Hoje eu me afoguei sozinha. Hoje, mais uma vez, comecei a
olhar para as fotos e não conseguir observar os olhos e os sorrisos, mas meu
corpo, minhas pernas, meus braços, a barriga, os glúteos. Ao invés de pensar no
quão feliz estava por estar com aquelas pessoas eu pensava no quão infeliz
estava por ser gorda. E, de repente, uma insatisfação geral me invade, dizendo
o quanto sou falha, pois nem consigo manter aquele peso desejado e adquirido
algumas semanas atrás. Porque eu consegui, eu fui capaz, mas agora estou
engordando e voltarei a ser uma obesa em breve, pois não consigo me controlar e
fico comendo como uma vaca. Desejo implorando que chegue logo a segunda, porque
eu voltarei a pisar na linha. Enquanto isto, é domingo, é companhia de pessoas,
são refeições coletivas, doces, gorduras, carboidratos, muitos e muitos
lipídios – e sim, você é uma lipofóbica! E agora, o que não sai da minha cabeça
é aquele quitosana 500 mg que vi sexta na vitrine da farmácia, me chamando, me
dizendo que já que sou uma vaca gorda pelo menos devo fazer alguma coisa para
eliminar um pouco de tanta gordura que vai preencher meu corpo e que devo
voltar lá e comprar o medicamento.
Mas agora, minha cabeça dói, depois da terceira sessão de
vômito auto induzido no dia, minhas mãos tremem, minha garganta arde e minha
boca tem gosto de sangue. Não posso nem pensar em engolir nada além de chá
morno, porque desceria queimando, mas também porque já fitei meus olhos no
espelho e disse: você não vai comer mais nada hoje, entendeu? E então qualquer
outra atitude seria catastrófica.
Não sai de minha cabeça o episódio da noite anterior, quando
minha amiga falava da minha barriga reta e mostrava a dela, chorando, porque “nunca
esteve tão gorda”. E eu, só consegui sair do quarto, enquanto as outras
tentavam consolá-la. Era a única coisa que eu podia fazer, porque me sentia
responsável por aquilo. Mesmo querendo dizer que tinha sim, uma “barriga reta”,
mas que eu vinha pagando muito caro, há anos, para tê-la, e que nunca na minha
vida recomendaria que qualquer outra pessoa fizesse o que fiz para conseguir
ter a imagem que tenho hoje – e que nem consigo ver como é de fato!
E lembro também de como foi doloroso quando meu amigo
perguntou como eu me sentia por ter emagrecido tanto e que respondi que “isso
era tudo o que eu queria”, mas que lá no fundinho, precisava reconhecer que não
estava nem um pouco feliz. Que isto não me faz feliz.
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