domingo, 9 de novembro de 2014

Sobre hoje...

Hoje eu senti a dor como há tempos achava que jamais poderia sentir. É essa dor que invade e faz a gente sentir que o mundo é um lugar ruim demais para se viver. É essa dor que diz que já passou o tempo em que você pudesse sentir que poderia fazer algo por alguém sem se ferir. Não é mais uma dor que impulsiona para alcançar algo que adiante possa dizer o quanto tê-la sentido nos fez crescer. É a dor pela dor. A dor que se apresenta, que se mostra não-racional, tão forte e tão intensa, incapaz de deixar qualquer coisa viver depois de si. Como um incêndio, que queima. Por mais que o fogo seja apagado, por mais que muitos se empenhem em não deixá-lo se alastrar, e mesmo após muito tempo depois de queimado, ainda se sente dor. E quando a dor passar, ainda será possível olhar para seus estragos e dizer que ali houve um incêndio. Que mesmo que tenham jogado água fria para apagá-lo, você não pôde sentir outra coisa que não seja um chacoalhão que te deixa aturdido, mas as marcas permanecem ali. Por um tempo úmidas em sua roupa, encharcando seus cabelos. Mais tarde, é madeira queimada, restos de fuligem.
E ainda assim, se pode dizer que há um pouco de beleza na dor. Há um certo encantamento, como se olhássemos para um cristal de vidro com a fórmula de alguma vida, com um restinho de esperança capaz de te fazer sentir que muitos passaram antes de ti, e que tantos outros haverão depois. Frágeis, por vezes dissimulados, em tantos outros casos doloridos, indigestos e preocupados.
Mas até quando dormirás se esforçando para chegar mais perto disto que entendes por felicidade? Olha teu rosto no espelho. Ei, garota, como podes ter sido tão linda e tão triste? Eu chorava por ela, mas chorava também por mim. Por tê-la deixado sozinha, sendo triste. Por tê-la enganado, não mentindo, mas omitindo tantas verdades e ao mesmo tempo tantos enganos.
Ah, minha querida, nos enganamos. De foco, de jeito, nos enganamos com gestos e com palavras. Eu, por não dizê-las nem fazê-las. Tu, por não buscá-las. Desculpe por tê-la deixado sozinha, por ter deixado de amá-la. Desculpe por fazê-la buscar sozinha seus sonhos e por até então não tê-los encontrado. Tudo isto, não nos diz nada.

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