domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre a solidão

As histórias não precisavam ser verdadeiras, apenas possíveis. Talvez por isso ela fosse tão sozinha. Talvez suas histórias bastassem. Sam admirara a facilidade com que ela se transferira pra o acampamento, usando suas poucas coisas, como sempre fazia, para transformar uma tenda em casa. (...) Era incrivelmente adaptável, capaz de aceitar um novo encargo num piscar de olhos e frequentemente falava de sua vida errante com satisfação. Houve um tempo em que Sam invejou sua instabilidade porque ele mesmo estava preso às prestações de uma casa em Sacramento, com os filhos adultos e os netos pequenos morando na vizinhança, e a ex-mulher, com quem mantinha boas relações, ainda no bairro, e a mãe inválida morando num asilo próximo. (...) Ele deixara de invejar  Érica, porém, num Natal quando estava numa escavação no deserto de Mojave e Sam voltara a casa para passar o feriado com a família, enquanto Érica ficara para catalogar ossos. (...) Sam achou que isso era a coisa mais solitária que já ouvira.

- Bárbara Wood, in Solo Sagrado, p. 77.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Como pedras no coração

"São nuvens, uma inquietação por dentro", como diria Gabriel Garcia Lorca. Umas inquietações que vêm e voltam, que apertam as palavras dentro do peito, como se houvessem pedrinhas britas dentro do coração. Por tantos anos já havia guardado coisas, já havia chorado coisas, e falado coisas. Embora as faladas fossem infinitamentes menores que todas as demais. Eram nuvens, um nó na garganta, um aperto no peito, um medo incontrolável de contar, de mentir, de sufocar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre ser forte

- Nem todos podem ser ricos - prosseguiu Peter. - Nem todos podem ser fortes ou inteligentes. Nem todos podem ser bonitos. Mas todos podemos ser corajosos! Se dissermos a nós mesmos que somos capazes; se dissermos ao nosso coração: "Pare de pular!"; se nos comportarmos como herois... todos podemos ser corajosos! Todos podemos olhar o Perigo de frente e ficar contentes por encontrá-lo, e sacar nossas espadas e dizer: "Prepare-se, Perigo! Você não me assusta!". A coragem está à disposição de quem quiser, não se necessita de dinheiro para comprá-la. Não é preciso ir à escola para aprender a ter coragem!

- Geraldine McCaughrean, in Peter Pan Escarlate, p. 195.

Sobre as lembranças


 - As fadas viajam – observou ele. – Pegam as coisas no ar. Lembranças. Resfriados. Ideias. Acho provável que esta Guerra delas venha de alguma ideia que trouxeram do estrangeiro... como os ratos negros foram os mensageiros da Peste! – Depois, um pensamento fugaz o fez sorrir e ele murmurou, a voz em tons sedosos. – Ou talvez as fadas tenham deixado abertas à noite as janelas da Terra do Nunca. E a Guerra entrou por elas.

- Geraldine McCaughrean, in Peter Pan Escarlate, p. 183. 

Sobre a Beleza


E quando, bem acima de suas cabeças, formou-se uma nuvem palpitante e cintilante de cores, eles deixaram escapar exclamações deslumbradas com a Beleza perfeita da cena. Não que a Beleza ocupe um lugar de destaque na lista de desejos de uma criança. (...) Na maior parte do tempo , a Beleza não é mencionada nem sequer lembrada momentaneamente pelas crianças. Mas aquela visão em especial fascinou os Exploradores com um raro encantamento, e eles ficaram contemplando embevecidos o caleidoscópio de lilás, azul, malva e roxo formado pelo arco-íris. O que foi mesmo que aquele escritor disse? Às vezes, a Beleza transborda, e então os espíritos viajam.

- Geraldine McCaughrean, in Peter Pan Escarlate, p. 175.

Coisas de criança em véspera de Natal

Meu irmão de oito anos no meio da celebração de Natal:
- Tali, mas quem é o vô de Jesus?
- Ai, meu Deus, Taisson Fernando!
uahsuahsuasha xDD

Como que eu nunca pensei numa coisa dessas?! ¬¬'

Novas flores

Antes que a vida passasse lentamente, resolvera ser. Resolvera deixar os cactos para trás e plantar margaridas e orquídeas, construir um colorido e rico jardim de plantas novas, plantar enfim um novo jardim. Isto a fez sorrir mais, permitiu-na falar mais sobre a vida, por meio das plantas, e conhecer um mundinho diferente daquele a que estava habituada por conhecer cotidianamente. Assim, conhecera novos ares porque se permitira encantar-se com as texturas de outra folhas, com outros tons de verde, e enfim foi mais feliz.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Ser, de passagem

Às vezes, quando envelhecemos, e não estou falando do senhor, estou falando em geral, porque cada um de nós envelhece de modo diferente, as coisas em que pensamos e que desejamos começam a nos parecer mais reais e, então, acreditamos nelas e, antes que nos demos conta, elas começam a fazer parte da nossa história, e se alguém discorda de nós, dizendo que essas coisas não são verdade... bem, nós nos sentimos ofendidos.

- Sara Gruen, in Água para Elefantes.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Sobre perdas e ganhos

A vida não está aí apenas para ser suportada ou vivida, mas elaborada. Eventualmente programada. Conscientemente executada. Não é preciso realizar nada de espetacular. Mas que o mínimo seja o máximo que a gente conseguiu fazer consigo mesmo.

- Lya Luft, in Perdas & Ganhos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Uma, familiarmente, estranha na esquina

Encontrei-a na esquina. Sentada e com as pernas unidas e encolhidas. As mãos enrrugadas e flácidas, as pálpebras caídas sobre olhos claros e brilhantes. Ela estava vestida de forma muito simples, mas coloridamente. E sorria. Sorria para mim, como se a vida nunca lhe tivesse sido dura. Sorria, como se nunca tivesse passado por tempestades, como se não tivesse perdido amigos e uma família. Sorria-me, porque naqueles olhos, coisa da sorte ou do destino, ainda havia um brilho de vida.

Na biblioteca

Hoje eu revivi minha infância duas vezes. A primeira vez foi quando levava meu irmão de oito anos à biblioteca. Quando eu era criança, adolescente, lembro que adorava visitar a biblioteca - era minha maior verdadeira diversão. Pegar um livrinho ou um gibi na estante tão linda com tantas centenas de livros esperando que os leia, um a um. O mais difícil de tudo era saber qual deles seria o primeiro. E depois de vencido este grande desafio, eu sentava na mesinha e lia, lia, lia. Passava tardes inteiras sentadinha, lendo. E depois, o levava para casa, com orgulho, tomava um banho e sentava na cama, lendo, lendo, lendo, outra vez. Apesar de todos meus maus hábitos, este é um que julgo muito bom e que quero manter comigo e repassar aos meus filhos, assim como minha mãe cultivou em mim, desde que eu era pequenininha, e ela nem gosta muito de ler.
O segundo momento em que revivi minha infância foi saindo da biblioteca. Choveu. Choveu e eu e meu irmão, protegendo os livros embaixo das camisetas, corremos na chuva, nos escondemos embaixo de árvores quando ficou muito forte e chegamos em casa como pintinhos molhados.
DELÍCIA! :)

Hoje, eu acordei...

