sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sobre tus cosas...


El amor es la guerra perdida entre el sexo y la risa
Es la llave con que abres el grifo del agua en los ojos
Es el tiempo más lento del mundo cuando va de prisa
El amor se abre paso despacio no importa el cerrojo

El amor es la arrogancia de aferrarse a lo imposible
Es buscar en otra parte lo que no encuentras en ti

El amor es un ingrato
Que te eleva por un rato
Y te desploma porque sí
El amor es dos en uno
Que al final no son ninguno
Y se acostumbran a mentir
El amor es la belleza
Que se nutre de tristeza
Y al final siempre se va

- Ricardo Aronjas, in El Amor.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Exercício da dúvida

E então, duvide sempre, de promessas de vida harmônica que te tiram a paz.
Elas não são harmônicas.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Contingências

E ainda que você espere por outras coisas, que imagine que a vida possa te oferecer outros caminhos que não a sua própria existência, simples e um pouco vazia, ainda assim, é aqui que você está. E é isto que você é. E tudo isso não pode parar por aí.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Sutil

Depois de todo o caos do dia de hoje, enfim posso dizer que algo mudou.
Esse mesmo algo me fez perder o sono, mas o mais importante é essa sutil diferença que gerou uma calma há tempos esperada e bem vinda.
Sutil, como foram também suas palavras. Entrando devagarinho e de forma doce, não para serem entendidas, mas sentidas. E eu as senti.
Não foi como nas outras vezes. Nem de longe me deram a sensação de peso que em geral os elogios e os afetos provocam. Sequer precisaram ser caladas e acusadas de mentiras. Não foram.
Depois de tanto tempo,  as senti reais.
E então, parece que tudo mudou.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Sobre linhas que precisam se romper

Pode soar como uma confissão, e talvez seja isso mesmo. Uma confissão misturada com um pedido de desculpas - e de compreensão. Por mim e para mim.
Porque as coisas não têm sido fáceis, e por não virem sendo fáceis, às vezes, a dor é imensa. Mas, pior que a dor é essa sensação de completa insatisfação, insuficiência, de que qualquer "castigo" deve ser pago como um castigo mesmo, porque houveram erros demais, falhas demais, irresponsabilidades demais. Não injustiças demais, nunca autocrítica demais, nunca um desmerecimento injusto, mas uma culpa imperdoável.
Assim como é o desespero que eu enfrento toda vez que penso que eu não vou conseguir enfrentar isso de frente outra vez, sem que muito se perca pelo caminho. Que eu não vou ser capaz de enfrentar tudo isso que parece tão grande, forte e incontrolável agora, porque está muito perto dos meus olhos. Que eu vou escorregar de vez, que tudo vai se repetir e que por mais que eu possa ser boa em tantas coisas, nunca vou ser sequer razoável nisso. Que vou continuar com pequenos escorregões até cair em um buraco tão fundo, que vai me faltar o ar. Que a borda não poderá mais ser vista, que a luz não vai ser sequer um ponto no topo desse buraco e que eu vou me perder lá no fundo, escuro e em silêncio. Porque não tem acontecido só uma vez, ou duas, ou três. Mas muitas, com uma frequência assustadora e preocupante, até mesmo para mim, que pareço meio "irresponsável", pois sei o que devo fazer, mas que as ações são tão mais fortes do que qualquer coisa e em qualquer momento que eu tente dizer que não, não, não! Por mais que eu tente, já aconteceu.

Não sei até onde vai. Não sei até onde é possível ir sendo assim. Mas, são aquelas linhas de ruptura... Que dizem que "assim, desse jeito, não dá para continuar"!

E tudo isso, para dizer, "ei, não me deixa fazer isso". Mas, de verdade? Ninguém pode impedir.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Vazios completos

Fome.
Mais uma noite.
Esse vazio aqui dentro.
Que não pode ser preenchido.
Nunca. De forma alguma.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sobre o que se morre com o silêncio

Descobri estes dias que existe no Mali e em Burkina Fasso, dois países que ficam em algum ponto que não sei bem na África ocidental, um povo conhecido como dogom.
Cada dogom acredita ter nascido com uma quantidade determinada de palavras na barriga e, durante a vida, gasta o verbo guardado dentro com os amores, os amigos, a oposição, os irmãos e os vizinhos. Um dia, quando o estoque acaba, o sujeito morre, Os dogons são também grandes conhecedores da astronomia e do início de todas as coisas, e não deixa de ser curioso que a concepção de vida de um povo inteiro comece e do mesmo jeito termine: com o silêncio.

O silêncio, como o tempo e as dores mais profundas, ensina um bocado de coisas. Faz voltar a rir depois de meses em que nada soava engraçado, faz voltar a confiar na humanidade um tempo depois da tarde em que você olhou nos olhos de um homem e ganhou um par de mentiras em troca, faz voltar a ouvir as canções daquele disco da capa branca e só o nome do cantor assinado no meio, o barco vazio, um objeto não identificado, o marinheiro sozinho, os argonautas, a Carolina dos olhos fundos e a dor de todo este mundo, um Salvador, mil novecentos e sessenta e nove, que el mundo fué y será porque ria y alo sé, um objeto não identificado. O silêncio faz voltar no tempo.

O silêncio, como as contradições e as decepções mais duras, ensina um bocado de coisas. Refaz os planos depois das expectativas desfeitas, refaz a pose depois da queda ou da vertigem, refaz o caminho com mala, cuia, cara e coragem quando parece que é o que precisa ser feito. O silêncio, como o tempo, refaz o que precisa ser refeito, olhar, parede, crença, sentido, prazer, história, vontade, saúde, quase tudo. O silêncio, como dizia o mestre Guimarães Rosa, é a gente mesmo, demais.
Pois, para os dogons, ao que parece, o silêncio é a gente mesmo demais e muito mais.

Descendem, acredita-se, dos habitantes de um planeta que orbita ao redor da estrela Sírius e que teriam aterrissado na Terra em eras remotas, inaugurando a civilização. Transmitem suas lendas e tradições de geração em geração há milhares de anos, realizam rituais para a estrela que acreditam ser a origem de tudo. E nascem – olha que coisa – com uma quantidade determinada de palavras dentro da barriga, que acaba quando chega o dia de morrer e eles então morrem em silêncio, porque não têm absolutamente mais nada para fazer.

- Autoria desconhecida.

domingo, 30 de novembro de 2014

Cara, estranho!

Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir

- Los Hermanos, in Cara Estranho

sábado, 29 de novembro de 2014

Baby, it shouldn't come back...

Embora eu não tenha resistido ontem, não quero levar como uma recaída. Aliás, eu não posso encarar assim, ou me esfacelo. Não posso acreditar que não estou tentando - não é suportável pensar nisso.
Mas não sai, não sai da minha cabeça. A não ser nos momentos em que estive muito ocupada, não houve um segundo sequer que eu não pensasse na última sessão de terapia e em como ela desestabilizou minha semana e em como está desestabilizando a minha vida. Não que seja ruim, acho que no fundo é positivo, mas dói demais e eu não sei muito bem como lidar com isso que venho sentindo.
Há tanto tempo eu não assistia a uma aula e achava que ela era para mim, pessoalmente e não profissionalmente falando. Há muito tempo eu não ouvia uma professora falar, entendendo que falava comigo e que quando seus olhos batessem nos meus, saberia tudo, tudo o que eles estavam dizendo sem que eu quisesse, porque me delatavam e denunciavam meu crime de estar sendo frágil demais agora. "Essas linhas de ruptura são aquelas que dizem 'olha, assim não dá mais'"... Só por esses dias, só por essas semanas... Só para chorar um pouquinho e depois poder ficar tudo bem.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Estranho

Estranho, estranho, estranho.
Dia estranho, clima estranho, rostos estranhos e expressões que eu não consigo entender, nem explicar.
Não sei lidar com isso que não consigo compreender direito, com isso que não sei direito como me comportar!
É tudo claro demais, luz demais, vozes demais - e esse excesso de sobriedade me confunde.
Ahh, semana, acaba logo vai! Assim não está dando mais!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sobre se sentir perdido e outras coisas...

Ontem eu fui à minha sessão de terapia. Minha terapeuta foi bem mais direta comigo do que costuma ser. De um jeito que eu não pude entender logo de cara, e até mesmo me chatear por ser tão abrupta.
Mas ela não foi. Eu é que estava há tempo demais dizendo o mesmo sem me ouvir.
Sei que por achar que tenho estado muito bem, eu tento (e é muito mais que simples esforço!) mostrar que não há grandes percalços. Naquele lugar, tudo se repete. E qual seria o objetivo se fosse para repetir?
Mas então ela me lançou uma pergunta... Uma pergunta que me desarmou, tirou o chão, fez eu me perder entre histórias decoradas e bem escritas.
Ela perguntou se eu deixaria ela cuidar de mim.
Não me recordo de terem perguntado isto antes.
Afinal, sou eu que tenho cuidado de todo mundo o tempo todo.
E exigido auto cuidado violento e injusto. Não tenho me cuidado como preciso.
Perceber isso é que me desarma! Ao tentar ser tão forte eu me fragilizo como cristal.

Sim, minha cara, eu quero ser cuidada! Mas eu não sei fazer isso!
Preciso de ajuda para aprender a fazer isso também.
Acho que é muito tempo tentando ser "forte demais".

O que vem lá do mar...



Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz

- O Teatro Mágico, In Nosso pequeno castelo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Como macaquinhos no sótão...

Às vezes eles se agitam... Então, quando meus macaquinhos ficam agitados e falando todos ao mesmo tempo, eu peço silêncio.
Na verdade, primeiro eu grito e esperneio, desesperada! Aí eu vejo que não vai resolver, porque eles ficam ainda mais agitados!
Mas um pouco depois eu consigo baixar o tom de voz e ser gentil com eles. Assim eu mostro que também eles podem ser gentis comigo… Que nem tudo o que pensamos e dizemos a nós mesmos quando estamos zangados são palavras verdadeiras. Aí vai dando um alívio… 

Aos pouquinhos, tudo vai ficando melhor! :)

Indecisão

Vais te deixar tocar? Ou é maior o medo de te quebrar?

domingo, 23 de novembro de 2014

Velhice

O que é terrível na velhice? Não é brincadeira. É a dor e a miséria. Não é a velhice em si. O que é patético, o que torna a velhice algo triste são as pessoas pobres que não têm dinheiro para viver, nem um mínimo de saúde necessário e que sofrem. Isso é que é terrível. E não a velhice! A velhice não é um mal em si. Com dinheiro suficiente e um mínimo de saúde, é formidável. E por que é formidável? Primeiro, porque, na velhice, sabe-se que chegou lá. O que é muito! Não é um sentimento de triunfo, mas chegou lá. Chegou lá em um mundo cheio de guerras, de vírus malditos e tudo o mais. Mas conseguiu atravessar tudo isso, os vírus, as guerras e todas estas porcarias. Esta é a hora em que só há uma coisa: ser! O velho é alguém que é. Ponto final.

