domingo, 22 de setembro de 2013

Que hay de trás



Hoje eu me afoguei sozinha. Hoje, mais uma vez, comecei a olhar para as fotos e não conseguir observar os olhos e os sorrisos, mas meu corpo, minhas pernas, meus braços, a barriga, os glúteos. Ao invés de pensar no quão feliz estava por estar com aquelas pessoas eu pensava no quão infeliz estava por ser gorda. E, de repente, uma insatisfação geral me invade, dizendo o quanto sou falha, pois nem consigo manter aquele peso desejado e adquirido algumas semanas atrás. Porque eu consegui, eu fui capaz, mas agora estou engordando e voltarei a ser uma obesa em breve, pois não consigo me controlar e fico comendo como uma vaca. Desejo implorando que chegue logo a segunda, porque eu voltarei a pisar na linha. Enquanto isto, é domingo, é companhia de pessoas, são refeições coletivas, doces, gorduras, carboidratos, muitos e muitos lipídios – e sim, você é uma lipofóbica! E agora, o que não sai da minha cabeça é aquele quitosana 500 mg que vi sexta na vitrine da farmácia, me chamando, me dizendo que já que sou uma vaca gorda pelo menos devo fazer alguma coisa para eliminar um pouco de tanta gordura que vai preencher meu corpo e que devo voltar lá e comprar o medicamento.
Mas agora, minha cabeça dói, depois da terceira sessão de vômito auto induzido no dia, minhas mãos tremem, minha garganta arde e minha boca tem gosto de sangue. Não posso nem pensar em engolir nada além de chá morno, porque desceria queimando, mas também porque já fitei meus olhos no espelho e disse: você não vai comer mais nada hoje, entendeu? E então qualquer outra atitude seria catastrófica.
Não sai de minha cabeça o episódio da noite anterior, quando minha amiga falava da minha barriga reta e mostrava a dela, chorando, porque “nunca esteve tão gorda”. E eu, só consegui sair do quarto, enquanto as outras tentavam consolá-la. Era a única coisa que eu podia fazer, porque me sentia responsável por aquilo. Mesmo querendo dizer que tinha sim, uma “barriga reta”, mas que eu vinha pagando muito caro, há anos, para tê-la, e que nunca na minha vida recomendaria que qualquer outra pessoa fizesse o que fiz para conseguir ter a imagem que tenho hoje – e que nem consigo ver como é de fato!
E lembro também de como foi doloroso quando meu amigo perguntou como eu me sentia por ter emagrecido tanto e que respondi que “isso era tudo o que eu queria”, mas que lá no fundinho, precisava reconhecer que não estava nem um pouco feliz. Que isto não me faz feliz.

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