Toneladas de anos acostumada a fugir do espelho e hoje tive coragem de me enfrentar.
Hoje estou bonita!
Não percebo porque não encontro a felicidade diante deste espelho, que a maior parte das vezes apenas me critica.
Sentir-me bonita, hoje, não me faz feliz. Não me traz, o gosto de viver, o gosto de amar, o prazer de ser amada. Ser esbelta, de cintura fina, não me traz os sorrisos, nem me limpam as lágrimas à noite.
Tudo isto porque o meu vazio não consegue ser preenchido com comida. Há quem me olhe e pense que esta beleza é natural ou fruto de um esforço, de resistir à tentação, de uma luta com o ginásio.
Não…
Isto é medo, é uma mente obscura que toma o controle da minha vontade. Isto não sou eu! Eu era feliz quando comia sem pensar… Quando comia sem remorsos! Esta pessoa não sou eu!
Hoje, comer é um esforço, cada pedaço que eu engulo são facas que cortam o estômago.
A partir desse momento, reina o desejo absurdo de não ter colocado comida na boca.

Hoje chorei. Chorei por cada vez que comi.
E em todas elas vomitei.
Não sei porque me tornei assim. Sei que assim sou à 7 anos. Há 7 anos que o mundo mudou sem me avisar.
Talvez o mundo tenha mudado quando percebi que os meus familiares, não eram perfeitos como imaginei… eles eram apenas humanos.
Humanos com todos os defeitos … defeitos esses, que achei não ser possível possuírem.
Talvez fosse aquele curso que me obrigava a pisar um palco, a sentir o prazer de ser aplaudida. Talvez por eles eu me esforçava para me sentir bonita.
Esqueci-me que para ser bonita, tenho que ser feliz.

Para ser feliz tenho, tão só de tentar…
Tão só de procurar quem me quer.
Tão só estar com quem amo.
Tão só pedir a quem confio.
Tão só deixar que alguém me ajude.
Tão só… viver a minha dor, com quem a compreenda.

Tenho tão só, de aprender a viver com o que sou.
Melhor ainda, aprender a viver com aquela pessoa que serei, assim que tudo isto for passado.
Ser feliz pode ser… tão só… deixar que nos façam feliz.


- Por C. P.
- Achei tão lindo, que me tocou.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Para quando se descobre que crescer dói.

Chega uma época da vida em que a gente vai se sentindo meio sem lugar. É a ausência de um espaço físico e material, mas muito mais do que não ter um guarda-roupas para colocar as roupas na casa dos pais em época de férias, é também um espaço que se sente não poder, não dever, ficar por mais do que alguns dias. Deve ser neste momento que a gente começa a pensar que precisa começar a pensar em construir uma vida descolada da família de criação para construir uma outra família. Nem que seja em uma kitnet alugada, com um gato e um aquário de peixes. Crescer tem um pouco disto também... Assumir a responsabilidade de deixar as roupas velhas e gastas pelo tempo para trás e encontrar o que fazer com elas. Ter um espaço para poder chamar de teu e trancar a porta quando não quiser ver ninguém. Crescer tem um pouco de sentir mais vergonha quando perguntam se você SÓ estuda, se não está namorando, se quem te banca são os teus pais. É também ficar encabulada quando o teacher de inglês diz que "somebody is lost, but coming, in the life". E responder, "no, no, no, teacher. Talking about it get me down. Change conversation, please". E ficar realmente afetada por isto.
Crescer é também sentir o estômago embrulhar quando a vida exige que se tome uma postura que não se quer assumir, engolir as lágrimas quando está perdida e acaba a bateria do celular. É não desesperar diante do desespero da existência, controlar a ansiedade, o medo, a frustração. Ou, melhor do que controlar, aprender a conviver com eles.
Certamente não serei ingênua em dizer que só porque me dei conta disto tudo, sou capaz de pôr em prática nos próximos meses e ser uma pessoa muito melhor até o final deste ano que está somente começando, mas me arrisco em dizer que, me dar conta disto, já é meio caminho andado.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Hard days

Don't lose who you are in the blur of the stars
Seeing is deceiving, dreaming is believing
It's okay not to be okay
Sometimes it's hard to follow your heart
But tears don't mean you're losing
everybody's bruising
There's nothing wrong with who you are

- Jessie J, in Who you are.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Talking with the stars, calling good moments to the moon. Waiting for the beautiful life, looking for the new smiles, for the stars, stars, stars.... Stars on the sky!
I love you!

Em tempos de copos vazios, amizades assimétricas.

Final de ano sempre é época para comemorar, para levantar as taças de champagne e brindar todas as felicidades do ano. Não discordo que seja, mas prefiro brindar as discussões, os desentendimentos, as dificuldades, as tristezas, as lágrimas e os sentimentos de incapacidade. Porque alegrias é fácil comemorar, é só aproveitar aquilo tudo que trazem de bom, mas me arrisco a dizer que comemorar dificuldades é muito melhor. É poder comemorar que, apesar de tudo, sobrevivemos, fortalecemos laços, descobrimos alternativas enquanto tantas certezas caiam por terra. Superar uma dificuldade é como chupar o pólen de flores coloridas e docinhas, algo que fiz tanto com meus primos em minha infância na fazenda... Depois de tanta luta com os beija-flores, para que deixassem algumas flores docinhas para nós, o gosto da florzinha é muito melhor. Tão melhor do que as balas de morango no baleiro na mesa da sala, que estão lá, aguardando para serem chupadas. É o risco iminente ao desafio, ao saborzinho de conquista quando tudo diz que não. Que não é possível, que não é capaz, que deve-se desistir. Pois, eu é que digo que não. Que não desisto e que sou capaz. Capaz de sorrir depois de uma noite escura de relâmpagos e tempestades, que sou capaz de amar mesmo após uma ou duas decepções, que guardo sensibilidade neste coração ainda que a vida, às vezes, seja tão dura quanto se pensa ser forte para suportar. Então, este ano em específico, é aquele que ergo com mais alegria minhas taças de dificuldades, porque foram superadas, que grito mais forte a contagem para a virada, porque quero muito que chegue o novo ano, com as novas dificuldades e alegrias, com os novos sorrisos e, acima de tudo, com os velhos-sempre-bons amigos!
Obrigada por mais um ano, querid@s! E que nestes tempos de copos vazios, nossas amizades permaneçam assimétricas e cheinhas de novidades! Que possamos contar uns com os outros em 2013, amém! :)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Que vai passar...