- Deleuze, in Abecedário.


Ê, Gilles Deleuze! Conquistando com jeitinho, hein?! :)

sábado, 22 de novembro de 2014

Nada mais

Nada que me cale mais do que minha vontade de falar. Nada que me pese mais do que posso carregar. Nada que vá além do meu possível.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Pequenas coisas, grande valor

Hoje estive pensando nas pequenas coisas de grande valor. Talvez porque tenho me sentido infinitamente pequena e de pouco valor. Nada vendo ao olhar para dentro. E então, penso ser esperado não ver nada também do lado de fora. Nada que encante muito, que dê tanto prazer, que envolva de um jeito que não sei se em algum momento houvesse tido referências.
Ei, meu bem!, deixa disso, vai?! Por que tantas lágrimas, se quando pensa em quem és e em onde chegastes só tens motivos para te orgulhar?
Quando foi que teu sorriso perdeu o encanto, que teus olhos deixaram de brilhar? Por onde ficou aquela gargalhada gostosa e o entusiasmo pelos pequenos gestos?
Como pôde deixar de se amar?
Perdestes a crença no humano e bom? Ou te achas tão ingênua que todo e qualquer gesto vêm apenas para se aproveitar?

Olha, te enganas... Não sejas injusta!
Lembra da canção?
Outro dia, ela tocou e te tocou tanto que não pôdes mais deixar de pensar...
Então esforça-te mais para acreditar!

"E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
(...)E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar"...

Nunca sozinha, nunca sem uma companhia, mesmo que ela só te observe ao longe... Em teu coração continuas a sentir que há algo que não és capaz de explicar, mas que sentes. E que, enquanto sentires, há de ficar tudo bem. O problema será quando não sentires mais... Porque aí sim, ficou tão grande, que transbordou... Sobre algo, sobre alguma coisa... E consumiu com tudo que crescia ao redor.Há tanto de simples e sincero por aí... Há tanto ainda por vir.
Dá-te um tempo. Não forces situações, respeita teu momento. Vive também isso que dói, que te assusta, que te mete medo. Que é tão intenso e tão doloroso que muitas vezes pensas não conseguir suportar. Em nível de dor, nunca te dê um dez. Quando doer muito, que seja nove. Deixa o dez para quando não puderes mais. E aí sim, e só então, entenderás que fizeste tudo o que pôde.
Que não foram mais pequenas coisas, nem pequenos gestos...

Eram maiores que você.

domingo, 9 de novembro de 2014

Sobre hoje...

Hoje eu senti a dor como há tempos achava que jamais poderia sentir. É essa dor que invade e faz a gente sentir que o mundo é um lugar ruim demais para se viver. É essa dor que diz que já passou o tempo em que você pudesse sentir que poderia fazer algo por alguém sem se ferir. Não é mais uma dor que impulsiona para alcançar algo que adiante possa dizer o quanto tê-la sentido nos fez crescer. É a dor pela dor. A dor que se apresenta, que se mostra não-racional, tão forte e tão intensa, incapaz de deixar qualquer coisa viver depois de si. Como um incêndio, que queima. Por mais que o fogo seja apagado, por mais que muitos se empenhem em não deixá-lo se alastrar, e mesmo após muito tempo depois de queimado, ainda se sente dor. E quando a dor passar, ainda será possível olhar para seus estragos e dizer que ali houve um incêndio. Que mesmo que tenham jogado água fria para apagá-lo, você não pôde sentir outra coisa que não seja um chacoalhão que te deixa aturdido, mas as marcas permanecem ali. Por um tempo úmidas em sua roupa, encharcando seus cabelos. Mais tarde, é madeira queimada, restos de fuligem.
E ainda assim, se pode dizer que há um pouco de beleza na dor. Há um certo encantamento, como se olhássemos para um cristal de vidro com a fórmula de alguma vida, com um restinho de esperança capaz de te fazer sentir que muitos passaram antes de ti, e que tantos outros haverão depois. Frágeis, por vezes dissimulados, em tantos outros casos doloridos, indigestos e preocupados.
Mas até quando dormirás se esforçando para chegar mais perto disto que entendes por felicidade? Olha teu rosto no espelho. Ei, garota, como podes ter sido tão linda e tão triste? Eu chorava por ela, mas chorava também por mim. Por tê-la deixado sozinha, sendo triste. Por tê-la enganado, não mentindo, mas omitindo tantas verdades e ao mesmo tempo tantos enganos.
Ah, minha querida, nos enganamos. De foco, de jeito, nos enganamos com gestos e com palavras. Eu, por não dizê-las nem fazê-las. Tu, por não buscá-las. Desculpe por tê-la deixado sozinha, por ter deixado de amá-la. Desculpe por fazê-la buscar sozinha seus sonhos e por até então não tê-los encontrado. Tudo isto, não nos diz nada.

domingo, 2 de novembro de 2014

Pinceladas de Amor

Esses tempos tenho pensado nisso que chamam de Amor. Peguei-me lendo algumas coisas, interpretando outras, tentando tirar minhas próprias conclusões. E não consegui. Algumas vezes, alguns meses atrás, isto até me surpreendeu; mas não agora. Não nesses tempos em que tudo me assusta, em que quase tudo me sufoca e tira o ar. Palavras de João Cabral de Melo Neto...

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
(...) O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
(...)O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte".

Mas já não come mais.
Agora fico mais esperta, ergo os olhos, empino o nariz e deixo o que ficou para trás.
Ah, Amor... Aqui, você não entra mais!

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sobre dores e o Amor

Mas quando acontecer de algo ruim atravessar sua vida, saiba que todas as pessoas tem uma história ruim. No singular e no plural. E isso não é um consolo, mas veja bem, todos têm isso e ainda existem pessoas que sorriem e fazem sorrir. Que amam e espalham amor. Ainda existe esperança enquanto existir pessoas escondidas nas esquinas da vida para te dar a mão, desejar um bom dia ou te abraçar após um dia exaustivo. Enquanto você existir na sua história, sempre vai ter escapatória. Nada é insolúvel. Não existe absolutamente nada que não valha a pena.

Transforme dor em mudança. Eu me prometi que jamais iria ver alguém sofrer o que eu sofri, pelos mesmos motivos. Prometi que tentaria mudar o mundo, não porque quero meu nome estampado em algum lugar, mas porque se todo mundo desejar mudar o mundo, é capaz que ele realmente mude.

- In Cartas para Helena.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O que digo sem querer dizer

“Publicar um texto é um jeito educado de dizer “me empresta seu peito porque a dor não está cabendo só no meu”...

- Desconhecido

Sobre novos começos

Hoje iniciei mais um processo terapêutico. Sim, como pareceu, digo isto em tom de cansaço e com uma pitadinha de descrença. Há algum tempo que eu tenho pensado sobre isto... Se realmente "há um jeito", se as coisas vão se "ajeitar" em algum momento, seja lá qual for esse meu tempo. Mas, se busco, é também porque acredito que sim, que é possível, que quero tentar um pouco mais. Que quero poder dizer que estou tentando o bastante. Chega de "ser boa em tanta coisa e nem ao menos razoável nisto". Chega de promessas não cumpridas. Este é o cumprimento de uma promessa, logo, está sendo cumprida.
Cedo para poder dizer muitas coisas e/ou chegar a qualquer conclusão, ainda que parcial. Mas, duas constatações: "não sei se é azar ou sorte, mas você é muito inteligente, então se adapta muito fácil" e "me parece que você se sente na obrigação de retribuir a seus pais o fato deles serem muito legais com você".
Minha resposta para ambas: "Puff...", um suspiro, e um olhar cansado.

domingo, 26 de outubro de 2014

Oh, night....!

Oh beautiful release
Memories seep from my veins
Let me be empty
Oh and weightless and maybe
I'll find some peace tonight
(...)

So tired of the straight line
And everywhere you turn
There's vultures and thieves at your back
And the storm keeps on twisting
You keep on building the lies
That you make up for all that you lack
It don't make no difference
Escaping one last time
It's easier to believe in this sweet madness oh
This glorious sadness that brings me to my knees.


- Sarah McIachlan, in Angel.

domingo, 19 de outubro de 2014

Partir em silêncio II

“Não sei que nome tem, mas sei explicar. É esse sentimento que chega e invade, toma conta das minhas mãos, dos meus olhos, e de tudo o que eu penso”. E ele a beijou. Naquela noite, não tiraram os casacos. Chegaram da rua, caminharam entre o vento gelado exaustos, com as mãos geladas e o sangue fervendo, pulmões queimando. Seria um inverno rigoroso, a julgar pelas primeiras noites do outono. Mas se bastavam. Ela com seus olhos verdes brilhantes, ele com as mãos quentes e com suas calosidades. Os últimos meses exigiram muito de ambos, o dinheiro era pouco, os amigos em menor quantidade ainda. “São tempos difíceis para os sonhadores”, ele dissera certa noite. Ela se recusava a acreditar, mas sentia na pele e em seus ossos. Perdera muito peso no último mês, chegavam tarde e não havia nada para o jantar. Ele sabia que ela estava partindo, mas ainda assim queria protege-la. Jurou-lhe que a amaria até o fim, mas no fundo, egoísta, acreditava que seu fim seria antes do dela e agora tinha que aceitar a escrita confusa dos exames. Ela iria partir. Partiria, se não pudessem fazer alguma coisa, e na realidade nada havia a ser feito. A não ser esperar. E assim, esperaram. Passaram-se os dias, as semanas, os meses. Quase um ano se fora e ela ia partindo com eles. O brilho de seus olhos diminuía a cada dia, assim como seu bronzeado, que não voltara com o sol de verão. Ele passava o dia trabalhando, trazia seus remédios a noite, mas ela, deitada na cama, não resistia. Ela ia, como carros que passavam apressados pela frente do apartamento. Pouco a pouco ele percebia que existia sem ela e que, sem ela, seria sua existência em breve, mas se recusava a acreditar. Sempre deixava algumas lágrimas caírem na sopa, às vezes perdia a hora sentado olhando para sua imagem no espelho do banheiro. Como ela partiria?


