Foi quando me disseram que "te ver crescer é angustiante. Mas é muito bonito". E foi assim.
Era uma tarde quente de primavera, uma daquelas tardes em que tudo que era possível de dar errado, já havia dado. Uma tarde em que muito já havia sido dito, e que tantas outras coisas já haviam sido caladas. Sentei a seu lado, no sofá. Eu puxava assuntos, conversas corriqueiras, do dia a dia, perguntas simples que apenas exigiam atenção. "Quente hoje, não é, vó?". E ela respondia a todas as minhas perguntas, da mesma forma calma com que me respondera a todas elas nos 20 anos anteriores. Embora não fossem as respostas que eu esperava, coerentes, sensatas, como outrora me foram seus conselhos. Então eu parei, porque não havia um porquê naquilo tudo. E ela me olhou, olhou em meus olhos de forma firme, como suas mãos não se apresentavam há tempos, um olhar intenso e muito forte. Naquele momento tive clareza de que o tom de verde de meus olhos é igualzinho aos seus. E aquela mulher que estava à minha frente, colocou seu dedo em minha bochecha, com uma leve pressão e desceu até meu queixo, por poucos segundos que me pareceram muitos minutos. E desviou o olhar. Eu tinha certeza: aquela senhorinha de 83 anos, dona de cabelos brancos, pele muito clara e olhos cristalinos, poderia não saber meu nome, nem quem eu era, mas ela me amava. Amava como sempre amou e como eu também, sabia, sempre a amei. Mas agora, ela está partindo... Flying, flying, flying, to the sky. Essa, foi a nossa despedida, a última fotografia que, com lágrimas nos olhos, coloco no álbum de família de nossa existência introvertida.
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