Supere isto. E se não puder, supere o vício de falar a respeito (Caio Fernando Abreu). ESCREVA.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
domingo, 6 de outubro de 2013
Nos embalos de hoje...
Ela vem subindo a rua
Ela vem imaginando uma solução
Ela anda no mundo da lua
Ela anda na sua solidão
Sonhos perdidos no tempo
Para onde o vento irá soprar
Ela quer entender o momento
Talvez seja a hora de repensar
Não há mais porque não acreditar
Não há mal nenhum em se deixar levar
Cachorro Grande, in Na sua solidão
Ela vem imaginando uma solução
Ela anda no mundo da lua
Ela anda na sua solidão
Sonhos perdidos no tempo
Para onde o vento irá soprar
Ela quer entender o momento
Talvez seja a hora de repensar
Não há mais porque não acreditar
Não há mal nenhum em se deixar levar
Cachorro Grande, in Na sua solidão
domingo, 22 de setembro de 2013
Que hay de trás
Hoje eu me afoguei sozinha. Hoje, mais uma vez, comecei a
olhar para as fotos e não conseguir observar os olhos e os sorrisos, mas meu
corpo, minhas pernas, meus braços, a barriga, os glúteos. Ao invés de pensar no
quão feliz estava por estar com aquelas pessoas eu pensava no quão infeliz
estava por ser gorda. E, de repente, uma insatisfação geral me invade, dizendo
o quanto sou falha, pois nem consigo manter aquele peso desejado e adquirido
algumas semanas atrás. Porque eu consegui, eu fui capaz, mas agora estou
engordando e voltarei a ser uma obesa em breve, pois não consigo me controlar e
fico comendo como uma vaca. Desejo implorando que chegue logo a segunda, porque
eu voltarei a pisar na linha. Enquanto isto, é domingo, é companhia de pessoas,
são refeições coletivas, doces, gorduras, carboidratos, muitos e muitos
lipídios – e sim, você é uma lipofóbica! E agora, o que não sai da minha cabeça
é aquele quitosana 500 mg que vi sexta na vitrine da farmácia, me chamando, me
dizendo que já que sou uma vaca gorda pelo menos devo fazer alguma coisa para
eliminar um pouco de tanta gordura que vai preencher meu corpo e que devo
voltar lá e comprar o medicamento.
Mas agora, minha cabeça dói, depois da terceira sessão de
vômito auto induzido no dia, minhas mãos tremem, minha garganta arde e minha
boca tem gosto de sangue. Não posso nem pensar em engolir nada além de chá
morno, porque desceria queimando, mas também porque já fitei meus olhos no
espelho e disse: você não vai comer mais nada hoje, entendeu? E então qualquer
outra atitude seria catastrófica.
Não sai de minha cabeça o episódio da noite anterior, quando
minha amiga falava da minha barriga reta e mostrava a dela, chorando, porque “nunca
esteve tão gorda”. E eu, só consegui sair do quarto, enquanto as outras
tentavam consolá-la. Era a única coisa que eu podia fazer, porque me sentia
responsável por aquilo. Mesmo querendo dizer que tinha sim, uma “barriga reta”,
mas que eu vinha pagando muito caro, há anos, para tê-la, e que nunca na minha
vida recomendaria que qualquer outra pessoa fizesse o que fiz para conseguir
ter a imagem que tenho hoje – e que nem consigo ver como é de fato!
E lembro também de como foi doloroso quando meu amigo
perguntou como eu me sentia por ter emagrecido tanto e que respondi que “isso
era tudo o que eu queria”, mas que lá no fundinho, precisava reconhecer que não
estava nem um pouco feliz. Que isto não me faz feliz.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
O dia antes de amanhã
Dia de calmaria após a tempestade noturna. Assim é hoje. Dias em que o hoje justifica o ontem. Só isso, assim. Também aqui dentro. Dia alto astral depois de outro dia de deprê total, de cama, cobertores, janelas fechadas. Ausência de vida e excesso de silêncio. Assim foi ontem, não mais hoje. Mais uma confissão no final do dia para dizer quem é que está no controle e quem pode fazer o quê. Sim, eu fui capaz. Sim, eu pude dizer que não estava bem, que não havia comido e que havia vomitado. Eu pude dizer para alguém. Pude confiar um segredo e então o segredo não ser mais segredo, mas relação. Olhando nos olhos, desviando o olhar de vez em quando, chorando depois, por saírem as borboletinhas do estômago. Mas dizendo, contando, confiando. Pedindo para olharem e dizerem "ei, estamos aqui. Você não está sozinha", "te amamos", "sabemos que pode conseguir". E posso. E sou. Sou mais do que penso que seja o ato de me alimentar, mais que as noites em claro, com fome. Mais que os pedidos silenciosos por socorro. Mais que tudo isso junto. Só preciso acreditar um pouquinho mais, me reconhecer um pouquinho mais. Como quando me olho no espelho e posso dizer que isso não é bonito e que eu não quero mais isso, que três refeições em um dia não são motivos para pânico, choro e desespero. Que o fato de acordar e ver que depois de quase 5 meses minha menstruação voltou, justamente depois do dia em que eu me olhei e disse "princesa, dá pra fazer isso, não dá? Você consegue, não consegue?". Sim, posso. Sim, consigo. SIM, SOBREVIVEREI A ISTO!
domingo, 15 de setembro de 2013
Quem és tu que me olhas como se fosse com os olhos do mundo?
Eu vi que você me espiava pela janela enquanto eu chorava. Vi que você via enquanto eu implorava por socorro e não havia ninguém do outro lado da porta para ajudar. Eu sei que você via e que faria de tudo para me salvar. Se pudesse. Se eu permitisse. Porque eu queria que todos, de repente, descobrissem. Queria que todos soubessem o que faço quando estou sozinha, escondida. De repente, queria que todos estivessem como você, espiando na janela escancarada, na porta encostada. Ouvindo os soluços, suspeitando dos silêncios, dos socos na parede, dos gritinhos abafados no travesseiro. Eu sei que me espiava enquanto ninguém mais via, enquanto eu própria não me via. E pedia ajuda, ajuda, ajuda, mil vezes, gritando, rasgando. Em silêncio.
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