Durante várias horas ele se imaginava sem ela, sempre que se deitava, para dormir. Tinha medo de tocá-la e quebra-la, tão frágil estava. Às vezes acordava assustado, próximo demais do rosto dela, da boca bem delineada que suspirava baixinho. Ele via, ela também chorava antes de dormir, mas nenhum dizia uma palavra ao outro. E assim foram seus últimos dias juntos: cada vez mais silêncio, cada dia mais calados. “Não se vá”, implorava baixinho, para que ela ouvisse, ou Deus, “sei lá”. Por quantos meses juntos ele daria sua vida? E se ela ficasse, o que mudaria naquela estória? Quando aquelas horas e dias de silêncio, iriam acabar?
Mais tarde, embora não muito, ela finalmente se fora. Em uma noite quente de verão, sem casacos, sem sopa, em silêncio. Respirara fundo e o deixara com uma rosa na mão, parado em pé na porta do quarto. “Olha, depois de tanto silêncio, eu queria dizer...”.

About recovery


And she said the hardest part about recovery is when you're not so sure you want to recover.

- In InThreatment

sábado, 18 de outubro de 2014

Num bater de asas

Como não prevemos? Como foi que deixamos acontecer, pequena?
Sem que nossos olhos estivessem atentos o suficiente, suas asas cresceram e ficaram tão fortes que você levantou voo. E voou, voou, voou... Voou tanto e tão depressa e para tão longe, que te perdemos de vista.
Seus olhos pequenos e cheios de vida se perderam pelo espaço quando estávamos desavisados. E você partiu. E aqueles olhos se foram. E as asas fortes, e os sonhos pulsantes.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Se fica

E de tudo isso, o que vai ficar?
Quem vai ficar?

Dois pés no chão, algumas folhas secas, um par de olhos tristes, e um tiquinho de emoção.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Se há de ter, que seja tudo

Não há de ser nada, mas sei que a madrugada acaba quando a Lua se perder.
Não há de ser nada, mas sei que de nada tudo sobrevive, mesmo quando não se tem mais espaços para dar aconchego à tua dor.
Não há de ser nada, mas, meu bem, acaba.

Não tentes mais acertar pedras no horizonte estando à janela de teu quarto. Quantas e quantas vezes já não as arremessastes? E quantas chegaram a teu objetivo? E quantas voltaram para ti? Quantas acertaram tua janela, teu vidro, teu rosto, tua alma? Não brinques de ser deus. Olha, ele não gosta. Olha, ele não aceita. Olha!, olha para você com um pouco mais de calma, com um pouco mais de alma. Olha para ti como se pudesses ir muito mais longe, ir muito mais leve. Aliás, te disseram, não é? "Se não for leve, que a vida leve"! Pois então, deixa partir. Nunca suficientemente leve como uma pluma, nunca como uma folha seca de jasmim caindo da janela do apartamento; mas pesada como rocha, como âncora de navio desgovernado que é arremessado ao mar. Que te freia. Algo tão grande que pode te frear por caminhos donde só tu és capaz de arrancar.
Deixas-te transbordar, meu bem. Não há como oferecer nem mais, nem menos do que tens - é tua limitação enquanto humana. Então, se o copo anda meio cheio, deixas que o esvaziem de vez. Porque estás tão cheia disso que transbordou, virou um bombardeio que se transpassou e atingiu alguém. Alguma coisa. Cheia de vida, mas quebrada por dentro. Cheia de tudo, mas vazia no entorno. Cheia de lembranças, recordações. Vazia de encontros, encantos. Repleta de cantos.
Ei, não há de ser nada... Então, vamos! Acaba, encerra antes que te cobrem com juros. Mas olha, chega de mentiras, sim? Pare de esconder, que quando te escondes a encontram justamente porque estás no escuro. Te pareces com todo mundo.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Premonições

Um sonho. Assustador.
Hospitais, médicos, exames, sons, bipes, bolsas de sangue e um coração.
Parando. Parando. Parado.
No fim, nenhum som.

sábado, 4 de outubro de 2014

Semana que vem...

A primeira frase a que presto atenção no seriado que está passando na televisão da academia, as 6h30 da manhã: "there are days that begin and end bad". Aliás, a personagem devia ter dito "there are weeks that begin and end bad". Tudo péssimo.
Não é que esteja evitando falar com ninguém. Aliás, estou sim. Mas é porque estou chateada, porque estou zangada e magoada. Com ninguém de forma pessoal. Nem mesmo comigo, desta vez. Só estou triste. Só estou querendo ficar quieta e sozinha. Precisando de "um tempo", sabe? Um tempo pra mim. Para descansar e não pensar; tentar deixar um pouco de lado essa semana, que foi bem difícil. Foi pancada atrás de pancada e ninguém me deu tempo de levantar e respirar. Já havia outro soco me esperando a postos, não me deixando reagir.

Preciso desse silêncio sem perguntas, sem respostas. Preciso deixar para lá esse somatório de coisas. Para além do que falei, para além do que ouvi, para além das coisas no escritório, para além da violência que tenho visto nessa cidade e do quanto estou impressionada. Aliás, pressionada.
Mesmo que, isoladas, sejam coisas pequenininhas. Se tornam gigantes, não é? E por mais que eu grite e chore, só me vem o eco de minhas próprias palavras. Mas é só isso, só por enquanto. Só. Por enquanto.
Mas vai ficar bem, não é? Semana que vem, quando estiver de volta...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pessoas verdadeiras

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.
Você não conhece as pessoas, você conhece as partes que elas permitem que você veja.
Se tem uma coisa que eu sei nessa vida, é que algumas pessoas você só consegue amar e amar e amar, não importa o que aconteça.

- Atribuído a Caio Fernando Abreu.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

(es)Vazia

Até quando vais continuar achando que "nãos" não respeitados foram "sins"? Até quando vais achar que não pôs os limites? Que és responsável? Até quando esgotar até o último pensamento se cobrando por o que não estava em tuas mãos, como se tivesses perdido um cristal, frágil e terno, como aquele teu último sorriso?
Mas olha, olha para ti com um tiquinho mais de carinho. Perdoa-te. Não importa se é a milésima vez! Mesmo que fosse a milionésima, ainda assim devias fazê-lo. Ei, querida, tira esse peso das costas, porque ele tem sufocado também o seu coração, seus pulmões. O pulso em disparada. Em nada te acrescenta, mas em tudo te preenche. Não deixa lacunas.

domingo, 28 de setembro de 2014

Predições

Há algumas semanas dando pitadinhas... Dando pitacos do que e de como fazer. Não! NÃO QUERO, você entende? Tenho muito medo, mas estou igualmente determinada. Não quero que volte, não quero deixar crescer, não quero não poder falar sobre isto. Dizer que queria contar, só por contar, agora vejo, não era em todo verdade. Era também um contar para poder dizer que contou, e então está longe do problema, não é mesmo?
De toda forma não é totalmente saudável. Não poderia ser se tenho deixado escapar  que "vou comer porque fiz exercício". O exercício não deve condicionar-se à comida, não devem ser equiparados, porque são diferentes.
Estou sentindo, estou sentido e estou tentando me antecipar a ele. Mas, agora percebo: é sim um monstro! É gigante.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sobre desfechos incríveis

"Mas sempre haverão outros dias, outros sorrisos, outros amores" (C.F.).
Até mesmo quando o dia é péssimo.

Passo na padaria para levar um pão sírio e me empolgo com o bolo de chocolate na prateleira. Resolvo levar um pedaço. É sexta-feira, a noite vai ser longa (e eu fiz exercício pela manhã! Então, nada de culpa!). A atendente me atende (de verdade!) com o maior sorriso do mundo. Eu meio emburrada. Peço o bolo e ela pergunta: "pode pôr calda?". Sorrio e respondo que sim, "pode pôr calda". Ela passa uns dois minutos enchendo o bolo de calda de chocolate meio amargo. Eu rindo. E em sua gentileza ela me diz: "olha que sorriso mais lindo. Fica, fica feliz, senhorita, porque eu fico também". E aí eu digo... Dias péssimos podem ter um desfecho incrível!

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Rastros de esquecimento

Mas olha, você lembra das flores? Daquelas que estiveram secas, quiçá mortas. Não lembras. Não podes te lembrar, porque te foram de outras épocas. Nada daquela vida, nada daqueles amores. Tantos outros depois de ti. E como nada. Como água. Líquida, translúcida, ilimitada.
Limites o tempo. Limites, antes da última despedida. "Última?" Te foram tantas, não é? Que contas? Onde andas, enfim?
Sem mais despedidas. Esperas aí. Sentada, em tua cadeira alta de imbuia. O espaldar de veludo vermelho, como tuas unhas. Hoje, adendos de tuas mãos enrugadas. Não as alvas de outrora.
Ah, meu amor... Ah, se tivesses tido tempo... Mas "as pequenas despedidas apenas acordam em nós a consciência de que a vida é uma despedida"*.
Sem mais. Esqueço.

*Rubem Alves, in Tempus Fugiti, p. 63.

sábado, 13 de setembro de 2014

Sobre a tragédia humana

Continua, tu, drama da existência, em que a vida não volta a ser dada, tão pouco quanto o dinheiro! Por que razão nunca ninguém voltou de entre os mortos? Porque a vida não sabe cativar como a morte sabe; porque a vida não possui a mesma capacidade de persuasão que a morte. Sim, a morte persuade excelentemente; se a não contradissermos e a deixarmos falar, então convence imediatamente, de tal modo que nunca ninguém teve uma palavra para lhe objetar ou sentiu nostalgia da eloquência da vida.

 - Kieerkgaard, In A repetição, 1843/2009, p. 81.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sobre a nobreza

O general que avança sem cobiçar a fama e retrocede sem temer a desonra, cujo pensamento é apenas proteger sua terra e prestar bom serviço a seu soberano, é a joia do reino.

- Sun Tzu, A arte da guerra, p. 125.

domingo, 7 de setembro de 2014

A eles...


O mundo às vezes pode parecer um lugar hostil e sinistro, mas acreditem, existe muito mais bondade no mundo do que maldade, só precisam procurar com vontade, e o que podem parecer desventuras em série na verdade pode ser o primeiro passo de uma jornada... Temos muito orgulho de saber que não importa o que acontecer vocês três vão cuidar uns dos outros com carinho, coragem e desprendimento como sempre fizeram. E por favor meus queridos nunca se esqueçam de uma coisa: não importa onde estivermos, enquanto vocês tiverem uns aos outros terão sempre uma família, e um lar.

Seus pais que os amam.

 - Lamony Snicket, in Carta da mãe. Desventuras em Série.

Sobre perder alguém

A morte de um ente querido é uma coisa estranha. É como subir a escada para o seu quarto no escuro, e achar que tem mais um degrau…quando não tem. O seu pé afunda no ar, e acontece um momento de grande susto.

 - Lemony Snicket, in Desventuras em série.