Mas é isso mesmo... Pára de doer e aí de repente vem uma dor tão grande que não dá pra saber muito bem de onde vem, nem por que veio naquele momento. Embora eu saiba que é algo que vai passar, que é um mal estar que nos pega desprevinido e que passa como uma tormenta em meio ao mar ou uma chuva de verão.
Mas que vai passar...

Avante!

Olha, eu sei que o barco está furado, e eu sei que você também sabe. Mas queria te pedir para não parar de remar, não. Porque te ver remando me faz não querer parar também.

- Caio Fernando Abreu

(des)Espera

Contando as verdades pelo caminho, escondendo os jogos em pedrinhas britas à beira do asfalto. Já mentira tantas vezes, para tanta gente, que desta vez não queria. Gostaria que, ao menos, aquele relacionamento fosse sincero e profícuo. Desejara por muitas vezes tocar a alma de alguém com aquilo que era em essência, porém jamais se achara digna de sequer cruzar os olhos de outrem com um brilho de esperança.
E, sem esperança, (des)espera.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Feito cata-vento

Depois de dois anos sem nenhuma notícia, ele volta. E ele diz que ainda a ama. E ela sorri. Sorriu doce, como esperava que fosse quando ele lhe dissesse isto novamente. "Sempre vou amar você". E, para ela, isto basta.

- Para L. C. B.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A partida

É como colecionar fragmentos de textos tristes, textos que mostram o que realmente a vida é: esse ciclo (in)terminável, um ir e vir, um ser e não ser, um ser a toda hora e não poder se reconhecer sendo outra coisa que não seja você. Lembro-me que quando eu era criança acreditava que as pessoas que partiam iam para o céu, viravam estrelinhas de luz, a mesma coisa que meu irmão de 8 anos disse quando perguntei se ele sabia o que estava acontecendo. Acho que é isto: perder alguém é olhar para um céu de estrelas procurando a mais brilhante de todas e atribuindo a ela toda a luz de uma vida, de uma vida toda linda, vibrante e quente. Então hoje mais uma vez eu me pego abrindo a janela do quarto em uma noite escura, para te procurar pelo céu. Mas eu ainda não posso te ver, porque você parece muito longe, tão longe que tua luz ainda não é perceptível a meus olhos. E não importa o que digam, a gente sempre vai achar que aqueles que amamos se foram cedo demais, que tinham coisas a fazer por aqui ainda, pessoas para amar, consolar. Mas você se foi e isso dói tanto. Mesmo eu sabendo das dificuldades que você passava por aqui, da dor, do incômodo que era te perguntarem se sabia quem era, sabendo que você não sabia, e não tinha como saber porque a vida tinha lhe colocado em uma situação complicada de resolver. Mesmo imaginando o que é acordar todos os dias sem saber dizer onde está, o que sente, se precisa de água, alimento ou simplesmente conversar.
E eu, que sei de tudo isso, ainda insisto, me perguntando por que você se foi, questionando por que não esperou pela minha formatura, pelo meu casamento, para conhecer teus bisnetos e no meu aniversário perguntar, mais uma vez, quantos anos eu fazia mesmo?!
Ainda que eu aceite, e aceito, acredite que sim, eu não posso deixar de chorar por isto e de implorar para que pelo amor de Deus, pare de doer tanto assim, porque eu pareço não conseguir suportar.
Então eu espero que me consolem, que me digam que vai ficar tudo bem, que vai passar. E eu sei que vai, mas ainda assim, eu preciso deste tempo, preciso desse silêncio e destas perguntas que não retornam com respostas, para entender que é real, que você se foi, que você, daquele jeitinho que eu via, não existe mais. Mas que fica a lembrança, ficam as fotografias no álbum de família, no porta retratos. E que você fica, em minha memória e em meu coração.
E eu sei que fico escrevendo tudo isto em um blog na esperança de um ouvinte, quando as palavras faladas não dão conta de tantos sentimentos jogados na correnteza da vida.

Saudade

“A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda, mas que a gente sabe que um dia vai se estabilizar.”
 
- Martha Medeiros.

Porque o coração ainda vai doer muito por alguns dias... Porque a voz ainda vai embargar bastante todas as vezes em que eu pensar nas férias, no cheirinho do teu quarto, da tua roupa. E as lágrimas não poderão ser contidas. Vai doer toda vez que eu pensar em você de um jeito e ver que você, daquele jeito, não existe mais.
Fique com Deus, minha querida. Flyed, flyed to the sky...
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

...

E eu, que não vou saber de nada, do que você vai sentir, sozinha, em seu quarto de dormir.
- Marcelo Jeneci, in Quarto de dormir.

Processo

Hoje, retomo Lya Luft, que me ensinou uma valiosa lição com seus poemas. "Não me digam que passa, não me digam que vai passar. Nem digam que tenho família e amigos e um trabalho a fazer. Não me consolem, não digam nada. Da minha dor eu sei." Então não esperem que eu não sofra, não esperem que tudo fique bem, que eu seja controlada, sensata e me vire bem. Deixem-me sofrer agora, que preciso derramar algumas lágrimas para não afogar o coração, este coração dolorido por uma dor que invade de tempos em tempos, oscilando entre a calmaria de compreender uma perda e a raiva de precisar conviver com ela.

Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.

- Cecília Meireles

- Para A. S. B., você, que com teu brilho iluminou minha vida e meu caminho, que foi uma das grandes estrelas do meu céu. Você, que tantas lições nos ensinou, mas quem eu sempre vou achar que se foi cedo demais. Obrigada por me permitir uma despedida. Obrigada pelos olhares, pelo carinho, pela emoção, pelo cuidado. Obrigada, minha avó, obrigada por ficares em meu coração.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Como lírios na correnteza

Foi quando me disseram que "te ver crescer é angustiante. Mas é muito bonito". E foi assim.

