também a vida é ramificação de outra
vida, mais rígida, mais entroncada e dura, todo começo como uma chegada e uma
partida. E no fim, quem se foi deixou este lado da linha para expandir por
outro, chegou a um rio de águas turvas, embora cristalinas, um rio que vai,
vai, vai, e que diz adeus, por enquanto.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
A palavra e a loucura
Só que a aventura da linguagem não dá para compartilhar. É emocionante, mas solitária. Deixar que as palavras acorram e socorram, evitar que traiam e se retraiam, nada disso dá para explicar e dividir enquanto processo. é luta íntima e alegria aconchegada. No máximo, a gente mostra o resultado. Um único resultado. O que ficou Mas a dança das escolhas, as tentações simultâneas, o sonho dos possíveis, tudo isso é definitivamente eliminado de qualquer partilha generosa com o outro. Dor sem alívio, prazer individual. e vergonha secreta.
- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 126-7.
- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 126-7.
Aquilo que não se pode dizer
Mas eu não queria discutir essas coisas, são transformações muito pessoais, um processo íntimo que estou vivendo e não quero trazer à consciência para não estragar o que ele possa vir me dar em termos de escrita. Vanda foi notável. Respeitou minhas evasivas, aceitou meus silêncios. Limita-se a estar por perto, sempre atenta, brilho amarelo de lua nascente no olhar, ao alcance de um chamado. Pairando no alto, inocente pipa à espera de que eu recolha a linha.
Sei que é muito difícil que ela me entenda. de verdade, nem eu entendo, apenas constato e vivo. quando tento analisar, vejo que foi uma mudança muito radical e profunda. E, no momento, não dá pra compreender. Ainda mais alguém de fora. Não vai conseguir mesmo.
- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 125.
Sei que é muito difícil que ela me entenda. de verdade, nem eu entendo, apenas constato e vivo. quando tento analisar, vejo que foi uma mudança muito radical e profunda. E, no momento, não dá pra compreender. Ainda mais alguém de fora. Não vai conseguir mesmo.
- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 125.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Toc toc aqui dentro
Mas então fala, coração
Não fica aí batendo desse jeito.
Nem quieto demais, nem eufórico demais.
Não fica parado no meu peito
como se reprovasse o que eu penso.
Não fica contando as horas
porque o tempo não passa por contas.
Não fica dizendo o quanto demora
eu estou sem relógio no momento.
Mas olha,
bate, bate mais um pouco
um pouco mais
só para eu ter certeza
de que o nome disso é Paz.
Não fica aí batendo desse jeito.
Nem quieto demais, nem eufórico demais.
Não fica parado no meu peito
como se reprovasse o que eu penso.
Não fica contando as horas
porque o tempo não passa por contas.
Não fica dizendo o quanto demora
eu estou sem relógio no momento.
Mas olha,
bate, bate mais um pouco
um pouco mais
só para eu ter certeza
de que o nome disso é Paz.
sábado, 7 de junho de 2014
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Como é quando não se sabe como ser
O primeiro impulso não foi teu. Vai e exita. Para, pensa, sabe que não é bom. O impulso vem de novo, involuntário. Você não resiste. Puxa a tampa, cospe. Só isso. Fecha a tampa, mas ele volta. E aí você não resiste. Volta e força. Força tudo, até o fim. A garganta irrita, os olhos ficam vermelhos, a coriza no nariz, os gargarejos. Desta vez não foi necessário mentir. Ninguém por perto, ninguém na cozinha, ninguém na lavanderia, ninguém. Só você. Você, seus pensamentos, suas ações. Culpa? Não. Satisfação? Também não. Você não sente nada, talvez um pouco de vergonha, mas só talvez. Evita olhar nos olhos, vai para o quarto, e lá se fecha com seus sentimentos e seus medos, com as angústias e (talvez) uma noite de pesadelos. Fim.
(In)Sensatez
Não posso dizer que esteja deprimida, mas acho que ando
bastante pensativa com essas coisas todas acontecendo... São muitas novidades,
sim, inúmeras mudanças: de casa, de pessoas, partidas e chegadas, expectativas
sobre meu futuro e um tiquinho de esperança também. Lembrei de uma conversa com
uma amiga uns tempos atrás... “Eu tenho esperança, esperança do verbo esperar”.
E então percebo que ainda espero. Espero que dê certo, espero que seja o
momento, espero que seja a minha vez. Espero, mas não sei se é e não sei também
como é lidar com o des-espero. De não esperar mais, não de se desesperar. “A
lama e o lamento não se revelam”, enfim. “E ela ainda é tão só”...
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Sobre a dualidade humana
E aconteceu que o sentido de meus estudos científicos, que me conduziam à mística e às coisas transcendentes, suscitou e derramou imensa claridade nesse caráter de guerra permanente entre o bem e o mal em que me debatia. Em cada dia, as duas partes da minha inteligência, a moral e a intelectual, atraíam-se mais e mais para essa verdade, cuja descoberta parcial fora em mim condenada a tão pavoroso naufrágio: que o homem não é realmente uno, mas duplo.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 98.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 98.
Vasculhando o passado
O advogado voltou para casa de coração pesado. "Pobre Henry Jekyll", pensava, "tenho o pressentimento de que está em maus lençóis! Quando jovem era estouvado. Certamente já se passaram muitos anos mas na lei de Cristo não há prescrição. sim, deve ser isso: o fantasma de algum antigo pecado, o câncer de alguma desgraça oculta; o castigo chega, pede claudo, anos depois de a memória ter esquecido e quando o amor próprio perdoou a ofensa". E Utterson, horrorizado com esse pensamento, começou a esquadrinhar o próprio passado vasculhando todos os cantos de memória, com medo de que algum pecado antigo surgisse de repente, exigindo expiação.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 32.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 32.
Sobre ser o outro
- Custa-me muito fazer perguntas; é uma coisa que cheira a Juízo Final. Lança-se uma, e é o mesmo que arremessar uma pedra. Senta-se alguém, tranquilo, no alto de uma colina; e a pedra desprende-se, arrastando outras, e então algum pobre coitado, que estava tranquilamente descansando em seu jardim, é atingido na cabeça, e a família tem que fazer o enterro. Não, senhor; é uma regra que eu sigo: quanto mais vejo os outros em situações difíceis, menos perguntas faço.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 20.
- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 20.
Assinar:
Postagens (Atom)