Sobre a dor aqui dentro

Um dos maiores enigmas do mundo é a maneira como funciona a tristeza. Ficar muito triste pode ser parecido com ser queimado, não só por causa da dor descomunal, mas também porque a tristeza pode se espalhar por sua vida como a fumaça de um enorme incêndio. Você pode achar difícil enxergar alguma coisa além de sua própria tristeza, assim como a fumaça pode encobrir uma paisagem a tal ponto que tudo o que você pode enxergar é a escuridão. Você pode descobrir que as coisas felizes são maculadas pela tristeza, do mesmo modo que a fumaça de um incêndio deixa tudo com cor de carvão e cheiro de queimado. E pode descobrir também que se alguém despeja água em cima de você, você fica molhado e perturbado, porém não curado da tristeza, assim como um corpo de bombeiros pode apagar o fogo, mas não recuperar o que foi destruído.

- Lemony Snicket, in Desventuras em série.

Dando nome

Não é triste como parece que uma pessoa que teve transtorno alimentar nunca vai estar 100% curada? Tudo que nosso corpo sentiu, cada restrição, cada "esquartejamento" cria uma memória física muito forte. Podemos achar que estamos super bem, mas de repente, num lapso, vem aquela ideia errada, aquela revista dizendo "Emagreça Já" ou aquele guru que sabe a nova comida funcional que todo mundo deveria comer. Vem aquele doce que você come só pra se sentir mais feliz e depois pensa que aquilo está se transformando em gordura na sua barriga. E lá vai você se sentir pressionada por essa escravidão mental.
Eu considero a recuperação mais uma tentativa de amor-próprio (que é aceitar que esses pensamentos estão aí, e rebatê-los com atitudes positivas) do que uma verdadeira cura. Porque diariamente você precisa se fazer entender que não é preciso, não é correto, não é saudável lutar contra o seu próprio corpo. Afinal, ele é perfeito, tem tudo funcionando, e você é muito mais, muito mais, que um jeans 34...

P.s.: O texto não é meu. Mas nomeia com tamanha exatidão o que eu sinto.

sábado, 6 de setembro de 2014

Memórias de um sábado a noite

Perdi o controle!
Havia dias que ele não estava totalmente sob minhas mãos, é verdade, mas hoje foi tão, tão, tão forte, que fugiu dos meus olhos e perdi de vista por alguns instantes. O suficiente para 15 minutos de uma lasanha no microondas e eu esfregando o vaso sanitário um pouco depois. Água sanitária. Asséptico bucal. Lágrimas e dor de cabeça. Por que não engoli a água sanitária ao invés de jogar com a descarga?
Não. Eu jamais seria capaz. Eu jamais faria.
Mas não quero que isso continue. Não quero mais.
Achava que tudo mudaria com todas as minhas mudanças. De cidade, de estado, de trabalho, de pessoas. Achei que mudaria porque eu estou imensamente feliz. Achei que mudaria porque havia encontrado meu caminho. Mas não mudei, porque continuei comigo.
Os doces continuam presentes. A vontade, a culpa. O comer, cuspir. Se engolir, vomite.
Nada acabou, nada mudou.
Talvez, "recuperação" seja só mental. Seja somente assumir que sente todas essas coisas, tomá-las como suas. Mas seu corpo não ouve. Continua tudo igual aí dentro de você.

sábado, 30 de agosto de 2014

O dia em que ela largou as bonecas

Trocamos as bonecas pelo trabalho. Disto, entendo faz um tempo. E até mesmo antes de terminarmos a faculdade já sabíamos. A gente sempre agiu como "profissional". Talvez até mesmo durante o colégio, o ensino médio, quando o vestibular era a única escolha. Exata, mas incerta. Era assim e sabíamos havia algum tempo que seria. Lá no finzinho do ensino médio as coisas começaram a mudar. Eu que mudei na verdade, mas sabemos que foi apenas em partes. Foi apenas de cidade, mesmo que muitas vezes tenha parecido um outro universo. Eu escolhi as minhas, você continuou escolhendo as suas. Depois de um tempo, pouco tempo, na verdade, você já tinha muitas mais certezas que eu. Mas eu tinha a mais importante de todas: a de que nada mudaria. E neste sentido, não mudou mesmo. Continuamos amigas, continuamos quase irmãs. Nos vendo todas as férias, depois comemorando as formaturas, sempre vibrando nos seus aniversários de namoro (porque os "meus" são mais complexos). Você namorou com o Ede, e convidou ele para chamar seu. Eu me apaixonei pela ciência e só levei a sério o meu futuro profissional. Fui ainda mais longe. Não fosse isto, diria que continuei aí, sempre contigo.
Trocamos as bonecas, minha amiga. Trocamos muitos sorrisos por algumas lágrimas muitas vezes. Trocamos algumas seguranças por riscos imensos, mas nunca abismos que não fossemos capazes de ultrapassar.
E hoje o dia é todo teu. Hoje é o dia que você troca muitas coisas por uma casa, um carro, um marido e um cachorro (pegou o trocadilho né?). Meras formalidades, eu sei.
Queria estar aí, mas estou aqui. No entanto, continuo contigo. Continuo trocando as bonecas pelos livros, pelos desafios, pelo trabalho, pela profissão, pelas incertezas da vida.
Mas continuo com algumas certezas também... Além de nossa amizade, a maior certeza do mundo, de que você merece tudo isso que está acontecendo com você!
Que você é linda!
Que você brilha muito!
Que eu me orgulho de um jeito que nem sei dizer!
Parabéns pelo casamento, minha pequena! Aproveite muito essa nova fase!
Assim que estiver aí, vamos abrir um vinho para eu comemorar com vocês!
Te amo demais! Daqui até o fim do mundo! Em nome desses mais de 15 anos de amizade! <3 p="">
 - Para Kelli, com todo o amor do mundo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Anonimatos

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

- Caio Fernando Abreu. Aqueles dois, in Morangos Mofados.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tudo mudando, todo dia

Muita coisa acontecendo, muita novidade nesses últimos tempos...

Primeiro, o mestrado é lindo! Meus professores são excelentes e é muito válida a experiência de conhecer pessoalmente algumas outras pessoas que teoricamente eu lia e admirava, já que a UFF é um dos grandes nomes em termos de pesquisadores da psicologia. Meu orientador é simplesmente um arraso e um poço de compreensão. Até se solidarizou e se dispôs a me ajudar a encontrar um emprego, se propondo a falar com um amigo. Se estendeu a mão para isto, não duvido de que a estenderá em outros momentos durante nosso contato no mestrado e com relação à dissertação.

É claro que com a notícia de que não receberia bolsa de estudos eu me desesperei! Muitos e muitos perrengues, e a vontade louca de largar isso tudo e correr para o Sul... Minha mãe foi muito importante nesse meio tempo e minhas amigas lindas com quem sei que posso contar sempre também. Não me deixaram desistir, nem fraquejar na minha fé. Todos me dando o maior apoio, ajudando a manter a calma e até oferecendo dinheiro, caso eu precisasse (eu tenho pessoas maravilhosas na minha vida, cada dia com mais certeza).

Aí... De repente, vejo uma vaga para psicólogo em um dos zilhões de páginas e sites de empregos que eu virei seguidora e liguei. Ia tentar né? Logo de cara o entrevistador, que é meu chefe, já deu uma dura no telefone, mas marcamos e fui. Chegando lá, ele já avisou "minha função aqui é fazer você desistir"... Com um pé aqui e o outro lá trás, deixei a entrevista acontecer... Por duas extenuantes horas, mais uma hora de testes (personalidade, Q. I., pacote office, e proficiência em inglês) e no fim ele me diz: olha, pra mim você está aprovada. Eu só preciso falar com a minha sócia!
Eu não podia acreditar! Mas sim, deu certo! E é muito, muito, muito, mais do que eu esperava! Um trabalho muito aberto, autodidata e criativo. Tem tudo a ver comigo! E, eu que estava implorando para o gerente do Mac Donalds me dar um emprego de atendente!

Tenho pensado muito nisso... A vida é feita de escolhas, mas também de oportunidades. E eu rezei tanto nessas semanas, para Deus encaminhar tudo da melhor forma possível. Sabia que Ele não tinha me deixado voar tão alto e para longe de casa e me deixar aqui, fazer voltar... Tenho plena certeza de que Ele ouviu, a mim e tantos outros que pediram por mim. Agora, estou precisando rever meus objetivos e planos. Eu tinha certeza de que chegaria no Rio, ia me dedicar ao máximo para o mestrado, sugar o máximo possível da universidade, ir direto para o doutorado, concursos e passar na universidade para o resto da minha vida. De um dia para o outro eu perco a bolsa (que nem cheguei a ganhar, na verdade), o mestrado precisa ser coadjuvante, eu decolo para outros níveis intelectuais e profissionais, outros círculos de pessoas, ganho um salário maior do que o dos meus pais, começo a frequentar eventos de tailler com a elite carioca, sem falar nos círculos de superintendentes das maiores multinacionais brasileiras. Não tenho certeza de nada, a não ser de que isso não veio por acaso, então, vou levar a sério, me dedicar, e colher os frutos... É isso, não é? É isso que é visa, então?
Estou muito feliz! E sei que é recompensa do que tenho plantado a vida toda. Eu mereço isso.

E, como diria Helena Kolody, minha "amiga" lá do Sul, "Sem aviso/o vento vira/uma página da vida".

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Conta bem o que sinto hoje...

Amanhã, talvez
Esse vendaval faça algum sentido
Dá pra se dizer
Qualquer coisa sobre todo mundo

Por hoje é só
Vou deixar passar a ventania
Talvez amanhã
Vento, vela e velocidade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Amanhã talvez
Esse temporal saia do caminho
Dá pra escrever
O papel aceita toda qualquer coisa

Por hoje é só
Vou deixar passar a tempestade
Talvez amanhã
Água pura e toda verdade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Ali, logo ali, ali... depois da curva
Ali, logo ali
Eu vi, eu vim, venci a curva

- Pouca Vogal, in Depois da curva

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sozinha


Olhando para tudo isso, eu tenho a impressão de que o mundo todo está nas minhas mãos. Que tenho acesso a tudo que o mundo poderia oferecer para alguém. Mas eu fico triste, porque não há ninguém para partilhar esse mundo todo. Sei que estou chateada com as mil e uma coisas que vêm não dando certo desde minha chegada a Niterói. Sei também que é essa instabilidade que me fez voltar a sentir aquele sentimento estranho no peito, a voltar a ter episódios de compulsão, privação, vomitar... Sei que tudo isso se soma com o fato de estar longe de casa, com não ter garantias, não ter certezas de nada - uma completa loucura para quem sempre teve cada milímetro de sua vida sob controle.
Clarice me diz tanto quando afirma que "o que estraga a felicidade é o medo"... Porque sinto tanto, tanto medo. Medo de não conseguir, de não ser suficiente, de não ser capaz. Medo de ter que desistir pelo caminho e ficar perdida, por não saber o que pode haver além disso... Medo da vida, enfim...

sábado, 9 de agosto de 2014

Clarice, nomeando o que eu sinto hoje

Sinto agora mesmo o coração batendo desordenadamente dentro do peito. É a reivindicação porque nas últimas frases andei pensando somente à tona de mim. Então o fundo da existência se manifesta para banhar e apagar os traços do pensamento. O mar apaga os traços das ondas na areia. Oh Deus, como estou sendo feliz. O que estraga a felicidade é o medo.

