sábado, 28 de março de 2015

Sobre a morte, com meus dedos

A morte nunca é uma coisa fácil de viver. Aliás, ela é muito difícil e em ambos os casos, tanto para quem vai, quanto para quem fica. Essas últimas semanas, em que ela esteve rondando minha vida por tocar pessoas próximas, eu comecei a me perguntar um pouco mais sobre ela... Lembro que meu primeiro contato com o tema "morte" foi na adolescência, quando eu tinha de 13 para 14 anos, e em 2005, Markus Zusak publicou A menina que roubava livros. Esse livro acompanhou minha adolescência e continua por perto, agora na vida adulta. O amor à primeira vista foi por dois motivos: minha paixão enlouquecedora pelos livros e pela biblioteca do JAM, em que passava mais tempo do que na sala de aula; mas também foi porque foram nos anos ali por perto que eu comecei a perder pessoas importantes, depois de pude entender que a morte as levava e era para sempre.
Eu havia me encantando com o tema Morte, embora ainda não imaginasse que chegaria mais perto dela com a faculdade.
Logo no começo da graduação, com a disciplina de Psicologia do Desenvolvimento, eu me interessei pelos dois últimos capítulos do livro sobre desenvolvimento humano, do Eizirik: A velhice e A morte. Não por terem correlação direta, porque NÃO TÊM, porque convivi com muitas provas de que a velhice pode chegar e ser cheia de vida! Mas, hoje sei que há um porquê, e não é à toa, seguir com tanto afinco pelos caminhos do envelhecimento humano e, mais especificamente, do meu interesse pela velhice e pelo morrer, como categorias distintas, afinal, bebês, crianças, adolescentes e adultos jovens também morrem. Saber que um dia todos nós vamos morrer me instigou a viver.
A menina que roubava livros, Solidão dos Moribundos, Sobre a Morte e o Morrer, As intermitências da Morte, Ritos de Infância, As Criadas, A Valsa nº 6... Todos eles me ensinaram um pouquinho. Foram textos e mais textos - leituras, ensaios, encenações. "Morri" em palco também, várias vezes, com Helena, com Claire, com Sônia - fomos companheiras do início ao fim. Ainda me arrepio quando recito Sônia, na Valsa... "Um defunto contamina tudo ao seu redor - a mesa e a dália". Todos estes textos me prepararam com forte consistência teórica para entender a Morte, para dar algum conforto aos idosos, no Asilo, quando eu podia sentir que era a última visita. Mas, eles não me prepararam para encarar a morte como uma "perda pessoal". Então, me peguei pensando nesta semana nas pessoas que passaram por aqui, que estiveram por perto, e especialmente do dia em que minha avó paterna faleceu... Eu conversava com uma amiga e ela dizia "você chegou em uma idade em que começa a perder as pessoas". Não sei se há uma "idade" para isso, mas sim, eu cheguei... E me assombro ao perceber... Eu não estou preparada. Aliás, quem está?
Lembrei de um texto de Rubem Alves, pouco antes de sua morte... "A gente devia ter uma especialidade destinada a cuidar das pessoas diante da chegada da morte, assim como há a obstetrícia para cuidar da vida que chega"...
Aliás, há muitos "a gente devia" com relação a isto... A gente devia falar mais sobre ela, a gente devia ser mais claro com as crianças diante das angústias de perder alguém, a gente devia se preparar para viver este dia, o de morrer, por que não? Se a Morte pudesse ser vivida efetivamente como uma última etapa da vida, morrer seria mais leve. E viver também.

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