quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Um ano depois...

Nesta semana faz um ano. Seu primeiro aniversário daquele último dia. Da última vez. Você ainda se lembra?
Sim, eu sei que lembra. Lembra-se como se houvesse sido ontem, não é?
Um dia de trabalho, parecia normal, você pôs seu uniforme, acordou cedo, não tomou seu café, saiu às pressas, estava atrasada alguns poucos minutos. Caminhou rápido e o dia estava tão quente. Você transpirava - muito! Chegou cedo, embora estivesse um pouco atrasada. A loja estava vazia. Você e aquelas estantes, a mesa, seu computador. Só você. E mil e um pensamentos. Você estava ansiosa... Sua formatura chegava. Seria um grande dia. No dia seguinte você pegaria seu vestido, aquele dos seus sonhos, desenhado pelas suas mãos, todo cheio de pedras prateadas, em um tom azul da cor do céu. Da cor da esperança que havia em seus olhos e em seu coração. Mas ele estava fraco, ele, seu coração. Um pouco de dor na garganta também. Você se lembra de como doeu quando vomitou o jantar na noite anterior? E no almoço também? Aliás, você lembra que estava sendo assim há alguns dias? Eu sei que lembra, você não poderia esquecer. Como não esquece daquele dia.
Você chegou no trabalho como um dia normal, mas sentia frio. Foi para casa no horário de almoço e apenas dormiu. Você mentia muito também, era uma boa atriz e a época era de grandes mentiras. Mas naquele dia, dizia a verdade. Você não sentia fome - e sentia um pouco de dor. Na cabeça, na garganta, no estômago.
Mesmo assim, voltou para o trabalho. Não falou com ninguém. Você se lembra de como pediu ao seu chefe para ir até a farmácia e de como ele não se solidarizou com você? Aquilo te deixou com raiva, não é? Então, para provar que era forte, você ficou. Você ficou no trabalho por mais tempo do que deveria, você deixou seu coração bater sozinho por mais do que ele poderia, você demorou para pedir ajuda, e quando pediu, ela estava distante.
Sua mãe demorou a chegar, mas ela chegou. Te colocou no banco de trás do carro, como fizera outras vezes quando você era pequenininha. E você não esqueceu. Você acordava e dormia, naquele banco da emergência do hospital. Você via sua vida indo aos pouquinhos, você ouvia sua mãe batendo boca com a enfermeira ao longe, chamando um médico com pressa. Você sentia a mão dela na sua testa suada e quente, você sentia aquelas mãos fortes segurando as suas mãos geladas. Mães... Elas deviam ser eternas, estar para sempre com a gente.
Você sentia a dor, a sua, que era muita, que era gigante. Mas também a dela, que era maior ainda. E você sabia, que se ela te perdesse, a culpa era sua. Algum tempo depois, já em sua cama, em sua casa, você chorava com lágrimas do coração. Você pedia desculpas, você ouvia sua mãe dizendo que andava preocupada, que sabia que as coisas contigo não iam bem. Ah, e como ela sabia! Não iam mesmo. Você queria morrer. Você poderia morrer para ficar bonita dentro daquele vestido azul-cor-de-céu-com-pedras-prateadas.
E você se lembra de como passou aqueles dias seguintes de cama, de como foi assustador quando o médico disse que somente com muita sorte você estaria bem para a sua formatura? Você lembra do seu desespero? Lembra-se de como você chorou mais forte depois daquilo?
Você se lembra, não é? Não há como esquecer.
Mas você sobreviveu. Você viveu seu baile de formatura e dançou a valsa com seu pai, você o viu sorrindo naquele dia, como não lembrava de tê-lo visto antes. Você viu o orgulho em seus olhos e refletiu na marca roxa do soro médico no seu braço esquerdo. Naquela valsa você lembrou da dor. Do medo de morrer, do medo daquilo que ia perder, da dor que ia infringir. E você fez uma promessa, também: você queria superar aquelas coisas todas, você queria viver, você queria voltar a ser a menina um pouco gordinha que jogava béts com os meninos na rua.

E de lá para cá, um ano passou. Você ficou um ano mais velha, um ano mais forte, um ano mais apaixonada pela vida e por tudo o que ela tem oferecido.
Olha, nós sabemos que este último ano não foi fácil. Você perdeu tanto ao ganhar. Você fez trocas pesadas, mas todas justas - e você as honrou como se honra uma promessa. Você não se decepcionou. Você superou todas as suas expectativas. Você tem sido feliz, não tem? Você tem amado mais do que poderia. Você tem sido tão presente quanto achou que conseguiria. Você continua lutando. Você continua, linda!
Você não desiste, nunca, não é?
Ao mesmo tempo, você não conseguiu fazer tudo o que queria. Não conseguiu deixar essas coisas para lá - elas ainda te importam e assombram, mas você sabe o que é mais importante nisso tudo.
Você coloca mais paixão do que imaginaria ser possível, em tudo aquilo que faz. Você provoca alguns sorrisos, de vez em quando. Você irradia alguns corações, algumas vezes também. Você encanta, pena não se deixar tocar muito. Você ganharia muito mais... Mas você ama, e no final das contas, é isto que importa.
Você compartilha sua história dizendo que tem medo, mas no final deixa sempre aquela mensagem positiva de que é possível.
Você acredita.
E, por acreditar, constrói castelos de flores no deserto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembra, mas continua errando, meu bem?