 - Clarice Lispector, in Água Viva, p. 68.

Pra esses dias de viver... Mude!

Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa, mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por um tempo o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente pela praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama… depois, procure dormir em outra cama.
Assista a outros programas de tv, compre outros jornais… leia outros tipos de livros.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas
cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia, o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome um novo tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado… outra marca de sabonete, outro creme dental… tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar outro emprego, uma
nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.Experimente coisas novas.
Troque novamente. Mude de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores de que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!

(Clarice Lispector)

Medo da verdade

Às vezes, é a verdade que você tenta não enfrentar, ou a verdade que vai mudar sua vida.
Às vezes, é a verdade que está chegando há muito tempo.. ou a verdade que nunca deveria ver a luz do dia.
Algumas verdades podem não ser ouvidas como gostaríamos.
Mas elas permanecem, bem depois de serem ditas.
Mas o tipo de verdade que eu mais tenho medo, é aquela que você não percebe, que cai bem no seu colo.

- Gossip Girl

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Grande

Grande, grande, grande. Tudo ficando grande, imenso, aqui na minha frente, aqui no meu corpo, aqui nas minhas roupas. Eu, ficando grande demais para essas quatro paredes brancas. Grande e excessiva, grande e intolerável. Não cabendo mais nas roupas, não cabendo mais nessa vida. Tudo em excesso, à beira da explosão. Sentimentos que sobram, não se satisfazem nunca, jamais se completam.
Desespero.

Sem sentido

Hoje vejo como nossa sociedade está doente, tentando controlar o corpo já que os problemas a gente não controla.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sobre o que sinto e não posso pensar

Não aguento mais isso!!! _ dizemos a nós mesmos. _ Vá trabalhar que isso passa! (você já ouviu um ditado que diz que “cabeça vazia é a oficina do diabo”?)
E a voz dentro de nós não desiste: _ Vá se divertir! Ou... vá comer! Ou... FAÇA QUALQUER COISA... entre na droga da máquina de curar loucura! Faça qualquer coisa... menos ficar no meio desse horrendo lugar de não saber. Fuja do vazio! Faça!... Faça!... Faça! ...Faça!... Faça!... assim é o som da nossa máquina... como se assim, a cada ação, bombeássemos um pouco de loucura para fora de nossos assustadores poços... (será?)
Se pudéssemos ficar, e juntar as pecinhas aos poucos... Ah, se pudéssemos nos aquietar um pouco a mente, sem tantas cobranças, sem tanta tortura, sem tanto peso. Se pudéssemos conviver com a nossa angústia, um pouco que fosse, se a pegássemos no colo como pegamos a um bebezinho assustado, até que ela se acalmasse encontrando nosso peito... E se pudéssemos escutar os batimentos de nosso coração, até que aquele ritmo de vida nos acalmasse, em breve saberíamos... não há como não saber.
Se conseguíssemos transformar a cobrança rígida por respostas em uma oportunidade de descobrir algo novo, de desvendar um mistério... com aquela excitação gostosa que temos quando crianças... tudo seria mais fácil, eu sei que seria.

"A verdade é que temos medo do caos, temos medo do que não sabemos, temos medo e sentimos angústia frente à falta de respostas que tantas vezes nos assombra. Tememos o que parece ser a nossa própria loucura, tudo o que foge dos controles que aprendemos a associar à razão" (Michel Foucault).

Fora de rotina

Hoje eu chorei. E acho que não foi por medo ou qualquer outro desses sentimentos que têm envolvido minha vida nos últimos anos... Chorei e acho que foi de saudade. Veio lá no fundinho uma vontade imensa de correr para casa. Porque estou vendo os dias passarem e eles não parecem fazer sentido. Eu sei que ainda é cedo, as aulas começaram ontem e prometem ocupar muito do meu tempo, que será mínimo quando eu começar a trabalhar. Eu pensei muito na minha mãe, nos meus irmãos, no meu pai. Eu pensei muito sobre fazer as coisas mais perto deles, mais próximo de casa, para que quando der esse desespero eu possa correr para lá, para um abraço aconchegante e também para um pedido de colo.
Eu penso muito sobre o que será minha vida amanhã, com base no que está sendo agora... Ontem eu fiquei me dizendo muito, aliás, dizendo para Deus que "olha, se o Senhor está me testando, para saber até onde eu aguento, já está bom, sabe?" Eu já cheguei bem perto de até onde seria capaz de ir. Ou, as pessoas são capazes de coisas inimagináveis quando desejam muito algo. Mas eu tenho certeza, de que se Ele me permitiu chegar até aqui, é porque há de ter algo aqui para mim. Por que demora tanto, meu Deus? Por que me deixar assim por esses dias todos? Por que me fazer ficar tão forte um "eu quero voltar para casa", e essa vontade louca de ligar e dizer que estou voltando.

Hoje eu tentei voltar a levar minha vida normal. Minha alimentação, meus treinos. Comi direitinho, embora tenha vomitado ontem, ma comecei hoje disposta. Depois do café, levinho, fui à praia e corri por uma hora, voltei e fiz meu plano de flexões e abdominais, tomei banho, o lanchinho da manhã, e agora vou estudar o livro para o grupo de pesquisa. Deus, as coisas vão dar certo, não vão? O Senhor tem um lugar pra mim que eu ainda desconheço, mas que é muito melhor do que eu poderia imaginar que teria, não é?

Ajude-me a continuar confiante, ajude-me por favor.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Para dias frios

Eu tento me acalmar, mas aí, de repente, vem uma onda de tristeza muito grande, um desespero, um medo de que as coisas fiquem muito mais difíceis do que estão. De que eu não consiga um trabalho, mesmo topando trabalhar de qualquer coisa, de perder o mestrado que foi tão trabalhoso para conseguir, de ter que largar tudo porque não tenho condições de me manter aqui. Bate um desespero, sabe? É claro que bate! Estou com medo, com muito medo! Estou triste, estou chateada. Porque não é justo pessoas com condições financeiras tirarem as bolsas de quem depende delas para cursar o mestrado. E esse medo todo está virando um desespero, uma dor.

"O inverno vem chegando depressa, um frio de rachar. Na alma mesmo" (Caio Fernando Abreu).

domingo, 3 de agosto de 2014

Buscando ar

Não sei muito bem dizer o que eu sinto, mas é uma espécie de desespero. É um engasgo na garganta, um medo desesperador e intenso, quase fóbico. Eu sinto meu coração batendo muito apertado, eu sinto as lágrimas nos meus olhos o tempo todo, sempre próximas de me revelarem, de me denunciarem. Eu sinto uma vontade imensa de chorar, chorar e só chorar. Me sinto fraca, trêmula, e com muita dor em algum lugar aqui dentro que eu não consigo identificar, mas que as vezes quase me impede de respirar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Nem sempre se pode rir

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo.
Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A
mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" – ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humor?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.

Caio Fernando Abreu, in Deus é Naja.

Porqué no tiene piedad...

Às vezes eu acordo, e não sei bem onde estou. Ou agora, fico pensando nestes dias... Parece que faz tanto tempo que estou aqui e são apenas alguns poucos dias. Fico pensando em quantos dias eu fui em tal lugar e foi hoje pela manhã, ou há tanto tempo que espero um telefonema e não faz nem 12 horas.
Hoje, acho que o desespero é mais calmo, mas ainda não sei porquê estou aqui. Continuo não sabendo muito bem como algumas coisas acontecem, como escolhemos o que escolhemos, nem porquê a gente existe assim...
Perdi o sono hoje tentando compreender a existência e só ganhei uma noite de sono que provavelmente não vou recuperar amanhã.
Esse coração aqui continua batendo forte, continua apertado. Forte, mas também triste. Corajoso, mas também preocupado. Acho que é isso. São esses os sentimentos mais fortes de hoje. Depois de assistir a Cidade do Silêncio, não posso calar minha voz. Acho que preciso ser um pouco mais forte. Acho que preciso tentar mais. Acho que não é justo, nunca, deixar restos de esperança onde a vida não poupa ninguém. "Há que ser forte e belo", há que ter esperança. Até o fim.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Pra onde vai o sol...

Porque sofrer não é a solução. É melhor colocar essa  certeza na mente. Mas a dor é do tamanho de um prédio.

Uma carta para Laura

Cara Laura,

Sabe, querida, a vida de adulto não é nada fácil.
Hoje foi um dia em que eu verdadeiramente precisei ser adulta. Coloquei meus documentos e alguns currículos na bolsa e caminhei, caminhei muito, por essa cidade que eu nem conheço, mas que escolhi para viver, continuar meus estudos. E para tudo isso, eu preciso de um emprego. Quando optei pela minha profissão eu, sinceramente, não pensei sobre o quão generoso o mercado de trabalho seria comigo, ou no grau de dificuldade que seria conseguir um bom emprego. Durante a faculdade também não pensei em me adiantar e iniciar uma pós. Eu não tinha tempo nem dinheiro para colocar isso em meus planos, então um passo de cada vez, não é isso que dizem por aí?
Mas a verdade, Laura, é que a vida não permite que seja um passo por vez, respirando tranquilamente entre as pausas. Esse mundo adulto é cruel, muito diferente de como é aí neste universo paralelo em que você vive.
Logo que nascer e for criança, você verá que não te darei todos os doces ou brinquedos do mundo, que te deixarei sentir fome por mais tempo do que você gostaria, que vou precisar abandonar você de vez em quando. Que a vida vai me cobrar isto, por mais que eu não queira. Você vai chorar, mas não se engane, eu também vou. Mesmo que você não veja.

Outras vezes ainda vamos chorar, embora em tempos e momentos diferentes, por coisas diferentes. Eu vou chorar quando ver o dinheiro na minha conta ser menor que aquilo tudo que eu tenho para pagar, vou chorar enquanto não conseguir um emprego que me traga um mínimo de felicidade, vou chorar quando sentir vontade de comer alguma coisa e não querer comprar, porque preciso economizar cada centavo para inteirar o aluguel. E enquanto isto, também, choro por ter que dizer que por mais que eu queira, não é a hora para você vir. Que não é este o momento de ter ninguém aqui comigo, mas que em breve haverá um momento assim e que nele seremos felizes, sorridentes. E que choraremos juntas algumas vezes, será inevitável, mas que ainda assim nós sobreviveremos.