Era uma tarde quente de primavera, uma daquelas tardes em que tudo que era possível de dar errado, já havia dado. Uma tarde em que muito já havia sido dito, e que tantas outras coisas já haviam sido caladas. Sentei a seu lado, no sofá. Eu puxava assuntos, conversas corriqueiras, do dia a dia, perguntas simples que apenas exigiam atenção. "Quente hoje, não é, vó?". E ela respondia a todas as minhas perguntas, da mesma forma calma com que me respondera a todas elas nos 20 anos anteriores. Embora não fossem as respostas que eu esperava, coerentes, sensatas, como outrora me foram seus conselhos. Então eu parei, porque não havia um porquê naquilo tudo. E ela me olhou, olhou em meus olhos de forma firme, como suas mãos não se apresentavam há tempos, um olhar intenso e muito forte. Naquele momento tive clareza de que o tom de verde de meus olhos é igualzinho aos seus. E aquela mulher que estava à minha frente, colocou seu dedo em minha bochecha, com uma leve pressão e desceu até meu queixo, por poucos segundos que me pareceram muitos minutos. E desviou o olhar. Eu tinha certeza: aquela senhorinha de 83 anos, dona de cabelos brancos, pele muito clara e olhos cristalinos, poderia não saber meu nome, nem quem eu era, mas ela me amava. Amava como sempre amou e como eu também, sabia, sempre a amei. Mas agora, ela está partindo... Flying, flying, flying, to the sky. Essa, foi a nossa despedida, a última fotografia que, com lágrimas nos olhos, coloco no álbum de família de nossa existência introvertida.

O que tenho a dizer sobre o fim...

Eu deixei as coisas passarem e por trás de teu rosto deixei um feixe de luz. Eu deixei a porta aberta, para que entrasses em minha vida, em minha alma, e me tocasse como brisa em dia quente em volta do mar. Eu abri tua mão e fechei teus dedos, envoltos em uma lâmina gelada para que dela se utilizastes a teu favor. Eu chorei e gritei e implorei para que fizestes o que eu pedia, mas ainda assim somente fechastes teus olhos e me implorastes para, por favor, ficar calada e parar de dizer tantas besteiras. E então eu disse que ainda me importava contigo, que por algum motivo, que a gente só chega a saber lá no fim quando acaba tudo, eu ainda me importava. E você me agradeceu. E eu te disse que nossa conversa já havia terminado.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O que escorre feito sangue


Para quem a vida é como estas lágrimas, que correm quentes por uma face clara e sem graça, que saem de olhos que se contrastam com o fogo de um coração partido que deixou de tentar. Como se jamais tivesse desejado um fio de vida escorrendo pela ponta dos dedos da mão.

Alguém assim...

Foi como acordar no meio da madrugada e ver uma chuva de estrelas cadentes pela janela. Foi como sentir o arrepio na pele depois de um banho gelado de água salgada. De mar, que invade. E aMAR. Passar por mais um ano, mais uma crise de choro, mais umas noites sem dormir, mais umas confidências por telefone. Saber que se tem com quem contar é quase como comer mel direto do favo, escorrendo pelos dedos das mãos. É quase como a emoção em atravessar uma ponte velha de madeira. Ter alguém com quem contar é quase como acordar sorrindo e apostar todas as suas fichas na leveza de ser criança quando o dever nos chama a sermos adultos, sérios e chatos. Quase como contar piadas para si mesma e rir até o estômago doer, como sair para almoçar sozinha de shorts e havaianas e sorrir. Contar com alguém é ser simples em cada gesto, cordial em cada toque, sensível em cada palavra. Contar com alguém é poder ser feliz. E, assim, esperar que o restante só sejam projeções de dentro si para um mundo que todo dia prova conter o melhor do mundo. Mas poder contar com alguém assim, é muito melhor.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Noite passada.

Te vi indo embora. Tua silhueta larga e magra me abandonando na melhor hora. Pois disse que nada de mim sairia a não ser umas noites bem malhadas na fina corrente do grito. Que levaria tuas palavras e facas amaldiçoadas pela noite adentro e deixaria do lado de fora. Do lado de fora, sim, da casa, da porta, do carro, da hora. Fora do tempo que queima a memória que leva uma mulher a chegar perto de um homem e queimar, queimar até fim. Tocar nesse teu corpo quente, ardente como flores de fênix esperando a brasa cessar. Virar poeira e ao mesmo tempo gelo, gelo seco que sem delongas avança no ar. Virar água morna e salgada. Lágrima que escorre da parede de templos em dias de sol. Escorrendo vivas e inteiras, grandes, traiçoeiras, escorrendo pelos dedos da mão. Essa tua mão que me toca e esbofeteia. Mas caio. Firme como a noite, flácido como o dia. Caio e escorro pelo ralo que fede pútrido na beira do asfalto. Na rua do beco. Escorro. Escorro como escorrem tuas palavras e tua vida, como escorrem teu sangue e teu lamento. Escorro como baba de cão sarnento. Escorro e corro pelas pontas dos teus dedos.
(...) Já vistes o último brilho nos olhos de alguém? Eu já. Na noite passada.

- T. B., In Escorrendo pelos dedos.

Para esses dias... Sem você...

"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem que a poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura".
 
- Por Caio Fernando Abreu.
 
- Para L. C. B. - Porque te encontrei em uma fotografia e teu sorriso ainda era como aquele que eu tinha em minha memória e porque teu beijo ainda era doce e sutil, não sufocava. E então no meio disso tudo eu vi que ainda havia um pouco de mim, um pouco de ti. E lembrei que um dia me dissestes que queimaríamos o mundo, e que agora ele queima, sozinho, dentro de mim.

Cores, e dias, e letras, e sons

Em alguns dias dói. A tristeza puxa os cabelos, arranha a cara, machuca dentro. E a gente não tem mais nada pra fazer a não ser dizer que tá tudo bem. Porque vai passar, passa. Só que antes de passar maltrata. E, entenda, a pior dor é aquela que ninguém vê. Só ela, a tristeza.
Clarissa Corrêa.

Como deixar flores pelo caminho

"Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar, sem exigências.
E sem solicitações, aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana.
Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê..."

 - Ligya Fagundes Telles, in Seminário dos Ratos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Who are you?!

And who do you think you are? Running around leaving scars, collecting a jar of hearts?!
- Christina Perri, in Jar of hearts

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sobre o luto

"Não me digam que isso passa,
não me digam que a vida continua,
que o tempo ajuda,
que afinal tenho filhos e amigos
e um trabalho a fazer. [...]
Não me consolem:
da minha dor, sei eu".

- Lya Luft, in O lado fatal. 3a ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. 97p.

domingo, 18 de novembro de 2012

Velhice: um caleidoscópio flutuante à beira do abismo

"Assim, se a velhice é apresentada por muitos estudos como um fenômeno passível de ser estudado e compreendido de formas distintas, pode ser metaforizada como um caleidoscópio, aparelho óptico construído a partir de fragmentos de vidros que tomam formas distintas conforme o movimento a que é submetido. A própria velhice representa essa fragilidade da composição do caleidoscópio, composto por fragmentos de vidro, sendo ela um fenômeno ao qual poucos admitem chegar. A pesquisa de Torres (2010) representa isto de forma consistente: para seus entrevistados idosos, a velhice está pelo menos há dez anos do sujeito que fala sobre ela. “As pessoas não querem envelhecer, nem querem ser idosas, por isso não se reconhecem como membros deste grupo” (TORRES, 2010, p. 216). E se a vida fosse um grande mar a que cada sujeito se lança, num constante processo de envelheSER, estar em uma instituição pode ser comparado a flutuar sobre o caleidoscópio da velhice muito próximo a um abismo, a própria morte iminente ao cotidiano institucional".

