Chega uma época da vida em que a gente vai se sentindo meio sem lugar. É a ausência de um espaço físico e material, mas muito mais do que não ter um guarda-roupas para colocar as roupas na casa dos pais em época de férias, é também um espaço que se sente não poder, não dever, ficar por mais do que alguns dias. Deve ser neste momento que a gente começa a pensar que precisa começar a pensar em construir uma vida descolada da família de criação para construir uma outra família. Nem que seja em uma kitnet alugada, com um gato e um aquário de peixes. Crescer tem um pouco disto também... Assumir a responsabilidade de deixar as roupas velhas e gastas pelo tempo para trás e encontrar o que fazer com elas. Ter um espaço para poder chamar de teu e trancar a porta quando não quiser ver ninguém. Crescer tem um pouco de sentir mais vergonha quando perguntam se você SÓ estuda, se não está namorando, se quem te banca são os teus pais. É também ficar encabulada quando o teacher de inglês diz que "somebody is lost, but coming, in the life". E responder, "no, no, no, teacher. Talking about it get me down. Change conversation, please". E ficar realmente afetada por isto.
Crescer é também sentir o estômago embrulhar quando a vida exige que se tome uma postura que não se quer assumir, engolir as lágrimas quando está perdida e acaba a bateria do celular. É não desesperar diante do desespero da existência, controlar a ansiedade, o medo, a frustração. Ou, melhor do que controlar, aprender a conviver com eles.
Certamente não serei ingênua em dizer que só porque me dei conta disto tudo, sou capaz de pôr em prática nos próximos meses e ser uma pessoa muito melhor até o final deste ano que está somente começando, mas me arrisco em dizer que, me dar conta disto, já é meio caminho andado.
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