Com todo o amor do mundo, nestes dias solitários,

Sua futura mamãe.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A ponta do ice berg

Agora entendo porque me pesa... É porque me sinto totalmente amarrada, porque eu não consigo fazer nada, nem para um lado, nem para outro. O que é até bom, porque assim eu fico longo da vida horrível que tive o ano passado de privações, vômitos, hospitais. Queria ter uma grande ideia, um grande conselho, mas não os tenho.
O que tenho feito para lidar com isso? Respiro fundo, muito fundo, toda vez que fica forte demais a ponto de querer fazer besteira. E choro. MUITO! Não passa, mas alivia e cada vez que consigo não fazer, eu pareço um tiquinho mais forte. Quase nada, é verdade, mas é alguma coisa!

Janela

Olhar para a minha barriga no espelho.
Foi o suficiente para eu sentir tudo isso desabar de novo, porque mais uma vez eu me ouço dizer que não importa o que eu faça, nunca será o suficiente, eu nunca serei boa o bastante, que nunca serei capaz de atingir o suficiente. E então eu vejo uma vida inteira se repetir com essas poucas palavras, eu me vejo desde criança me esforçando até o limite para ser melhor do que eu era, para fazer mais do que achava que seria capaz. Mais uma vez eu me vejo correndo contra o fluxo, nadando contra uma correnteza que no final não me levaria para outro lugar que não o ponto de partida, porque a corrida era contra mim mesma.
E agora estou tentando, e estou mesmo, me esforçando muito, para esquecer tudo isso, para não pensar que sou ou não sou responsável por todas as minhas escolhas e consequências, tentando entender que nem tudo pode estar na minha alçada e que se for o caso, eu não posso fazer nada.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre terceiras ou décimas chances

Respirando muito fundo, olhando nos meus olhos na frente do espelho, eu me perguntei: podemos começar de novo?

Por quê? Só porque acho que mereço mais uma chance. Mas não sei se consigo.
Quando a gente sente que o mundo está caindo na nossa frente é porque deixamos de acreditar que tenhamos força suficiente para segurá-lo. Mas ninguém o segurará por nós.
Respirando mais fundo, hoje, eu tentei... Tentei me lembrar daquela menina que crescia feliz com a vida, com sua família, com seus amigos. E quando eu tento lembrar daquela menina sorridente que ia contente para a escola, que dançava, cantava, sem medo do que pensavam... Eu me dou uns socos em silêncio, porque sou uma idiota! Sou uma estúpida porque não percebi a tempo que o que dizia a ela era o que pensavam sobre ela, não o que ela era de fato, então se eram os outros, os outros não importavam. Não eram os outros que a seguraram quando deu seus primeiros passos, não foram os outros que comemoraram sua primeira vitória no jogo de basquete, não foram os outros que vibraram com seu bom desempenho no teatro. Não foram esses outros que seguraram e secaram suas lágrimas, suas mãos, que afagam seu cabelo e lhe tiraram sorrisos.

E mesmo agora, depois que cresceu, ela precisa estar confiante, precisa ser forte como não se imagina capaz de ser, precisa acreditar que ninguém precisa dar conta de tudo, que na realidade ninguém é capaz disto, mas que precisa se esforçar pra ser melhor consigo... Simplesmente porque merece isso.

Quando as coisas pioram, como têm sido estes últimos dias, parece ser o sinal de que o que há dentro de si não vai bem. É como se precisasse mostrar que está ferida por fora para acreditarem que está machucada por dentro. É seu grito em silêncio. Quando diz que não consegue lidar com aquilo que dói, com aquilo tudo de ruim que pensa sobre si... Não é capaz de expressar sua dor de forma "saudável", então se machuca, se humilha, para que doa mais isso que tem por fora do que está doendo por dentro. Ela não consegue acreditar, embora saiba, que é linda, por fora e por dentro.

Se não é capaz de olhar para uma menina de 8 anos e dizer que ela é horrível, por que vive dizendo isso agora? É justo dizer tanto a esta menina que não serve para nada até fazê-la acreditar que esta mentira seja verdade?

Não, não é justo.
E embora não seja nem um pouco justo, continua dizendo.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Para quando te falta coragem

Não estou me sentindo bem com isso tudo. Eu fui consultar ontem e levei os exames que fiz há alguns meses atrás, para meu médico ver. Meu hemograma deu alteração. Algo errado com meus eritrócitos. Eu ainda nem sei o resultado do exame, mas ele insistiu para que eu levasse para ele antes de viajar. Qual o possível problema? Estou mal porque sei que, seja lá o que for, sou culpada. Estou mal porque acho que se for alguma coisa horrível, foi eu quem fez, quem provocou. Mereço qualquer coisa que possa acontecer. E estou com medo. Parece que eu estou apavorada, mas não tem nada ali em frente. Simplesmente não há nada. Não há porque me desesperar, mas estou em desespero. Me sinto completamente perdida.

domingo, 20 de julho de 2014

Sobre vícios e desejos

Mas, apesar de tudo, acho que tenho sido forte. Embora os tempos difíceis, tenho encontrado forças incríveis diante das minhas dificuldades e tenho vencido. Às vezes penso mesmo que não seria capaz de tanto, mas eu fui, e já fiz, já passou, me decidi e optei pelo melhor. Não vou negar que todos os dias mil vozes gritem na minha cabeça sobre o que fazer, não fazer, comer, não comer, sobre quem ser. Mas eu consigo não somente abafá-las, mas dizer a elas que estão erradas, que não é isto que quero ser. E então, fico mais forte. Sei que não é a toa que os desafios vêm, que as tentações surgem no meu dia para me deixar para baixo. Sei que não consigo ignorar os espelhos, mesmo que desvie o olhar. Sei que não consigo me desligar do meu peso, por mais que não suba há tempos em uma balança. Sei, também, que fechar a porta do banheiro após uma refeição sempre será um risco, mas que posso ignorá-lo. Que meus "vícios não são meus desejos", que eu sou e posso ser um pouco melhor para mim. Eu posso ainda não ser capaz de não me importar totalmente, mas eu consigo tornar menos importante, e um dia eu o serei.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre amarras, correntes e desejos

Assisti a "O médico e o monstro" hoje! Já tinha lido o livro, mas sem dar a importância que dei ao filme. Por quê? A identificação do dia. Marcou muito determinado momento em que a advogada diz que quando uma pessoa comete um crime obrigada por outra ela não pode ser considerada culpada. Porque eu fiz isso hoje. Porque andei "planejando" a semana toda (ou quem sabe o mês) e hoje enfim eu o cometi. O mesmo crime das outras vezes, o mesmo ato impulsionado pelo desejo. E desta vez foi totalmente estético: eu estou ficando gorda. E não quero, não posso, ficar.
Nunca sai totalmente, nunca se vai por completo, porque a vontade de cometer esse crime permanece 24 hs por dia. Todas as vezes em que preparo uma refeição, ou quando olho minha barriga no espelho, quando me sinto "inchada". Acontece também toda vez que entro no banheiro e que sei que ali, naquele espaço vazio, eu posso cometer os meus crimes sem que ninguém os veja. Sei que ali eu posso me deixar ser essa outra pessoa que não só fica nos desejos, mas que cumpre todas as suas vontades, mesmo quando elas são perigosas, cruéis, ou temidas demais. Mas ainda assim, mesmo ali na sala escura onde tudo pode ser dito e feito, eu não faço, eu não deixo que ela se apresente e leve meu corpo, minha alma, minha vida. Eu não deixo que esses pensamentos se tornem tão grandes novamente que vão me fazer cair, despencar num abismo de olhares, silêncios e segredos. Mesmo ali eu cubro os olhos, tapo a boca, os ouvidos. Amarro minhas mãos longes de minha boca, para que nada possa ser feito. E fica só o desejo. Não-satisfeito.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Escrita, escrevi(t)a

Fica a dica do Almodóvar! ;)


sábado, 12 de julho de 2014

Sobre aquilo que sou e que começo a mostrar

Nesta semana dei duas entrevistas relatando minha história com os transtornos alimentares. Uma delas eu que me ofereci, quando uma estudante de jornalismo solicitou participantes para sua pesquisa de TCC; e a outra me procurou, uma jornalista da Revista Shape Brasil após ver meu relato no blog da Fer Fahel, o Despedida de Ana e Mia.
Faz um tempo já que contar minha história com relação a isto não tem trazido grandes emoções à tona, ou ao menos eu pareço não ficar mais tão sensível com relação a isto, então não tem problema em falar sobre nem que todo mundo que ainda não sabe fique sabendo das coisas pelas quais passei. Que não é mais segredo, isto é fato, mas também eu acho que não gostaria que de repente minha família e outras pessoas familiares queiram saber mais sobre isso, e descubram as outras coisas que aconteceram e que eu não cheguei a falar muito, principalmente o delicado estado de saúde em que cheguei. Só que é um risco que corro, já que concedi uma matéria a uma revista de circulação nacional e mês que vem minha carinha estará estampada na Shape no Brasil todo.
Por outro lado, me pergunto sobre essa nova fase da minha vida e não posso negar que me assusta um pouco o fato de que estou saindo de casa de novo, para morar "sozinha" e ser responsável em 100% pela minha vida. Será que terei maturidade suficiente para me disciplinar e fazer todas as refeições? Será que eu consigo não cair em desespero novamente por estar "meio gordinha"? Não sei... Mas estou certa de que determinada a tentar, muito fortemente, do fundo do meu coração.
Falando por telefone ontem com a jornalista da Shape, eu disse que parece que finalmente minha história começa a fazer sentido, que ter passado por todas as coisas que passei têm uma razão, uma finalidade. É bom saber que aquilo que a gente passou, e que foi tão ruim, no final das contas, pode servir para alguma coisa para um outro alguém... É edificante sentir isso!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quando nada muda, o que fica

Nada muda se as pessoas não mudam, nada se modifica se todos que controlam a situação se mantêm em igual posição. Simplesmente, nada fica diferente quando tudo que se faz é igual a sempre. Nem os sorrisos se modificam, nem os medos passam, nem as lembranças se esquecem. Tudo permanece igual quando o medo de mudar é maior que a coragem para ser e fazer diferente.

sobre planos que se fazem no presente

- O que viver no presente significa para você?
(..)
 - Apenas que ficar se prendendo e planejando é besteira - ele diz. - Se você fica se prendendo no passado, não consegue seguir em frente. Se passa muito tempo planejando o futuro, você se empurra para trás ou fica estagnada no mesmo lugar a vida toda. - Seus olhos encontraram os meus. - Viva o momento - ele diz, com se estivesse dizendo algo sério - aqui, onde tudo está certo, vá com calma e limite suas más lembranças e você chegará ao seu destino, seja qual for, muito mais rápido e com menos acidentes de percurso.