- In BALDIN & MAGNABOSCO-MARTINS, 2012, p. 30.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Indecisão

Como o termo já diz... Cisão. Decidir é uma cisão. É colocar as situações conforme duas partes e precisar optar por uma delas. Isto causa a indeCISÃO. Mas já decidi. E então CHEGA de ameaças. É permitido chorar, ficar triste, se zangar. Mas foi você quem escolheu ficar. Assuma os compromissos que escolheu. Pare de reclamar. Resolva as coisas de forma adulta. Chega de mentiras para si, chega de justificativas. Tudo já está ruim o suficiente. Não piore. E não diga que quanto mais avança, mais o navio afunda. É você quem carrega diariamente as novas pedras.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um pouco como tu...

Nessa altura sou como tu. Debaixo da terra. Olhos seixos que não vêem nada. Não vêem nada.

domingo, 11 de novembro de 2012

Proje(ta)ção

Se você quer conhecer o deus de um povo, olhe para seu demônio (Gregory Motton).

Fale, doutor.

Eu também perdi a minha. Há muito tempo. É por isso que estou aqui. Desisti de tudo para estar onde você me vê agora. À medida em que envelhecemos tornamos impossível para nós mesmos ver ou ouvir qualquer coisa nova. Todos os dias são arquivados como coisas familiares pra você. Você sente, você sabe, você conhece seu caminho na vida, até o ponto em que finalmente percebe que está há muito tempo entregue à decadência, trabalhou arduamente, ajustou a si mesmo para se convencer de seu próprio jogo. Desesperadamente se convenceu a manter o navio no rumo, este rumo atravessa a vida sem tocá-la e a vida a ela mesma. Você a deixou para trás espalhada pela paisagem do seu passado não vivido e quanto mais você avança mais o seu navio afunda. Feche os seus olhos, fique numa perna só. Sólido como uma rocha.
 
- Gregory Motton, in A terrível voz de Satã.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Partículas do Grande Sertão

Coração de gente — o escuro, escuros.
Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.
No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço! 
Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de
estar próximo.
Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.
O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.
Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.
(...)
Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.
O que lembro, tenho. 
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.  
Quem mói no asp'ro não fantaseia. 
Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o
sentir da gente. 
Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.
Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?
Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores.
Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.
Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.
Toda saudade é uma espécie de velhice.
Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.
Tudo é e não é.
Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.
Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias.
O sertão é do tamanho do mundo.
Sertão é dentro da gente.
O sertão é sem lugar. 
O sertão é uma espera enorme.
Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.
A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.
A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver.
Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso.
Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.
Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
Feito flecha, feito fogo, feito faca.
Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.
Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília. // Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor.

- Guimarães Rosa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Gritos em silêncio

A ambivalência de uma tentativa de suicídio só pode ser vista pelo grito de socorro que sucede (e certamente antecede) o ato. Vozes roucas que não se calaram e que, portanto, podem se fazer ouvir, porque "viver é muito perigoso; e não é não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir é o do sentente e o outro é o do sentidor" (Rosa, 1994, p. 439).

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pedacinho de você

Um olhar calado, como de quem observa.
Ou talvez, mesmo, não queria entender nada porque não lhe interessava.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Noite gelada

Pedem respostas, mas cobram silêncio. Como em um grito, um grito que fica preso na garganta e arde feito fel. Cobram sorrisos, mas semeiam lágrimas escondidas na fronha do lençol. Soluços e bravejos em noite de terça-feira. Sussuros e grotejos em manhã geladas de outono. Uma meia no pé. O outro, descoberto, sente a relva que entra doce pela fresta da janela. Em meio a tanto ódio e remorso, um rugido, feito fera desperta. Xinga, braveja. Fora, certa vez, suficientemente forte para viver e acordar sozinha.

domingo, 21 de outubro de 2012

Páginas de silêncio

Mas então essas coisas, essas pessoas, viram uma linguagem muda. E eu a história que nela se calou.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Banal...



E se eu fecho os olhos por medo de ver a luz, o que posso ver?! O que possuía e não conseguia ver ou aquilo que por medo, desisti de ter? Se fecho os olhos e cerro os lábios, se durmo com os ombros tensos por medo de dormir e não acordar, acabo por não dormir?! O quanto se paga por aquilo que se desiste?! Quanto se perde com o que se negou a ter? Desejo bandido que destoa, noite a dentro, do som das corujas e do miado dos gatos. Desejo encantado que desiste do brilho das estrelas para possuir a negritude da rua.


Nada


“Nada”. Não queria nada. Alías, queria sim. Queria que fosse embora. Buscava ser entendida, vivida e não apenas lembrada por sua descompostura e inconstância. Ela ainda era uma menina e disto não havia dúvidas, de que esperava que a vida e o tempo se articulassem ao seu ritmo e não o oposto, pois era cômoda demais e sempre esperava que as lembranças não a atormentassem ou que ao menos não incomodassem por tempo suficiente a se aventurar em um novo romance, mais seco e da mesma forma menos romântico. Buscava um romance que lhe fosse ardido, colérico e menos vulgar, o que de certa forma o tornava menos intenso e menos passional. No final de suas linhas, sempre um adeus, um até mais sem fim ou um beijo seco e forte, ao sabor de chocolate meio amargo. Em contrapartida, desejava um olá sincero e compromissado, um cumprimento que lhe soasse simples e confortante – talvez por conta disto mergulhasse por muitas vezes na insatisfação de relacionamentos promíscuos e superficiais. “Pare. Seque essas lágrimas falsas e vá embora”, era tudo o que desejava: que se fosse, que abandonasse seus sonhos, seus projetos futuros, e que fosse embora com a chuva que batia com intensidade na janela ou como as lágrimas que escorriam quentes de sua face ruborizada por um misto de raiva e displicência. E num piscar de olhos, a silhueta dele não era mais que um vulto na escuridão, nada além de uma mancha negra que se desfazia, murcha, no infinito de seus olhos úmidos e descompassados.

