segunda-feira, 7 de outubro de 2013

domingo, 6 de outubro de 2013

Nos embalos de hoje...

Ela vem subindo a rua
Ela vem imaginando uma solução
Ela anda no mundo da lua
Ela anda na sua solidão

Sonhos perdidos no tempo
Para onde o vento irá soprar
Ela quer entender o momento
Talvez seja a hora de repensar

Não há mais porque não acreditar
Não há mal nenhum em se deixar levar

Cachorro Grande, in Na sua solidão

domingo, 22 de setembro de 2013

Que hay de trás



Hoje eu me afoguei sozinha. Hoje, mais uma vez, comecei a olhar para as fotos e não conseguir observar os olhos e os sorrisos, mas meu corpo, minhas pernas, meus braços, a barriga, os glúteos. Ao invés de pensar no quão feliz estava por estar com aquelas pessoas eu pensava no quão infeliz estava por ser gorda. E, de repente, uma insatisfação geral me invade, dizendo o quanto sou falha, pois nem consigo manter aquele peso desejado e adquirido algumas semanas atrás. Porque eu consegui, eu fui capaz, mas agora estou engordando e voltarei a ser uma obesa em breve, pois não consigo me controlar e fico comendo como uma vaca. Desejo implorando que chegue logo a segunda, porque eu voltarei a pisar na linha. Enquanto isto, é domingo, é companhia de pessoas, são refeições coletivas, doces, gorduras, carboidratos, muitos e muitos lipídios – e sim, você é uma lipofóbica! E agora, o que não sai da minha cabeça é aquele quitosana 500 mg que vi sexta na vitrine da farmácia, me chamando, me dizendo que já que sou uma vaca gorda pelo menos devo fazer alguma coisa para eliminar um pouco de tanta gordura que vai preencher meu corpo e que devo voltar lá e comprar o medicamento.
Mas agora, minha cabeça dói, depois da terceira sessão de vômito auto induzido no dia, minhas mãos tremem, minha garganta arde e minha boca tem gosto de sangue. Não posso nem pensar em engolir nada além de chá morno, porque desceria queimando, mas também porque já fitei meus olhos no espelho e disse: você não vai comer mais nada hoje, entendeu? E então qualquer outra atitude seria catastrófica.
Não sai de minha cabeça o episódio da noite anterior, quando minha amiga falava da minha barriga reta e mostrava a dela, chorando, porque “nunca esteve tão gorda”. E eu, só consegui sair do quarto, enquanto as outras tentavam consolá-la. Era a única coisa que eu podia fazer, porque me sentia responsável por aquilo. Mesmo querendo dizer que tinha sim, uma “barriga reta”, mas que eu vinha pagando muito caro, há anos, para tê-la, e que nunca na minha vida recomendaria que qualquer outra pessoa fizesse o que fiz para conseguir ter a imagem que tenho hoje – e que nem consigo ver como é de fato!
E lembro também de como foi doloroso quando meu amigo perguntou como eu me sentia por ter emagrecido tanto e que respondi que “isso era tudo o que eu queria”, mas que lá no fundinho, precisava reconhecer que não estava nem um pouco feliz. Que isto não me faz feliz.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O dia antes de amanhã

Dia de calmaria após a tempestade noturna. Assim é hoje. Dias em que o hoje justifica o ontem. Só isso, assim. Também aqui dentro. Dia alto astral depois de outro dia de deprê total, de cama, cobertores, janelas fechadas. Ausência de vida e excesso de silêncio. Assim foi ontem, não mais hoje. Mais uma confissão no final do dia para dizer quem é que está no controle e quem pode fazer o quê. Sim, eu fui capaz. Sim, eu pude dizer que não estava bem, que não havia comido e que havia vomitado. Eu pude dizer para alguém. Pude confiar um segredo e então o segredo não ser mais segredo, mas relação. Olhando nos olhos, desviando o olhar de vez em quando, chorando depois, por saírem as borboletinhas do estômago. Mas dizendo, contando, confiando. Pedindo para olharem e dizerem "ei, estamos aqui. Você não está sozinha", "te amamos", "sabemos que pode conseguir". E posso. E sou. Sou mais do que penso que seja o ato de me alimentar, mais que as noites em claro, com fome. Mais que os pedidos silenciosos por socorro. Mais que tudo isso junto. Só preciso acreditar um pouquinho mais, me reconhecer um pouquinho mais. Como quando me olho no espelho e posso dizer que isso não é bonito e que eu não quero mais isso, que três refeições em um dia não são motivos para pânico, choro e desespero. Que o fato de acordar e ver que depois de quase 5 meses minha menstruação voltou, justamente depois do dia em que eu me olhei e disse "princesa, dá pra fazer isso, não dá? Você consegue, não consegue?". Sim, posso. Sim, consigo. SIM, SOBREVIVEREI A ISTO!

domingo, 15 de setembro de 2013

Quem és tu que me olhas como se fosse com os olhos do mundo?

Eu vi que você me espiava pela janela enquanto eu chorava. Vi que você via enquanto eu implorava por socorro e não havia ninguém do outro lado da porta para ajudar. Eu sei que você via e que faria de tudo para me salvar. Se pudesse. Se eu permitisse. Porque eu queria que todos, de repente, descobrissem. Queria que todos soubessem o que faço quando estou sozinha, escondida. De repente, queria que todos estivessem como você, espiando na janela escancarada, na porta encostada. Ouvindo os soluços, suspeitando dos silêncios, dos socos na parede, dos gritinhos abafados no travesseiro. Eu sei que me espiava enquanto ninguém mais via, enquanto eu própria não me via. E pedia ajuda, ajuda, ajuda, mil vezes, gritando, rasgando. Em silêncio.