sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A partida

É como colecionar fragmentos de textos tristes, textos que mostram o que realmente a vida é: esse ciclo (in)terminável, um ir e vir, um ser e não ser, um ser a toda hora e não poder se reconhecer sendo outra coisa que não seja você. Lembro-me que quando eu era criança acreditava que as pessoas que partiam iam para o céu, viravam estrelinhas de luz, a mesma coisa que meu irmão de 8 anos disse quando perguntei se ele sabia o que estava acontecendo. Acho que é isto: perder alguém é olhar para um céu de estrelas procurando a mais brilhante de todas e atribuindo a ela toda a luz de uma vida, de uma vida toda linda, vibrante e quente. Então hoje mais uma vez eu me pego abrindo a janela do quarto em uma noite escura, para te procurar pelo céu. Mas eu ainda não posso te ver, porque você parece muito longe, tão longe que tua luz ainda não é perceptível a meus olhos. E não importa o que digam, a gente sempre vai achar que aqueles que amamos se foram cedo demais, que tinham coisas a fazer por aqui ainda, pessoas para amar, consolar. Mas você se foi e isso dói tanto. Mesmo eu sabendo das dificuldades que você passava por aqui, da dor, do incômodo que era te perguntarem se sabia quem era, sabendo que você não sabia, e não tinha como saber porque a vida tinha lhe colocado em uma situação complicada de resolver. Mesmo imaginando o que é acordar todos os dias sem saber dizer onde está, o que sente, se precisa de água, alimento ou simplesmente conversar.
E eu, que sei de tudo isso, ainda insisto, me perguntando por que você se foi, questionando por que não esperou pela minha formatura, pelo meu casamento, para conhecer teus bisnetos e no meu aniversário perguntar, mais uma vez, quantos anos eu fazia mesmo?!
Ainda que eu aceite, e aceito, acredite que sim, eu não posso deixar de chorar por isto e de implorar para que pelo amor de Deus, pare de doer tanto assim, porque eu pareço não conseguir suportar.
Então eu espero que me consolem, que me digam que vai ficar tudo bem, que vai passar. E eu sei que vai, mas ainda assim, eu preciso deste tempo, preciso desse silêncio e destas perguntas que não retornam com respostas, para entender que é real, que você se foi, que você, daquele jeitinho que eu via, não existe mais. Mas que fica a lembrança, ficam as fotografias no álbum de família, no porta retratos. E que você fica, em minha memória e em meu coração.
E eu sei que fico escrevendo tudo isto em um blog na esperança de um ouvinte, quando as palavras faladas não dão conta de tantos sentimentos jogados na correnteza da vida.

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