quarta-feira, 11 de março de 2015

Sobre vidas que se vão

Quando decidi que faria psicologia, isso vários anos atrás, ainda quando eu sequer sabia o que uma psicóloga fazia direito, eu acho que já acreditava que é preciso falar sobre a dor, e que a dor, quando compartilhada, dói menos.
Hoje, quando pessoalmente eu sou mais madura - e já vivi um bocado de coisas e senti uma porção de momentos de distintas dores na minha vida pessoal e também na profissional - eu continuo achando que falar da dor é importante, mas que infelizmente ela não pode curar tudo, sempre, e nem dar garantias de que a dor passará em algum momento enfim, por mais que falemos dela.

Tu, eu queria dizer que não consigo imaginar até que ponto foi a sua dor, antes de você fazer o que fez, e que eu sinto muito por ter tentado respeitar seu espaço e ter sido espaço demais, sinto por não insistir um pouco mais sobre conversar. Não sinto por não ter evitado, porque sei que nem eu nem ninguém teria sido capaz; mas eu sinto por não ter dito que gostaria que você ficasse um pouco mais.
Depois que tudo aconteceu, parecia tão óbvio... As fotos, os textos, as músicas... Você colocando seu guarda-roupas todo à venda. Agora, realmente parece óbvio, mas naquele momento, quem poderia juntar os pedacinhos e acreditar? Talvez se tivéssemos falado sobre as fotos, sobre os textos, sobre as roupas... Talvez se tivéssemos falado sobre a vida, se tivéssemos falado...
Mas não falamos. Não falamos e a dor ficou contigo. Não falamos e ela foi maior do que você podia suportar. Não falamos sobre alternativas, sobre o que podíamos fazer com ela, sem que você fizesse nada com você.

Mas agora que não podemos mais falar sobre a dor, a única coisa que vai ficar é o silêncio. É o silêncio da interrogação, da pergunta, da questão que começou e não terminou. O silêncio que vem com a incompreensão de todos sobre onde foi que se errou.
O silêncio que vem "quando seus amigos te surpreendem, tirando a vida de repente, e não se quer acreditar". Então, não vou dizer que eu entendo. Eu te digo que respeito, que a decisão é sua, mas eu não vou entender nunca.
Fique com Deus, Tu. Todos amamos você.

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