- J. A. Redmerski, in Entre o agora e o nunca, p. 77.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre o impacto das palavras

As palavras não são “inocentes”, desprovidas de um sentido ideológico. Na verdade, a palavra é a “arena” onde ocorrem os confrontos de valores sociais contraditórios e os conflitos de classe, as relações de poder e dominação; adaptação ou resistência às normas pré-estabelecidas.

- Bakhtin, in A estética da Criação.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A mola no fundo do poço

Hoje acordei meio de cara comigo. Estou de mal humor, cara amarrada, pouquíssima paciência. E aí é claro que o dia tinha tudo para dar errado! A aula na autoescola foi uma M¨%$&*! Dirigi mal pra caramba, errei um monte, esqueci os passos da baliza. Minha cabeça estava a um zilhão de anos luz de distância. Inclusive, meu instrutor disse que "quer a Talita da última aula de volta". Mas deixa isso de lado. E... Adivinha? Estou me achando horrível! meu cabelo está bagunçado, meu rosto esquisito, estou gorda, meus braços cheios demais, e etc., etc., etc. Há um livro para escrever sobre como estou ruim hoje.
E no meio desse mar de desventuras tive vontade de fazer muita besteira! Não consegui chorar o rio de lágrimas que eu tenho guardado aqui, então deu vontade: de comer uma lata de brigadeiro sozinha, tomar um litro de chocolate quente, comer um monte de porcarias; e claro, por tudo para fora depois. Mas, ao invés disto tudo, peguei um pacote de cookies integrais aberto na semana passada e dei fim nele. No final das contas foi bem mais do que eu PRECISARIA ter comido, mas longe do exagero que PODERIA ter sido. Por fim, saí no lucro: sem desespero. Certeza de que nada que uma hora de jump, mais uma boa noite de sono não deem conta! Amém!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sobre as qualidades do amor

O amor, mais tarde eu chegaria à conclusão, era tudo para todo mundo. O amor era o que fazia sofrer e parar de sofrer. O amor era mal interpretado, o amor era a fé, o amor era a promessa do agora que se tornava esperança para o futuro. O amor era um ritmo, uma ressonância, uma reverberação. O amor era estranho e tolo, era agressivo e simples, e com tantas qualidades indefiníveis que nunca poderiam ser transmitidas em palavras. O amor era ser. A mesma gravidade que me puxava sem cessar foi desafiada quando subi para algo que se tornou tudo.

 - R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 329.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Medo da verdade

Algumas vezes, já achei que a idade é inimiga da verdade.
Quando ficamos mais velhos, com o ceticismo e a amargura se acumulando em nós ao longo dos anos, perdemos a inocência infantil e, com ela, aquele dom de enxergar o coração dos homens. Olhe nos olhos deles, eu me dizia, e olhando você verá quem realmente são. Os olhos são as janelas da alma; olhe com mais atenção e verá os aspectos mais sombrios refletidos.

- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 229.

A você, que brilha

 - Você deve seguir a luz - disse.
 - Luz? Que luz?
 - Algumas pessoas têm uma luz, Joseph... como um caminho, uma razão de ser. Uma coisa dessas é rara, e quando se tem uma, deve-se segui-la.

- R. J. Elloy, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 221.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre a solidão e o isolamento

A solidão é uma droga, um narcótico; cresce nas veias, nos nervos e nos músculos; assume um direito de posse sobre seu corpo e sua mente; alimenta-se e cria sua própria exigência. A solidão e o isolamento são paredes.
Alexandra Webber veio ver o que eu escrevera naquelas paredes, e embora eu achasse que nelas não havia nenhuma porta, ela conseguiu encontrar uma.
Escolhi recuar calado e deixá-la passar.

- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p.146.

A força de um ato

"As palavras não são atos. As palavras são ditas e esquecidas assim que são pronunciadas." Ela me disse isso com toda a sinceridade, mas o que disse não era verdade. As palavras não eram esquecidas. As palavras eram lembradas, e o tempo parecia só lhes dar força. Pensamentos sinistros pareciam amadurecer e crescer com a idade, e quanto mais fossem compartilhados maior sua influência e eficácia.

 - R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 138.

domingo, 22 de junho de 2014

Coisas que aprendi com minha nutricionista


Geralmente as pessoas começam a escrever coisas assim por ordem de importância, então não vou romper com a tradição e começarei pela mais importante. No entanto, os demais itens não vão em sequência de importância, mas conforme minha memória for ditando.

Lição nº 1: a coisa mais importante. Sem dúvida, o que mais importa nesse processo todo é que eu finalmente pareço ter compreendido que baixo peso não tem correlação direta com felicidade. No meu caso, baixo peso significou muita, muita, muuuuita, infelicidade. Da mesma forma, não há “incorrelação” direta, mas na verdade o que há dentro da gente é que diz o quanto estamos satisfeitos ou não com o mundo. Nosso corpo, nossas relações, nossos investimentos e desinvestimentos são apenas consequências.

Lição nº 2: aprendi que não existem comidas boas e comidas ruins. Todas elas são necessárias de forma equilibrada. Finalmente consegui romper com minha listinha de “alimentos proibidos” e como de tudo – no momento, frequência e quantidades necessários à manutenção saudável do meu organismo.

Lição nº 3: aprendi a ouvir as necessidades do meu corpo. Embora por muitos anos eu tenha negligenciado os pedidos do meu corpo acerca de suas necessidades, finalmente ele voltou a falar e solicitar quando precisa de doce, salgado, quando tem sede ou precisa dormir. Hoje consigo ouvi-lo e respeita-lo, estando consciente de que posso fazer escolhas saudáveis sem ser leviana com meu corpo.

Lição nº 4: mais é sempre menos. Excessos só me levaram a perder: menos saúde, menos autoestima, menos disposição. Hoje consigo compreender qual a necessidade e limite de meu corpo para praticar exercícios, comer, descansar. Agora sei que posso ponderar e maximizar os resultados de meus treinos, de minha alimentação e da minha rotina de forma geral.

Lição nº 5: no dia em que compreendi que eu poderia comer qualquer coisa, consegui ficar consciente de que todo e qualquer alimento estaria disponível a hora que quisesse e então a compulsão pôde ser deixada para trás, assim como os períodos de privação.

Lição nº 6: pesar menos não significa necessariamente emagrecer. Percentis de gordura e peso corporal são determinados não só pelas calorias que ingiro, mas também pelo tipo de alimento (se retém líquido, se é mais líquido, se meu intestino funciona direitinho, se estou vestida quando me peso, etc.), logo, meu desespero ao subir em uma balança não é somente por aquilo que como, mas também por aquilo que continua em meu organismo, mas que não é gordura.

Lição nº 7: se eu não tenho controle sobre a imagem que faço de mim mesma, devo ser cautelosa quanto a medidas que não dão a extensão exata de quem eu sou. Logo, abolir balanças, fitas métricas e contagens de calorias, no meu caso, foi uma medida cautelosa e prudente.

Lição nº 8: meu peso não determina quem eu sou. E só hoje eu consigo perceber que independente da minha forma corporal, NUNCA ninguém me amou mais ou menos por aquilo que minha imagem mostrava ser. Ao contrário, eu pesar menos do que um ano atrás não me garantiu as coisas que conquistei – minha dedicação para conquista-las sim.

Lição nº 9: há um peso saudável para a manutenção equilibrada do meu organismo. Ao longo dos últimos 6 anos, período em que constantemente recorri aos transtornos alimentares, tenho observado que há um peso para o qual eu sempre volto. Este é o peso que me permite fazer as coisas que eu gosto e me mantém saudável. Talvez seja este o peso que meu corpo pede para estar e, embora ele seja maior do que eu gostaria de pesar, garante minha nutrição e qualidade de vida.

Lição nº 10: descobri que pessoas que fazem dieta não querem ficar magras, elas querem emagrecer. E quanto mais emagrecerem, maior será a meta sob a qual se colocarão. No final das contas, vão descobrir que quando perdem muito peso, como foi meu caso, mais próximas estarão de serem uma pessoa menor, mas com problemas maiores.

Lição nº 11: quando alguém gasta mais tempo pensando em saúde, do que sorrindo, ele está com sérios problemas. Eu estive. Tive compulsão, pré-obesidade, bulimia, anorexia. Nunca nenhuma dessas coisas me fizeram feliz. E mesmo quando eu recebia elogios sobre meu corpo e “boa forma”, eu só tinha vontade de chorar. No fim das contas, o que eu queria mesmo era ajuda. Mais ajuda.


Essas são apenas algumas das lições que aprendi ao longo da minha “terapia nutricional”. Talvez minha nutricionista nem saiba que fez tudo isto, e talvez, se eu disser a ela, me diga que não fez. Talvez ela tenha razão: não foi ela quem fez isto tudo acontecer, mas sem nenhuma dúvida esteve presente neste caminho todo, me dando força, acreditando em mim, segurando minha mão.

sábado, 21 de junho de 2014

Vida que vai e vem

E os dias de que me lembro são dias idos. Escoaram silenciosamente para um passado indistinto. Não só idos, mas também esquecidos. São dias que, acho, não tornaremos a ver. Não aqui, não em Augusta Falls, nem em lugar nenhum. Tudo inundado do delírio animado da celebração espontânea, uma celebração sem outro motivo se não estar vivo. E o som de algo familiar, mas distante - um jogo de beisebol no rádio, o barulho das tampinhas verdes de Coca-Cola sendo abertas - e de repente o passado está aí. Em tecnocolor e com sistema de som que faz vibrar as cadeiras. Então, um silêncio bem vindo após um barulho sem fim.

- R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 35.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sobre a brevidade da existência

Uma vida para segurar, ou para ver escorrer pela palma de mãos indiferentes e desatentas, mas sempre uma vida. E quando uma nos é dada, desejamos ter duas, ou três, ou mais, esquecendo-nos com a maior facilidade da que tivemos e gastamos sem critério. O tempo corre reto como uma linha de pesca auspiciosa, as semanas formando meses, formando anos; mas, com esse tempo todo, um instante de dúvida, e lá se vai o prêmio.

 - R. J. Ellory, in Uma crença silenciosa em anjos, p. 14.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Questionamentos

Ainda que furtivamente e em vão, me pergunto por que não? E nesse perguntar, me questiono também o por quê destes sins, o por quê dessas buscas, das insistências, dos amanheceres. Se  de todo galho brotam as folhas, também a vida é ramificação de outra vida, mais rígida, mais entroncada e dura, todo começo como uma chegada e uma partida. E no fim, quem se foi deixou este lado da linha para expandir por outro, chegou a um rio de águas turvas, embora cristalinas, um rio que vai, vai, vai, e que diz adeus, por enquanto.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A palavra e a loucura

Só que a aventura da linguagem não dá para compartilhar. É emocionante, mas solitária. Deixar que as palavras acorram e socorram, evitar que traiam e se retraiam, nada disso dá para explicar e dividir enquanto processo. é luta íntima e alegria aconchegada. No máximo, a gente mostra o resultado. Um único resultado. O que ficou Mas a dança das escolhas, as tentações simultâneas, o sonho dos possíveis, tudo isso é definitivamente eliminado de qualquer partilha generosa com o outro. Dor sem alívio, prazer individual. e vergonha secreta.

- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 126-7.

Aquilo que não se pode dizer

Mas eu não queria discutir essas coisas, são transformações muito pessoais, um processo íntimo que estou vivendo e não quero trazer à consciência para não estragar o que ele possa vir me dar em termos de escrita. Vanda foi notável. Respeitou minhas evasivas, aceitou meus silêncios. Limita-se a estar por perto, sempre atenta, brilho amarelo de lua nascente no olhar, ao alcance de um chamado. Pairando no alto, inocente pipa à espera de que eu recolha a linha.

Sei que é muito difícil que ela me entenda. de verdade, nem eu entendo, apenas constato e vivo. quando tento analisar, vejo que foi uma mudança muito radical e profunda. E, no momento, não dá pra compreender. Ainda mais alguém de fora. Não vai conseguir mesmo.

- Ana Maria Machado, in Aos quatro ventos, p. 125.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Toc toc aqui dentro

Mas então fala, coração
Não fica aí batendo desse jeito.
Nem quieto demais, nem eufórico demais.
Não fica parado no meu peito
como se reprovasse o que eu penso.
Não fica contando as horas
porque o tempo não passa por contas.
Não fica dizendo o quanto demora
eu estou sem relógio no momento.

Mas olha,
bate, bate mais um pouco
um pouco mais
só para eu ter certeza
de que o nome disso é Paz.

sábado, 7 de junho de 2014

Sobre o dia de hoje

Hoje descobri que a vida é uma delícia.



E que eu vivo de dieta!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Como é quando não se sabe como ser

O primeiro impulso não foi teu. Vai e exita. Para, pensa, sabe que não é bom. O impulso vem de novo, involuntário. Você não resiste. Puxa a tampa, cospe. Só isso. Fecha a tampa, mas ele volta. E aí você não resiste. Volta e força. Força tudo, até o fim. A garganta irrita, os olhos ficam vermelhos, a coriza no nariz, os gargarejos. Desta vez não foi necessário mentir. Ninguém por perto, ninguém na cozinha, ninguém na lavanderia, ninguém. Só você. Você, seus pensamentos, suas ações. Culpa? Não. Satisfação? Também não. Você não sente nada, talvez um pouco de vergonha, mas só talvez. Evita olhar nos olhos, vai para o quarto, e lá se fecha com seus sentimentos e seus medos, com as angústias e (talvez) uma noite de pesadelos. Fim.

(In)Sensatez

Não posso dizer que esteja deprimida, mas acho que ando bastante pensativa com essas coisas todas acontecendo... São muitas novidades, sim, inúmeras mudanças: de casa, de pessoas, partidas e chegadas, expectativas sobre meu futuro e um tiquinho de esperança também. Lembrei de uma conversa com uma amiga uns tempos atrás... “Eu tenho esperança, esperança do verbo esperar”. E então percebo que ainda espero. Espero que dê certo, espero que seja o momento, espero que seja a minha vez. Espero, mas não sei se é e não sei também como é lidar com o des-espero. De não esperar mais, não de se desesperar. “A lama e o lamento não se revelam”, enfim. “E ela ainda é tão só”...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sobre transtornos alimentares

http://www.youtube.com/watch?v=EiU-6GyXKGs

Sobre a dualidade humana

E aconteceu que o sentido de meus estudos científicos, que me conduziam à mística e às coisas transcendentes, suscitou e derramou imensa claridade nesse caráter de guerra permanente entre o bem e o mal em que me debatia. Em cada dia, as duas partes da minha inteligência, a moral e a intelectual, atraíam-se mais e mais para essa verdade, cuja descoberta parcial fora em mim condenada a tão pavoroso naufrágio: que o homem não é realmente uno, mas duplo.

 - Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 98.

Vasculhando o passado

O advogado voltou para casa de coração pesado. "Pobre Henry Jekyll", pensava, "tenho o pressentimento de que está em maus lençóis! Quando jovem era estouvado. Certamente já se passaram muitos anos mas na lei de Cristo não há prescrição. sim, deve ser isso: o fantasma de algum antigo pecado, o câncer de alguma desgraça oculta; o castigo chega, pede claudo, anos depois de a memória ter esquecido e quando o amor próprio perdoou a ofensa". E Utterson, horrorizado com esse pensamento, começou a esquadrinhar o próprio passado vasculhando todos os cantos de memória, com medo de que algum pecado antigo surgisse de repente, exigindo expiação.

- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 32.

Sobre ser o outro

- Custa-me muito fazer perguntas; é uma coisa que cheira a Juízo Final. Lança-se uma, e é o mesmo que arremessar uma pedra. Senta-se alguém, tranquilo, no alto de uma colina; e a pedra desprende-se, arrastando outras, e então algum pobre coitado, que estava tranquilamente descansando em seu jardim, é atingido na cabeça, e a família tem que fazer o enterro. Não, senhor; é uma regra que eu sigo: quanto mais vejo os outros em situações difíceis, menos perguntas faço.

- Robert Louis Stevenson, in O médico e o monstro, p. 20.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Sobre a efemeridade humana

Admirei sempre os vulcões humanos. Aparecem por coincidência e sabem dos seus estragos. Fazem do nada a beleza e fingem que não se abalam são como meteoros - trazem caudas de estrelas.

- Marieta Campiglia.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Quando algo vai mal...

"Aprendi a encarar como um elogio a beleza “exótica” que me endereçavam e até a me orgulhar das pernocas grossas que eu sempre tive. A máxima de qualquer tratamento deste tipo: um dia de cada vez. Nunca estaremos livres. Eu tive ajuda. Outras garotas não têm.O que elas têm são centenas, milhares de polegares estendidos positivamente em sua direção dizendo apenas umas coisa: continua assim. Você está linda." - Amanda Minotti, in http://www.diariodocentrodomundo.com.br/anorexia-e-morte-no-instagram/

Sobre a decisão de dar o próximo passo

E se tens sido tu a tua própria luz no horizonte, mantenha-se firme na caminhada.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Fugir do ciclo!

Anorexia e Bulimia podem até ter parecido como uma solução fácil de primeira, mas as "soluções" só causaram desespero mais profundo, autoaversão e vício. A cultura e sua ideia de perfeição estabeleceram um padrão inatingível para a maioria, ao mesmo tempo sussurrando: "Se você não estiver satisfeito, faça alguma coisa sobre isso". Apesar do desejo de mudança não ser intrinsecamente errado, concentrar-se inteiramente na imagem corporal pode levar à obsessão. Distúrbios alimentares como Anorexia e Bulimia oferecem uma falsa sensação de controle, causando um ciclo de doença que rouba a sua auto-estima, perturba a sua vida quotidiana e afeta a sua saúde, às vezes a ponto de causar a morte. Apenas ao fugir dessa armadilha e ao descobrir a beleza interior é que você pode encontrar contentamento verdadeiro.

Sobre o silêncio dos corpos

E a minha paixão, aquilo que tenho e que me move, fez com que eu experimentasse um silêncio enorme, enorme...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Passando

E então as nuvens passam, embora a chuva. Os carros passam, embora o tráfego. Os barcos passam, embora as tormentas. As adversidades passam, embora o sofrimento.

Sobre a vida que vem

Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser; um objetivo. Nós como seres humanos, temos uma só lição na vida: seguir em frente e ter a certeza de que apesar de as vezes estar no escuro, o sol vai voltar a brilhar.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Com o passar dos dias

Posso escrever e não dissimular
É o que eu ganho por estar mais velho
Não tenho nada para impressionar
Nem por fora nem por dentro
E a noite inteira eu vou cruzando o mar
Porque os sonhos voam com o vento
Na minha janela é ele a soprar
Só pra ver se estou desperto
Me perdi num truque de palavras
Me anotaram mal a direção
Já escrevi meu nome numa bala
Já provei a carne de cação
E eu já tenho tudo planejado
E alguém diz que não, não, não, não, não
Agora o vento sopra pro outro lado
Me leva pela mão
E há quem diga não, não, não

E o que me levará ao final
Serão meus passos no caminho
Não vê que só se está atrás
Quando persegue seu destino
Sempre na minha mão tem um punhal
Nunca é o que era pra ter sido
Não é porque digo a verdade
E sim por nunca ter mentido

E eu não vou me sentir mal
Se algo não me sair bem
Aprendi a derrapar
E a me chocar contra esse chão
Que a vida simplesmente vai
Como a fumaça desse trem
Como um beijo e nada mais
Antes que você conte até dez
E eu não voltarei a ser estranho
A quem não chegara me conhecer
Também não vou dizer que eu te amo
Tão pouco deixarei de te querer
Deixei de voar e me afundei
No meio dessa lama eu encontrei
Algo de calor sem teus abraços
Agora eu sei que nunca voltarei

- In Antes de você contar até dez, Vespas Mandarinas. http://www.vagalume.com.br/vespas-mandarinas/antes-que-voce-conte-ate-dez.html#ixzz31XDyNrqX

Tarefa de terapia


Quando ela perguntou o que eu via, era isso que via.



Que comer era, de fato, um transtorno.

Excetos - da minha agenda linda!

Pegou as chaves do carro
No bar da estrada comeu planos
No banheiro deixou
o rosto no espelho
Acelerava partidas
Rodava sonhos
Se foi com o vento
 - Marisete Zanon
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Primeiro o ferro marca
a violência nas costas
depois o ferro alisa
a vergonha nos cabelos
Na verdade o que se precisa
é jogar o ferro fora
e quebrar todos os elos
dessa corrente de desesperos
 - Cuti
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Ou se vive por inteiro
ou pela metade a gente
escreve a vida
que não viveu.
 - Moacyr Félix

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Para existir basta abandonar-se ao ser
mas para viver
é preciso ser alguém
é preciso ter um OSSO,
é preciso não ter medo de mostrar o osso
e arriscar-se a perder a carne.
 - António Arnaut

Por aquilo que você não desistiu

"Mas é que eu fico chateada", aliás, decepcionada, comigo mesma. Decepcionada por ser tão boa em tanta coisa e não conseguir ser nem razoável nisto. Por não ser capaz de fazer do jeito que todo mundo faz, por achar que não estou tentando o bastante. Por saber que ainda há muito para tentar, para fazer, para falar.