domingo, 23 de setembro de 2012

Vida de atriz

Arrepio na pele, um sopro de vento pela frestinha da janela. Despira-se em frente ao espelho, olhos fixados na circunferência do abdômen que para ela estava grande demais. Ligou o chuveiro, deixou um pouco de água correr pelo ralo. Fim de tarde gelado de primavera. O dia tinha cara de inverno.
Pé por pé no piso molhado, com cuidado, fechou a porta do box do banheiro. Queria um banho demorado. Almejava ficar alguns minutos a mais sob a água quentinha que deslizava pelas curvas de seu corpo deixando levemente vermelha a pela muito branca. A tatuagem negra no braço era quase incongruente com sua aparência frágil de mulher ainda não totalmente crescida. Rude, diante das maçãs do rosto vermelhas, delicadas e salientes. Ensaboou e enxaguou o corpo. Junto com a água quente espumada que descia ralo abaixo, algumas lágrimas. Sentou-se no piso gelado e chorou. Chorou com a água que a aquecia e que partia. Chorou pelas milhares de células mortas que deixavam seu corpo perfumado. Chorou com os cabelos encharcados caindo-lhe sobre os olhos. Chorou um pouco. Mas não muito. Um último suspiro debaixo do chuveiro, esfregou os olhos vermelhos, a toalha branca e felpuda secando cada gota de água, cada lágrima perdida. Poucos minutos depois, em cima de saltos altos, negros e brilhantes, desfilava ela pela calçada. A desconhecida que chorara no banho. Ia, olhar firme, para o teatro, desempenhar mais uma noite de Medéia e seus amores.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Metáfora da estrela


Estrelinhas que seguem caminhos escuros no céu, passam dia e noite clareando. Elas têm luz própria, uma luz que brilha sempre, sempre, mas que não são sempre vistas. E que mesmo que em boa parte do dia elas não sejam reconhecidas, se não estivessem ali, se todas "viajassem" sem volta, fariam falta, porque o dia seria mais escuro e a noite quase imperceptível. E então é assim que cada estrelinha cumpre seu papel e que mesmo que uma delas em específico não queira desempenhá-lo, as outras precisam de sua ajuda para que a via lactea possa ser completamente observada. Pode-se fazer um caminho diferente, de vez em quando, é permitido cansar e desligar por uma noite, mas as estrelas sabem que jamais conseguirão fugir de serem estrelas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mas eu queria dizer...

Eu queria dizer, meu bem, que as noites não chegam antes que o dia se acabe, ou que a lua brilhe tanto quanto for necessário para se fazer ver. Eu queria dizer, meu bem, que as estrelas hoje brilham mais forte, porque os sonhos viajaram sem volta para o céu. Que se ontem foi dia de chuva, hoje as folhas sorriem sob raios de sol. Queria dizer, que sonho não se esquece, não se deixa, mas que às vezes troca de cor. Que vozes doces saem de copos de vidro vazios e da boca de artistas de rua. Queria, queria dizer, sim, que toda dor importa e merece ser ouvida, mas que também merece ser perdoada, retomada, desdobrada. Hoje eu queria dizer, que se ser eu é ser assim, assim aceitarei viver para sempre, um sempre sem fim.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Um ou dois dias de calmaria


Descolorindo o dia. Pintando e repintando as estrelas do muro. Formando bolhas de sabão com as quedas do chafariz. Um nariz de palhaço e dois ou três sorrisos soltos na praça. Uma vida. Dois dias e meio de gargalhadas. Tristeza em alguns momentos. Triste esteve em dois ou três momentos. Agora é canção e poesia. Agora é beijos e abraços apertados. Segredos revelados. Sonhos recontados.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sob névoas e tempestades

Então corte, recorte. Corte o tempo em fatias infinitamente menores, tire os ponteiros do relógio e acabe. Acabe com tudo. Destrua as folhas das árvores em seu outono frustrado. Grite, braveje e entenderei. Todos entenderão que o tempo precisa de tempo também e que nem sempre o que se quer mostrar é de fato o que se vê, que as coisas podem encobrir-se em palavras bonitas ou que lágrimas secam sob a potência de um falso sorriso. Mas se ela disse que estava bem era porque queria dizer. E por mais que as palavras lhe pesassem, não faltavam motivos para falar. Para doer com lágrimas de chocolate e suspiros de morango. Tudo, tudo, desmoronando, caindo. E a vida triunfando sob névoas e tempestades.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma taça de vinho seco

Bebendo do mesmo vinho todas as noites, engolindo os mesmos goles gelados e secos como se fossem água mineral sem gás. Mais uma noite em que palavras me embriagam, em que desejos me deixam tonta e derrubam, de rosto, sobre o piso frio. E ali, deitada, permaneço observando ao fim do mundo, aos sonhos desejantes explodindo como estrelas cadentes em decomposição no ar. Como se não houvesse acordado, como se nunca houvesse dormindo, como se jamais tivesse desejado um fio de vida escorrendo pela ponta dos dedos da mão.

domingo, 19 de agosto de 2012

O dia de ontem

Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exatas. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.

- Caio Fernando Abreu, in O dia de ontem.

Desenhos de dor

Em dias assim, em que palavras são mais do que palavras, em que se quer esquecer o que não quer ser lembrado. Prepotência em ser invencível e incansável quando o corpo pede trégua da longa jornada. Há uma voz sedenta que de dentro de mim suspira sussurros de dor, de imaginação. Há uma culpa que culpa a culpa de outro, mas que cobra a voracidade da verdade. A verdade relativa de um eu inconsciente e incontido, de um nós expandido e fora de controle. Não desejara ser som, queria ser pó, poeira cósmica translúcida pelo Universo.

sábado, 4 de agosto de 2012

Dias de sol

Ainda que me cortassem meus cabelos e destruíssem minha face com pontas de facas, ainda que o Amor me cobrasse pelo mau uso e serena eu dormisse com as mãos encostadas na terra úmida da noite, ainda assim saberia esquecer. Ainda assim poderia e gostaria de dizer que o destino se apressa em chegar, mas que não seria capaz de desbotar o azul do céu. Muitas outras vozes partiam como águas turvas por um rio desaguando no infinito, um rio escuro e fétido, com peixes mortos e apodrecidos na margem de correnteza leve. Desaguava como restos de solidão procurando vaga no porto, como touro valente cego pela areia.

domingo, 29 de julho de 2012

Desespero e te espero.

Aquilo tudo era um enigma para mim. Eu já tornara a perder as esperanças de vir a ser qualquer coisa se não uma péssima mãe, entediada e impaciente, me enchendo de Valium. Deitava na nossa cama com um livro e chorava. Eu precisava de Robert e, quando jantávamos juntos, eu lhe contava todos os meus temores e ele me abraçava, me beijava e insistia em que não havia qualquer motivo de preocupação, mas, depois do jantar, ele tinha uma reunião. Eu parecia estar sempre carente dele, e ele parecia não ligar muito para isso.

- Elizabeth Kostova, in Os Ladrões de Cisne

sábado, 28 de julho de 2012

Um dia, no Rio...

