sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre amarras, correntes e desejos

Assisti a "O médico e o monstro" hoje! Já tinha lido o livro, mas sem dar a importância que dei ao filme. Por quê? A identificação do dia. Marcou muito determinado momento em que a advogada diz que quando uma pessoa comete um crime obrigada por outra ela não pode ser considerada culpada. Porque eu fiz isso hoje. Porque andei "planejando" a semana toda (ou quem sabe o mês) e hoje enfim eu o cometi. O mesmo crime das outras vezes, o mesmo ato impulsionado pelo desejo. E desta vez foi totalmente estético: eu estou ficando gorda. E não quero, não posso, ficar.
Nunca sai totalmente, nunca se vai por completo, porque a vontade de cometer esse crime permanece 24 hs por dia. Todas as vezes em que preparo uma refeição, ou quando olho minha barriga no espelho, quando me sinto "inchada". Acontece também toda vez que entro no banheiro e que sei que ali, naquele espaço vazio, eu posso cometer os meus crimes sem que ninguém os veja. Sei que ali eu posso me deixar ser essa outra pessoa que não só fica nos desejos, mas que cumpre todas as suas vontades, mesmo quando elas são perigosas, cruéis, ou temidas demais. Mas ainda assim, mesmo ali na sala escura onde tudo pode ser dito e feito, eu não faço, eu não deixo que ela se apresente e leve meu corpo, minha alma, minha vida. Eu não deixo que esses pensamentos se tornem tão grandes novamente que vão me fazer cair, despencar num abismo de olhares, silêncios e segredos. Mesmo ali eu cubro os olhos, tapo a boca, os ouvidos. Amarro minhas mãos longes de minha boca, para que nada possa ser feito. E fica só o desejo. Não-satisfeito.

Nenhum comentário: