terça-feira, 23 de abril de 2013

Memória & institucionalização

Concordamos que comparar a vida em ILPI à vida em Auschwitz seja um caso extremo ou até mesmo exagerado, mas as situações relatadas por Conde (1994), Pollak (1989) e Agamben (2008) são similares, embora menos nefastas do ponto de vista histórico, sem minimizar as trágicas consequências do ponto de vista subjetivo: pessoas saem da rotina a que estão acostumadas para adentrarem em outra rotina (que pode ser a de fazer nada), conviverem com pessoas diferentes e desconhecidas, mas que estão no mesmo lugar por um motivo comum e em condição de submissão. Em ambos os casos, como se expressam? De acordo com exemplos dos campos de concentração nazistas apresentados por Pollak (1989) e Conde (1994), o silêncio pode vir no sentido de reorganização psíquica acerca das tensões vivenciadas, sentimento de culpa e ausência de escuta efetiva (POLLAK, 1989) ou, ainda, como forma de preservar a integridade pessoal diante de fatos devastadores (CONDE, 1994). Não falar, neste caso, pode ser uma forma de se preservar. Haveria algo gritando em meio a tanto silêncio? Acreditamos que sim. E é por isto que as contribuições da psicanálise para este viés nos fazem sentido. Sob as considerações de Mucida (2004; 2009) é que retomamos a atemporalidade do inconsciente psicanalítico, apontando que memórias não podem morrer porque se entrelaçam em tempos passados, presentes e futuros, para constituírem aquilo que cada um de nós chama de eu. Interpretar este eu é pensar (e falar, narrar, contar) sobre si, pois somente desta forma somos capazes de significar nossas próprias existências. Como romper? Como favorecer qualidade de vida diante de amarras sociais que se transpõem diante de existências tão ricas e peculiares? Em que medida, em que circunstâncias, o movimento interno provocado pelo silêncio representa vida para moradores de longos anos em instituições? Não podemos afirmar respostas, mas o próprio movimento de pensar – em silêncio – mobiliza para inúmeras possibilidades de intervenções.
Meu querido Skinner que me perdoe, mas Freud foi brilhante ao nos permitir formular isso! :)

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