Sair de casa e viajar. Viajar, viajar muito. “Eu quero conhecer o Cristo”. Porque queria mesmo ver o Cristo Redentor, o Rio de Janeiro... Ah, o Rio de Janeiro. Terra de areia, gotas de mar nos cabelos, o sol na face trazia a brisa do mar. “Não, não andei tudo isto para não entrar”. Oxalá os pés aguentassem correr mais, mas bolhas grudam nos sapatos. O mendigo espancado no Porto do Rio talvez merecesse meus sapatos: eles não me machucariam mais e eu teria feito uma boa ação. Mas que ação seria maior do que se tivesse lhe ajudado? Pedi para não baterem, mas ouvi um não e diante do não, eu recuei. Recuei como cachorro vira lata que come carne podre do chão. Eram mil, eram um milhão. Como em um sonho, milhões de crianças de rua choravam e me pediam comida. Mas eu não tinha. A história era triste, mas não inventada. Talvez fosse retalhada, desavisada, inconformada; mas nunca inventada. E eu queria dar a cada um deles um pedaço de meu sanduíche natural integral. Não! Um copo de coca-cola com vodka, porque na noite fria e úmida, prostituição poderia levar à euforia e nunca diriam que não. Amor de mãe? Tesão de pai? Nunca sonharam com um carinho despretensioso, aquelas crianças. Des-pretender o quê?! Se o fim lhes viesse, era o fim também para mim que os observava sem querer observar. Olhos fechados, a baba escorrendo no queixo e pelo travesseiro. Morte ou Amor? Fodam-se as linhas tortas, dane-se o choro engolido. Se te amei foi por um copo de vodka e um pouco de vinho branco suave, por favor. Como pular de um muro no alto do Cristo Redentor e gritar, até acabar, até me acabar. No limite do horizonte, ali eu também, caindo livre.

domingo, 22 de julho de 2012

Notícias de lá...

Eu precisava de um tempo, daqueles em que as cores se misturam e tornam-se branco. Um tempo daqueles em que os pássaros näo cantam e as árvores silenciam o balançar dos galhos. Um tempo em que eu era eu e você era você e nada mais.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As coisas passam

Pensando no tempo é que se vê como as coisas passam, afinal.

Expressões como "dê tempo ao tempo", "´vá com calma", "recomece" são ouvidas desde que somos criancinhas, quando olhamos nossos pais com olhos pidonchos e o nariz escorrendo, a testa suada de tanto insistir para colocar o cadarço no buraquinho certo do tênis. Naquela época já sabíamos o que era desistir. E é só olhar para hoje, ver como ...dá para amarrar o tênis com uma mão só e até colocar a lente de contato sem ver no espelho, porque fazemos isto todos os dias e a rotina já é nossa vida. Acho que é mesmo, e as coisas passam. Nada que um ano ou dois de paninhos quentes em feridas profundas não permitam cicatrizar. E assim, mais uma vez, o tempo passa.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

5 de julho de 2012 - mais um ciclo nesta Terra! :)

Ô, seu São Pedro, errou a data! Foi ontem! uashuahsuash xDD
E eu tive um liiiindo 5 de julho e COM SOL!
Obrigada pelas festinhas, balões coloridos, abraços contagiantes, lágrimas de emoção, mensagens, e-mails, flores e tudo o mais... Pessoas amadas do meu coração, vocês são as mais especiais do mundo!
:D

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dias (in)comuns

Hoje eu procurei as palavras... Mas nenhuma delas é capaz de expressar exatamente o que eu sinto.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

De rosto fechado

outros olhos
outro cabelo
outros pés e dedos.

(...)

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.

(BUKOWSKI, Charles. Outra Cama. In: O amor é um cão dos diabos)

Sonhos...

E se for só uma estrelinha perdida, onde há de encontrar seu caminho?

terça-feira, 26 de junho de 2012

Não era hipocrisia!

Não que fosse hipocrisia. Era mais um não se reconhecer. Era algo como escrever sem ler, desejar sem ver, saborear sem comer. Não era desistir de si, mas buscar em um outro algo que falasse a respeito de seu eu. Porque ela própria não se via, não queria se ver. Se desejasse ser a si mesma, falaria por si e não haveria problema, mas escrevera em terceira. Escondera-se dos sonhos, perdera-se na vida e desistira. Aceitara, sem desejo, um papel que desconhecia em uma peça que não vira com um texto que não lera. Mas subira em palco e vivera.

Sonho de teatro X teatro de sonho ?!

"Como se fosses tu, assim entra no teatro e te chamam dentro do sonho e te chamam para fazer o papel do sonho de alguém que não veio, e dizes que nunca viste a peça e nunca leste o texto e nada sabes de marcações intenções interiorizações e te dizem que não importa porque é só um sonho e um sonho não precisa de ensaio". - Caio Fernando Abreu, in "Eu, tu, ele", Morangos Mofados.

domingo, 24 de junho de 2012

Que se danem os nós

"Vim gastando meus sapatos Me livrando de alguns pesos Perdoando meus enganos Desfazendo minhas malas Talvez assim chegar mais perto Vim, achei que eu me acompanhava E ficava confiante Outra hora era o nada A vida presa num barbante Eu quem dava o nó Eu lembrava de nós dois mas já cansava de esperar E tão só eu me sentia e seguia a procurar Esse algo alguma coisa alguém que fosse me acompanhar Se há alguém no ar Responda se eu chamar Alguém gritou meu nome Ou eu quis escutar Vem eu sei que tá tão perto E por que não me responde Se também tuas esperas te levaram pra bem longe É longe esse lugar Vem nunca é tarde ou distante Pra eu te contar os meus segredos A vida solta num instante Tenho coragem tenho medo sim Que se danem os nós" - Ana Carolina, in Que se danem os nós.

domingo, 17 de junho de 2012

Um novo sol

Era como abrir a janela e ver o sol após vários dias de chuva. O sol continuava lá, a sua ideia de sol permanecia a mesma e ela conhecia um sol na forma como infinitamente ele se apresentou na infância liberta, correndo em meio a árvores e galinhas no quintal na fazenda. Era um sol, um sol laranja-fogo, amarelo-vibrante. Era um sol e somente isso. Não precisava aparecer todos os dias porque sua presença era uma ausência-presente. Mas ainda assim o desejara. Desejara ver o sol em uma manhã de domingo emburrada. Ou em uma tarde de segunda-feira sem aula. Era uma luz estranha, uma nova vibração, como se após vários dias o sol não fosse mais o mesmo, como se fosse outro e outro, assim, todos os dias ela esperaria.

Precipícios

Em dias estranhos atravessa nuvens. Coleta estrelas desavisadas, cria novos caminhos. Desejando ser maior e ao mesmo tempo mais infantil. Olhos brilhantes, sorriso aberto. Era uma menina linda. Não sentia medo, nem culpa, nem desejara outra coisa que não fosse aquilo que já havia docemente dentro de si. Nem mais um passo deu pelo caminho, nem mais um pedaço de fins que já foram. Contou quantas nuvens, pegou tantas outras estrelas e continuou buscando fins de início em precipícios.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Caminhos perdidos

Você está em seu próprio mundo, sem luz, sem ar, sem futuro. Perdida em suas próprias palavras, pisando em espinhos.

domingo, 10 de junho de 2012

Pequenas memórias

"Há muitas coisas em minha vida pedindo explicações. De muitas, lembro-me bem. Mas, são as escondidas que nos atormentam. As que ficam perdidas não sei em que imobilidade, agarradas às paredes como hera, guardadas em fundo de gaveta de cômodas velhas, refletidas em caixilhos, esquecidas em álbuns fotográficos, escondidas dentro de nós". - Andrade, citado por VENANCIO. In Pequenos espetáculos da memória.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mulher maior.

Assim fui uma mulher maior. Maior do que a vida. Cicatrizes e experiências. Quebrando e reconstruindo. Rasgando e recosturando. Digerindo e reciclando. Acrescentei balas à minha audácia. Espadas à minha paixão. Uma receita para cada limite da vida. Ultrapasso. E uma camada a mais atravessada. No final, sou uma mulher maior. A gente passa por muita coisa para chegar lá. -Santiago Nazarian, in A morte sem nome.

domingo, 3 de junho de 2012

Mistério profundo

Você está Fechada em seu próprio mundo Sem luz, sem ar, sem futuro Se eu deixar Vai mais fundo Vai fundo Eu não vou te alcançar - Nenhum de Nós, in Mistério Profundo

Sozinha.

Um minuto de silêncio. Mais um dia de solidão. Deixem-me sozinha, deixe-me aqui. Quero não precisar falar, não precisar cantar. Deixem-me sozinha, para pensar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Disse, diga, que não.

Como nunca olharam? Como nunca perguntaram o que foi? Como nunca disseram que acabaria? Como voltariam? Como me diziam para comer e fechar a boca? Como me induziam a sorrir? Como engolir o choro? Como respirar com a mão em minha garganta? Sufocando-me, preenchendo-me, sufocando-me com afetos indiscretos, como palavras não-desejadas... Sugando-me a alma e o coração, mentindo com mentiras descaradas. E eu calando. Consentindo, dizendo que tudo ficaria bem, dizendo a mim mesma que eu não era aquilo, que não queria que fizessem nada comigo, que não era justo, que não deveria continuar assim, que eu precisava de ajuda, que não, não, não, não.

Silêncio, que dizias?

Hoje eu sei, me amavam. Mas nunca me disseram. Com o olhar transbordado em problemas não me viam, pois eu era pequena e translúcida demais. Nunca disseram que estariam comigo, por ali, caso eu precisasse. Nunca me contaram como meus cabelos eram macios, o quanto meus olhos eram verdes e bonitos. Eu pensava que não me viam. Depois, eu própria me negligenciava. Eu me deixava escorrer pelas mãos de todos que me tocavam, me apertavam, esmagavam e deixavam-me sozinha pelo chão. Fui um cordão escorregadio e encardido. Fui um pedaço de papel que voou, voou longe, longe, querendo ser pássaro, mas sendo folha seca em primavera.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Linhas

Escrevi em linhas azuis. Em linhas azuis por medo de que fosse pretas. Se fossem pretas me escureceriam a visão e a íris e as pálpebras. Sendo pretas não me restaria espaço para nenhuma cor. Sobre o branco eu escrevo como quero, eu rabisco e invento e disvento. Colorido me permite tudo, colorindo eu não perco nada. E respiro, respiro entre minhas letras trêmulas, mal desenhadas. Um rabisco simples eu transformo em aquarela... Colhendo folhas secas na primavera e pingos gelados no verão. Um sol que antes fora negado, agora me ofertam, mas sem coração. De um programa sem graça na televisão retiro meu novo personagem, construo uma história fantasiosa e irreal... Com meu personagem vivo mundos de imaginações, ouço contos de fadas como se fossem canções. Não me perco, invento caminhos que seduzem, reduzem a dor e o medo, ampliam as visões para outros desejos. Com o mundo nas mãos caem gotas de oceano entre os dedos e nada mais permanece como outrora fora. Um grito no ar, uma lágrima azul, azul anil como dia claro sem sol. Dia (in)ventado.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Tristeza


Hoje eu pus minha tristeza no varal.
Pus para escorrer um pouco.
Escorrer até secar.
- Caio Fernando Abreu

(a)Calma.

“Espero que ninguém que esteja lendo esta história alguma vez na vida tenha sido tão infeliz quanto Susana e Lúcia naquela noite. Mas se você sabe o que é isso, se já passou a noite toda acordado e chorou até acabarem as lágrimas…então sabe que, no fim, desce sobre a gente uma grande calma. Chegamos até a ter a sensação de que nada mais nos poderá acontecer.”
- C.S. Lewis, in As Crônicas de Nárnia

domingo, 18 de março de 2012

Memórias



A memória é a canção que cantamos para nós mesmos. É uma vereda de hieróglifos e perfumes com os quais nos aproximamos de nós mesmos.

- Eugenio Barba, in A canoa de papel

Tão confusa...

Hoje estou tão confusa. Não sei bem o que pensar, nem muito bem como agir.
Só sei das dúvidas que invadem meus pensamentos.
Só sei do aperto que sinto no meu peito.
Passei o dia andando por aí, com uma amiga ao lado.
Vendo outras pessoas, falando de outros assuntos, rindo das coisas da vida.
Discutindo as questões do mundo.
Tentando abafar os sentimentos, tentando esquecer destas dúvidas.
Mas no fim, quando volto pra casa, tudo volta.
E aqui estou eu, como comecei o dia de hoje.
Tão confusa. Não sei bem o que pensar, nem muito bem como agir.
Mas sei que é uma fase. Sei que vai passar.

sábado, 17 de março de 2012

Como tentar

Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer

Leoni - Quem, além de você

Solidão

É como se eu mentisse todas as vezes que digo que estou bem. Como se os jogos nunca tivessem parado e que na realidade, ainda sou a mesma menina frágil de antes, mantendo meus jogos escondidos, chorando não sei por quê. Ou a mesma menina que abraçava-se a si mesma, porque não tinha amigas. Ainda sou a mesma, ainda a tenho em minhas mãos. Ando triste e não sei porque carrego essas nuvens comigo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Aniversário

‎"São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora."

- Carlos Drummond de Andrade

sábado, 14 de janeiro de 2012

Uma luz no horizonte


Algumas pessoas possuem uma luz que brilha para os outros. E mesmo que elas permaneçam por muitos anos dentro de um túnel escuro, continuam a brilhar!

- Precious, in Precious, uma história verdadeira